Consumo de cerveja cresce em agosto e melhora perspectiva para Ambev no segundo semestre
Para analistas, fabricante pode iniciar recuperação de margens conforme consumo cresce com expectativa da Copa do Mundo e ambiente de preços fica mais positivo
Raquel Brandão
Publicado em 5 de outubro de 2022 às 12h52.
Última atualização em 6 de outubro de 2022 às 13h02.
Não tem água no chope: o consumo de cerveja continua crescendo. Com injeções de dinheiro na economia em meio ao período eleitoral e Copa do Mundo se aproximando, a indicação é de um segundo semestre bem mais otimista para as fabricantes, como Ambev (ABEV3) e Heineken , que juntas respondem por cerca de 80% do mercado. Para a dona de Brahma, Skol e Antarctica, os indicadores podem significar novo crescimento de volume e, finalmente, iniciar movimento de recuperação de margem, segundo analistas.
Crescimento na produção de bebida alcoólica supera 2021
Os dados de produção de bebidas alcoólicas no Brasil em agosto indicam crescimento de 1,7% na comparação anual. Em julho, o avanço ante o mesmo mês de 2021 tinha sido de 5,3%.
A produção de bebidas alcoólicas ajuda a entender a direção do consumo de cerveja porque a bebida responde por cerca de 90% do que a indústria nacional produz. A produção também foi 7,2% maior do que a de agosto de 2019.
No copo, na Copa do Mundo
Segundo os analistas do Credit Suisse, o avanço de 1,7% de agosto aumenta a possibilidade de um terceiro trimestre positivo e um segundo semestre ainda mais forte com estímulos governamentais no período eleitoral e Copa do Mundo - que, nesta edição, acontece em novembro. Só a Copa do Mundo, historicamente costuma impulsionar o volume de venda de cerveja em 2,4 pontos percentuais. A expectativa da equipe do banco é de que no terceiro trimestre a produção seja 3,4% superior a do mesmo período do ano passado.
O menor ímpeto no crescimento em agosto pode ser explicado, segundo os analistas, pelos aumentos de preço e a temperatura mais baixa. Mas ainda enxergam um ambiente de preços mais favorável, na tentativa das companhias de compensar os custos mais elevados. Para eles, a projeção é de que a maior fabricante, Ambev, tenha um crescimento de 10% em preço e mix de produtos no ano, dado o aumento da participação do canal on trade (bares e restaurantes) e da contínua demanda por rótulos mais premium. Já a Heineken, a segunda maior em produção no país, deve ter um crescimento acima de 20% em preço e mix de portfólio. O Credit Suisse tem recomendação de compra para as ações da Ambev com preço-alvo de R$ 18.
Já a equipe do Itaú BBA diz que forte capilaridade de distribuição da Ambev deve beneficiar a empresa no curto prazo com a perspectiva da Copa do Mundo e com a chegada do verão, em dezembro, mesmo com as restrições impostas pelo Cade (Conselho Administrativo de Defesa Econômica) nos contratos de exclusividade. "A empresa parece ter ganhado muito terreno às custas de Petrópolis recentemente, e parece que mais está por vir – nossa impressão é que a empresa teve um bom desempenho na frente de gestão de receita, apoiando seu impulso de receita tanto no terceiro trimestre quanto no quarto."
No curto prazo, porém, veem sinal amarelo conforme a Heineken parece ter avançado em mais velocidade no segundo trimestre. A holandesa cresceu cerca de 10% em volume de abril a junho enquanto a Ambev cresceu 8,5%.
O banco resolveu manter a recomendação neutra, também com preço-alvo de R$ 18 já projetado para 2023. Eles acreditem que a empresa finalmente se aproxima da melhora de margem em seu negócio de cerveja no Brasil (no primeiro semestre, a margem bruta da divisão ficou em 46,8%, ainda 2,8 pontos percentuais abaixo do mesmo perído de 2021), o que deve impulsionar a ação. Mas acreditam que o papel não está uma "pechincha", já que negocia a um múltiplo de 19x preço/ lucro estimado para 2023. "Precisamos ter uma noção mais firme da tendência de expansão de margem da empresa antes de podermos nos tornar mais assertivos nesta tese de investimento", escrevem.
Aumento de margem bruta da Ambev
O potencial de aumento da margem bruta da Ambev, é algo bastante esperado pelo mercado, que ainda tem certa dificuldade em entender qual a perspectiva de retorno dos investimentos em tecnologia que a empresa tem feito nos últimos anos. Fontes ouvidas pela Exame Invest avaliam positivamente os avanços nas frentes digitais, como as plataformas Zé Delivery e BEES, mas esperam melhora operacional para que a rentabilidade da empresa fique mais atrativa para investimento.
Em seu relatório desta quarta-feira, 5, os analistas do Itaú BBA esperam que o aumento de preço total ao longo desse segundo semestre de 2022 sustente um aumento de receita em termos reais de 3% em 2023. Também acreditam que o custo por hectolitro (100 litros), com base na cesta de commodities da Ambev, tenha um avanço de 7% na base anual, que é um crescimento bem abaixo do que se vinha registrando nos últimos anos (em 2022, a projeção da empresa gira entre 16% e 19%). O banco também vê os preços mais baixos do petróleo aliviando as despesas gerais, de vendas e administrativas, o que deve diluir em 1,4 ponto percentual seu impacto na receita líquida em 2023.
Diante dessas projeções, o Itaú BBA revisou suas estimativas para o lucro antes de juros, impostos, depreciação e amortização ( Ebitda, na sigla em inglês) da divisão de Cerveja Brasil para 2023 e 2024 em 15% e 10%, respectivamente. No primeiro semestre deste ano, o Ebitda da divisão ficou em R$ 4,94 bilhões, 11% a mais organicamente do no mesmo período de 2021.
Até o início da tarde desta quarta-feira, 5, a ação da Ambev (ABEV3) era negociada a R$15,99 , um recuo de 1,54%, mas acumulava alta de 4,31% no ano.