Colapso da Terra (UST) e do Tether: as stablecoins assustam os mercados
No olho do furacão estão a criptomoeda Terra (UST) e seu token associado, Luna, cujo valor se pulverizou.
Carlo Cauti
Publicado em 13 de maio de 2022 às 18h55.
Última atualização em 14 de maio de 2022 às 13h39.
Parece irônico, mas o terremoto que sacudiu o mundo das criptomoedas foi provocado pelas chamadas "stablecoin".
Ou seja, pelas criptomoedas que deveriam ser "estáveis", projetadas para se manterem protegidas da hipervolatilidade que caracteriza o setor.
No olho do furacão foram a criptomoeda Terra (UST) e seu token associado, Luna, cujo valor praticamente foi pulverizado.
Nos últimos quatro dias, a criptomoeda perdeu quase a totalidade do seu valor de mercado.
O ativo já chegou a custar cerca de US$ 120 em sua máxima histórica, mas agora está negociado a zero.
Mas nos últimos dias também o Tether, a terceira criptomoeda por capitalização de mercado depois de Bitcoin (BTC) e Ether, caiu abaixo da paridade com o dólar.
E o efeito dessa queda foi sentido por todo o mercado de criptoativos, mas principalmente pelo Bitcoin.
Mas o que aconteceu com essas stablecoins?
E como essa queda colocou o Bitcoin em apuros?
O que são stablecoins
Os stabilecoins são ativos digitais projetados para ter um preço o mais estável possível, ao contrário de outras criptomoedas tradicionalmente caracterizadas por uma volatilidade muito elevada.
Ou seja, grandes e repentinas mudanças de preço para baixo ou para cima.
Normalmente, os stablecoin permanecem ancorados ao valor de moedas tradicionais.
Por exemplo, uma unidade de stablecoin acaba sendo igual ao valor de um dólar.
No caso do Tether, a maior stablecoin em circulação, cada emissão deve ser lastreada por garantias em moeda real.
Isso significa que para cada Tether deve haver um dólar como garantia.
No entanto, nem todas as stablecoins possuem esse mecanismo de ancoragem.
Terra em colapso
É o caso, por exemplo, da Terra, a stablecoin que entrou em colapso nos últimos dias.
Neste caso trata-se de uma stablecoin algorítmica não colateralizada.
Ou seja, sem reserva de moeda, e cuja estabilidade é assegurada por um algoritmo que aumenta ou diminui a quantidade de criptoativos (tanto da criptomoeda Terra quanto do token Luna) em função da estabilização de preços, na base das demandas do mercado.
Na prática, quando a demanda de Terra aumenta, um token Luna é "destruído" para garantir a estabilidade da cotação.
Cunhe e queime
Esse mecanismo é chamado mint and burn (cunhar e queimar) e pode ser resumido da seguinte forma.
Qualquer pessoa pode “queimar” um dólar de valor do Luna e obter, ao cunha-lo, um UST.
Obviamente, esta operação é lucrativa quando o preço de um UST é superior ao dólar.
A operação pode ser repetida no sentido inverso quando o preço cai abaixo da paridade.
Pode ser vantajoso queimar um UST para cunhar um dólar da Luna e lucrar com a diferença de preço (compro por menos de um dólar e vendo por um).
O resultado é que neste caso a demanda aumenta e seu preço também, até atingir o equilíbrio em um dólar, quando a compra de UST não é mais conveniente.
O que importa é que esse mecanismo foi desenhado para que pudesse de fato auto-regular o preço do UST, sempre alinhando-o pela paridade.
Porque a queda também afetou o Bitcoin
Esse mecanismo de autorregulação funcionou até que houve uma venda massiva de Terra.
Isso forçou a Luna Foundation Guard a vender massivamente suas reservas de Bitcoin tentando trazer a UST de volta à paridade do dólar.
Mas o pânico e as venda maciças se mostraram mais fortes do que qualquer defesa, e o mecanismo de controle do algoritmo foi destruído.
Pulverizando o valor de UST e Luna e causando uma onda de desconfiança e um forte abalo também no Bitcoin, que só hoje recuperou parte do terreno perdido na última semana.
Uma movimentação que acabou lançando um alerta sobre a vulnerabilidade da galáxia dos criptoativos.