ClearSale: foco em oportunidades com maior margem (ClearSale/Divulgação)
Repórter Exame IN
Publicado em 25 de março de 2024 às 18h17.
Última atualização em 25 de março de 2024 às 18h42.
A ClearSale enfrenta dificuldades para crescer desde a abertura de capital, em 2021. O IPO veio, no fim das contas, em um período amargo, de desaceleração no varejo — e principalmente no e-commerce, core business da empresa conhecida por suas soluções antifraude. Em 2023, o cenário do setor não trouxe muito alívio, e a companhia focou em minimizar perdas (leia-se: cortar custos).
Com uma estrutura mais ágil e eficiente, a ClearSale compensou a falta de crescimento com menos gastos e viu os efeitos chegarem à última linha do balanço: reduziu o prejuízo na comparação com 2022. No balanço divulgado nesta segunda-feira, a companhia mostrou um prejuízo 32% menor do que o de 2022, de R$ 14,4 milhões.
No ano, a receita consolidada ficou praticamente estável (com queda de 1,1% em comparação com 2022), somando R$ 504,1 milhões.
Esmiuçando o número, a maior parte do faturamento veio, como de costume, da vertical Transacional Brasil e-commerce, nome interno para soluções antifraude do e-commerce brasileiro. Sozinha, essa divisão registrou R$ 310 milhões, patamar estável em relação ao mesmo período do ano passado. Outras linhas de faturamento são soluções antifraude para serviços financeiros e vendas diretas (application fraud), de R$ 122 milhões e Transacional Internacional (mesmo racional do Brasil, focado em varejo, mas fora do país) com R$ 71,9 milhões, aumento de 8,4%.
No caminho para driblar as dificuldades do varejo em 2024, a companhia afirma que vai focar em três estratégias para crescer: novos segmentos (delivery, ingressos/tíquetes e varejo middle na América Latina), crédito e mercados financeiros (score de dados, score de crédito, biometria, validação de documentos) e Pix.
“Estamos reduzindo a dependência de grandes clientes, principalmente marketplaces de entrega física, por meio do reposicionamento de nossas soluções, buscando maior margem em detrimento de receita ”, diz Eduardo Mônaco, CEO da ClearSale.
Enquanto o crescimento de receita não vem, a companhia foca em controlar o que está ao seu alcance e voltar à lucratividade. Em 2022, a ClearSale implementou o “Plano de Equilíbrio”, que, na prática, reduziu o ritmo de expansão para preservar margens na companhia. Em 2023, o plano continuou, acompanhado por uma infraestrutura mais ágil e eficiente (investimentos para automatizar a checagem de fraudes e minimizar a necessidade de intervenção humana). Além, é claro, de demissões de um número significativo de pessoas. No ano, os custos recorrentes ex-PLR ficaram 8,4% menores e as despesas recorrentes diminuíram 13,5%.
Como resultado, o Ebitda cresceu na comparação anual, saindo do negativo em R$ 32,8 milhões para o azul em R$ 18 milhões. No período, a companhia também ganhou margem Ebitda, no resultado consolidado, chegando a 3,6%, um avanço de 10,3 pontos percentuais.
No ano, a companhia registrou um consumo de caixa de 18,9% na comparação com o fim de 2022, fechando 2023 com R$ 388,8 milhões. Diante de uma dívida de cerca de R$ 35 milhões, a ClearSale preservou o status de caixa líquido em R$ 353 milhões. Questionado, o CEO não aponta quando a empresa deve voltar ao patamar de geração de caixa. “Entramos em 2024 focados no controle de caixa, ao mesmo tempo que transformamos o negócio para ser gerador de caixa”, diz Mônaco.
Por enquanto, a sensação do mercado é de que a ClearSale tem grandes desafios à frente. No mês passado, um relatório do Santander rebaixou a companhia de “compra” para “neutro” e estabeleceu um preço-alvo menor, de R$ 3,50 — próximo ao patamar que as ações negociam hoje.
“Para nós, 2024 deve ser melhor do que 2023, mas não o suficiente para sustentar uma visão positiva”, escreveram.