Vale: história menos poluída e até mesmo 'chata' — o que é bom para a empresa (Tomaz Silva/Agência Brasil)
Redação Exame
Publicado em 3 de dezembro de 2025 às 09h49.
A mineradora Vale está entrando em uma nova fase, marcada por maior previsibilidade, disciplina de capital e um foco acentuado no retorno aos acionistas. Essa é a principal conclusão do relatório divulgado pelo BTG Pactual (do mesmo grupo de controle da EXAME) após o "Vale Day", o tradicional encontro da companhia com investidores e analistas, onde a gestão apresentou suas perspectivas e atualizou o guidance para os próximos anos, com destaque para 2026.
Os analistas avaliaram a postura da mineradora como "limpa e construtiva", distanciando-se das "altas emoções de anos anteriores". O BTG vê com bons olhos a transformação da empresa em uma "história mais simples, mais limpa e talvez mais ‘chata’", algo que, no contexto de uma mineradora global, é encarado como um sinal positivo de estabilidade operacional e foco estratégico.
No centro da mensagem da Vale, a estratégia comercial para o minério de ferro permanece otimista. A companhia reiterou que os fundamentos de longo prazo para a produção global de aço bruto continuam fortes, impulsionados pela China e pela depleção (esgotamento) das minas concorrentes. A Vale prevê que o impacto do projeto Simandou, na Guiné, será absorvido pelo mercado de minério de ferro até 2026.
A expectativa da Vale para o preço do minério é significativamente mais elevada do que o consenso do mercado. A gestão da mineradora sinaliza um forte suporte estrutural em torno de US$ 100 por tonelada, valor consideravelmente superior à média da estimativas, que tem girado em torno de US$ 85 por tonelada. Essa visão bullish sustenta a confiança da empresa em suas projeções financeiras.
Do ponto de vista operacional, o BTG Pactual destacou que este é "provavelmente um dos melhores momentos" em duas décadas de cobertura das ações da Vale. A mensagem se consolida em torno de quatro pilares: previsibilidade na performance operacional, crescimento focado em cobre e minério de ferro, gestão de níquel baseada em autossuficiência (optionality), e uma estrutura de capital mais leve em termos de capex (investimento de capital).
Um ponto de atenção crescente é a unidade de metais básicos da Vale, que engloba cobre e níquel. Segundo a análise, o mercado tem atribuído "muito pouco (ou nenhum) valor" a essa unidade dentro do market cap atual da companhia. No entanto, o BTG sugere que o foco em crescimento e disciplina pode destravar valor nessa divisão, especialmente considerando a demanda crescente por metais essenciais para a transição energética.
A ênfase na disciplina de capital se traduz em um foco implacável no retorno de caixa aos acionistas. Com a esperada estabilidade operacional e a estratégia de crescimento focada, a Vale projeta entregar retornos de caixa na faixa de 10% a 12% em 2026. Essa atratividade é um fator crucial que o BTG utiliza para justificar sua recomendação de "Compra" para as ações da empresa.
Os analistas do banco reforçaram que a Vale continua sendo negociada a múltiplos de EBITDA bastante descontados, em torno de 4.1x. Ao comparar o cenário atual da mineradora brasileira com as suas pares australianas, o BTG Pactual argumenta que a tese de investimento se torna ainda mais convincente, sugerindo um potencial de valorização atrativo.
O BTG avaliou que o encontro com investidores consolidou a visão de que a Vale está executando uma estratégia de melhoria contínua, visando simplificar sua operação e maximizar a geração de caixa. Para os analistas, a gestão demonstrou compromisso com o que é essencial: desempenho operacional previsível e retorno robusto ao capital investido, minimizando as incertezas que marcaram o passado recente da mineradora.