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BlackRock, maior gestora do mundo, eleva cautela com Brasil e vê desafios

A BlackRock passou a ficar ‘underweight’ (com exposição abaixo da média) em Brasil neste ano e está mais seletiva

O país lida com uma nova variante mais contagiosa do coronavírus e iniciou as campanhas de vacinação com algum atraso, diz gestora (Paulo Whitaker/Reuters)

O país lida com uma nova variante mais contagiosa do coronavírus e iniciou as campanhas de vacinação com algum atraso, diz gestora (Paulo Whitaker/Reuters)

Karla Mamona

Karla Mamona

Publicado em 24 de março de 2021 às 15h30.

A BlackRock, maior gestora de recursos do mundo, está mais cautelosa com as ações brasileiras em meio ao riscos crescentes à recuperação econômica.

A BlackRock passou a ficar ‘underweight’ (com exposição abaixo da média) em Brasil neste ano e está mais seletiva, disse Ed Kuczma, gestor que administra cerca de US$ 1,4 bilhão em ações latino-americanas na empresa.

O país lida com uma nova variante mais contagiosa do coronavírus e iniciou as campanhas de vacinação com algum atraso. Recentemente, o cenário deteriorado da pandemia fez com que alguns estados endurecessem medidas de isolamento social.

“Começamos 2021 com muito otimismo sobre a retomada econômica global, mas vejo a atividade desafiada na região”, disse Kuczma, em entrevista. “O Brasil tem uma série de desafios, incluindo uma segunda variante do vírus com uma propagação muito rápida e alguma dificuldade para levar as vacinas aos lugares certos. Isso está pesando sobre as perspectivas de reabertura.”

O número total de casos no Brasil ultrapassou a marca de 12 milhões nesta semana, enquanto as mortes diárias por Covid-19 superaram 3.000 pela primeira vez nesta terça-feira. O índice MSCI Brazil acumula queda de mais de 10% neste ano, contra um recuo de 6,8% para o MSCI Emerging Markets Latin America.

Kuczma, que estava ‘overweight’ em Brasil no fim de 2020, também mencionou um cenário fiscal mais frágil após o país ter sido um dos emergentes que mais gastaram para combater o impacto da pandemia. A perspectiva de mais gastos pressionou os ativos locais, levando o dólar para acima dos R$ 5,80 no começo do mês. Para combater a inflação, o Banco Central elevou a taxa Selic em 0,75 ponto percentual em sua última reunião, para 2,75%.

“Mesmo após o tom mais agressivo do BC mostrar que ele vai defender a moeda, a dinâmica da inflação preocupa”, disse.

Entre as ações brasileiras, ele vê oportunidades no setor de saúde e em empresas que estão empenhadas em iniciativas ESG, incluindo alguns nomes no setor de papel e celulose.

Uma distribuição bem-sucedida de vacinas aliviaria muita da preocupação com o país, disse Kuczma. Em meio à pressão crescente de aliados e do setor empresarial, o presidente Jair Bolsonaro adotou um tom mais favorável à vacinação e discutiu em reunião com outros poderes uma resposta mais coordenada contra a pandemia.

A BlackRock está ‘overweight’ no Chile e no México. Kuczma gosta dos bancos chilenos e disse que as varejistas devem se beneficiar de uma reabertura relativamente mais rápida -- o Chile administrou cerca de 45 vacinas para cada 100 habitantes, contra 8 no Brasil. Ele vê espaço para uma revisão positiva nas estimativas de lucros.

No México, Kuczma tem favorecido o setor imobiliário e aeroportos. O país tem atraído apostas otimistas em meio à aceleração da economia em seu vizinho do norte e por conta de sua posição fiscal mais forte.

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