Bancos estão com dias contados, diz gestor de ações da AZQuest
Em entrevista à EXAME Invest, Welliam Wang defende a necessidade de novos modelos de análise no mercado diante da acelerada transformação da economia
Guilherme Guilherme
Publicado em 2 de maio de 2021 às 07h00.
Última atualização em 2 de maio de 2021 às 10h05.
Humildade, muito trabalho e cabeça aberta para identificar negócios disruptivos. Com esses pilares Welliam Wang, gestor e responsável pela estratégia de renda variável da AzQuest, espera entregar os melhores resultados para seus clientes.
“Eu não preciso de um analista que diz saber tudo porque cobre um setor há 20 anos. O analista de hoje tem que estar aberto a um novo modelo de análise, porque as coisas estão mudando”, diz Wang em entrevista à EXAME Invest .
Com dez anos de AZ Quest, que é uma das mais tradicionais gestoras do mercado doméstico e mais de 18 bilhões em ativos sob gestão, Wang assumiu há quatro meses como Co-Head de Equities.
Um dos pontos de maior conflito entre a nova e a tradicional mentalidade do mercado, segundo ele, está na análise dos grandes bancos do país. Para Wang, “é só uma questão de tempo” até que fintechs como Nubank e Banco Inter (BIDI11) tomem o lugar dos principais nomes do setor.
Quer investir nas ações com maior potencial de alta? Conheça as análises da EXAME Invest Pro
Juntos, Itaú Unibanco (ITUB4), Bradesco (BBDC4), Santander (SANB11) e Banco do Brasil (BBAS3) têm 701 bilhões de reais em valor de mercado. Ainda que elevado, o montante é 160 bilhões de reais inferior ao que os quatro valiam em janeiro do ano passado. No período, os bancos perderam participação em valor de mercado no Ibovespa, de 22,13% para 16,7%.
“Os bancos estão acostumados a ter o oligopólio, não a competir. Em todos os lugares em que há competição, eles estão perdendo. Todos os concorrentes que se propõem a fazer algo diferente estão ganhando market share. Ao longo do tempo, os grandes bancos vão perder participação e lucratividade”, afirma o gestor.
Wang também pontua que, apesar de os grandes bancos terem dinheiro para tentar copiar novos modelos, eles têm uma grande desvantagem que não pode ser alterada por meio de capital: a cultura.
“Por que o banco tem que cobrar mensalidade ou TED se tem o mesmo serviço sendo entregue de graça em outro lugar? Isso é algo bizarro. Os clientes são muito maltratados porque os bancos sempre fizeram isso, e isso gera uma receita relevante que não estão dispostos a sacrificar. Já a empresa de tecnologia tenta criar um produto excelente para o cliente para que o lucro seja a consequência do serviço.”
Ações
Ao passo que as ações dos principais bancos do país se desvalorizam com o aumento da competitividade no setor, as do Inter (BIDI4), primeira fintech a se listar na B3, acumulam 325% de alta desde sua oferta pública inicial ( IPO, na sigla em inglês), em 2018.
As units do Inter (BIDI11), listadas em 2019 e as que possuem maior liquidez, já subiram 485%. As units passam a integrar o Ibovespa a partir desta segunda-feira, 3, o que tende a ampliar ainda mais o volume de negociação.
Já o Nubank se prepara para abrir capital na Nasdaq, segundo a Reuters, com valuation previsto de 25 bilhões de dólares, cerca de 58% superior ao valor de mercado do Banco do Brasil.
“Todas essas fintechs ainda estão ajustando o modelo de negócio. No dia em que isso estiver azeitado, elas vão acelerar -- e muito -- o crescimento”, diz.
Oportunidades pós-pandemia
Além do setor financeiro com foco em fintechs, em que a AzQuest tem posições no Inter, Wang tem dado bastante atenção a ações que podem se beneficiar da reabertura econômica, principalmente às ligadas ao turismo.
“Quando se ouve o presidente do Airbnb falando que a demanda esperada é tão forte que vai faltar imóvel, não dá para ficar parado”, comenta.
“É como se as pessoas tivessem feito regime por um ano. No primeiro dia em que elas saírem do regime, elas vão comer muito mais do que estão acostumadas -- e nesse período se formou poupança.”
No mercado brasileiro, a aposta da AzQuest para surfar na retomada do turismo são as ações da CVC (CVCB3). Somente entre março e abril, os papéis da companhia dispararam 45%.
“O mercado se antecipa. Temos olhado bastante para a imunidade de rebanho, que é quando cerca de 60% da população adulta vai estar vacinada. Esse é um número importante, porque é quando o número de casos começa a cair significativamente. Achamos que isso vai ocorrer lá para setembro. A discussão não é mais se vai acontecer, é quando.”