Ibovespa: Ações da Via Varejo se valorizam 25%; Magazine Luiza sobe 17% (Paulo Whitaker/Reuters)
Guilherme Guilherme
Publicado em 1 de fevereiro de 2020 às 09h06.
Última atualização em 1 de fevereiro de 2020 às 09h52.
São Paulo - A expectativa de um início de ano tranquilo não se concretizou. Apesar da primeira fase do acordo comercial ter saído do twitter para o papel assinado por autoridades dos Estados Unidos e da China, fatores externos exerceram forte pressão sobre os mercados. Em janeiro, o índice Vix de volatilidade subiu 36,72% enquanto o Ibovespa caiu 3,9% - a maior queda mensal desde fevereiro de 2019.
Apesar do otimismo que permeou o primeiro pregão de 2020, ainda na primeira semana do ano, o ataque norte-americano no Irã ventilou a possibilidade de uma guerra na região, fazendo as bolsas caírem e o petróleo disparar. O clima tenso não durou muito e logo o Ibovespa voltou à tendência de alta. Mas, toda a euforia do mercado deu espaço para a dúvida quando os primeiros casos do novo coronavírus começaram a ganhar relevância na China, onde a doença já matou mais de 200 pessoas e infectou, pelo menos, outras 9 mil.
Com os temores de que o surto provocasse efeitos profundos na segunda maior economia do mundo, o petróleo brent encerrou janeiro em queda de 14,17% e o WTI, de 15,46%. O minério de ferro deve sentir os efeitos do coronavírus na segunda-feira (3), quando as bolsas da China voltam a operar depois de ficarem 11 dias fechadas devido ao feriado de Ano Novo Lunar e ao risco de contaminação.
A queda do preço das commodities e a maior tensão no mundo derrubaram os papéis de companhias com maior dependência externa, como é o caso das exportadoras. Embora, no começo do ano, o mercado estivesse bastante otimista com a performance das ações da Vale, os percalços fizeram com que elas fechassem o mês em queda de 5,16%. Com a depreciação do petróleo, as ações da Petrobras foram pressionadas e também fecharam no vermelho. Enquanto os papéis ordinários da estatal se desvalorizaram 5,16%, os preferenciais caíram 5,73%.
O risco de infecção por coronavírus também pegou o setor de turismo. Na Bolsa, a agência CVC - que oferece pacotes para a China - teve o segundo pior desempenhos do Ibovespa no mês, recuando 16,67%.
Já a maior queda do mês ficou com os papéis da Hering, que tiveram depreciação de 27,09%. A queda, que já vinha sendo desenhada nos primeiros pregões do ano, se acentuou quando, em prévia do resultado do quatro trimestre, a rede de vestuário reportou que suas vendas despencaram após baterem recorde na Black Friday.
Ameaçados pelo crescimento das fintechs, os grandes bancos também tiveram um começo de ano bastante negativo na Bolsa. Com a maior competitividade, as ações do setor vêm sentindo resistência dos investidores, que já as veem como altamente propícias aos processos de disrupção. No mês, os papéis do Itáu, Bradesco, Banco do Brasil e Santander caíram 11,54%, 9,07%, 8,1% e 11,54%, respectivamente.
Por outro lado, as ações de companhias com menor exposição à China prevaleceram entre as maiores altas. Puxadas pelos papéis da Via Varejo, as varejistas voltaram a apresentar bom desempenho na Bolsa neste início de ano. Líder em valorização em janeiro, os papéis da companhia dona das marcas Casas Bahia e Ponto Frio avançaram 25,34%.
As ações da Via Varejo vêm subindo forte desde a metade do ano passado, quando o executivo Michael Klein voltou ao comando da empresa fundada por sua família. Em 2019, a alta foi de 154,44%.
Com a permanência dos juros baixos em 2020 e a melhora do mercado de trabalho, o caminho para as varejistas crescerem está praticamente pavimentado. Analistas da XP esperam que até 2022, o lucro da Via Varejo tenha um aumento de 69% ao ano - o maior entre as empresas avaliadas.
Para a Magazine Luiza, a expectativa da XP é a de que a empresa aumente seus lucros em 13% ao ano até 2022. No entanto, nem a perspectiva de um crescimento menos robusto tirou o apetite do mercado pelos papéis da companhia. Em janeiro, as ações do Magalu subiram 17,08% - a terceira maior apreciação do Ibovespa.
Já a segunda ação que mais se valorizou foi a da Natura, que subiu 23,04% em janeiro. Parte desse movimento passa pela sinergia das operações com a Avon. No mês, a Natura elevou a estimativa de ganhos com a união de até 250 milhões para um teto de 300 milhões ao ano até 2022. Segundo a empresa, esse dinheiro deve vir de melhores contratos com fornecedores e pela redução de gastos administrativos e de distribuição.