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É hora de vender ações de tecnologia com ameaça de regras mais duras?

Aumento de impostos, maiores regulamentações - e até mais estímulos - são possíveis ameaças democratas ao setor

Mark Zuckerberg: presidente e um dos fundadores do Facebook (Leah Millis/Reuters)

Mark Zuckerberg: presidente e um dos fundadores do Facebook (Leah Millis/Reuters)

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Guilherme Guilherme

Publicado em 7 de janeiro de 2021 às 09h24.

Última atualização em 8 de janeiro de 2021 às 09h28.

A mais conturbada eleição americana do século -- e talvez da história -- chega a seu capítulo final nesta semana, com a oficialização da vitória de Joe Biden pelo Congresso e com a vitória democrata na disputa pelas últimas duas vagas do Senado. Com o resultado, o partido garante a maioria nas duas casas legislativas, além da presidência - cenário popularmente conhecido como “onda azul”, devido à cor usada pelos democratas. 

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Com o Congresso a seu favor, eleitores e investidores esperam que Biden tenha maior facilidade para implementar suas ideias apresentadas na campanha. Na quarta-feira, 6, quando a onda azul ainda se formava, sinais de suas possíveis consequências já apareciam nas bolsas americanas. Enquanto os índices Dow Jones e S&P 500 buscaram novas máximas históricas, o Nasdaq fechou em queda. 

O movimento, que evidencia a esperança por estímulos mais robustos, também mostra alguma preocupação sobre os efeitos da onda democrata sobre as empresas de tecnologia, que compõem, de forma majoritária, o índice Nasdaq. Isso porque embora mais estímulos favoreçam as bolsas de valores, Arthur Mota, economista da EXAME Research, explica que o efeito positivo tende a favorecer mais ações de valor e small caps do que as de crescimento, como costumam ser as do setor de tecnologia.

Mais estímulos podem gerar um aumento da inclinação de curva de juros por causa da expectativa de mais inflação. Apenas a expectativa de elevação do juro longo já seria um vetor negativo para as teses de ativos de crescimento e de longa duração, o que naturalmente já abafaria a performance de ações do setor, que é um caso particular de ativos de crescimento”, afirma.

Mas não apenas isso. Com os democratas na presidência e com a maioria do Senado e da Câmara, crescem as chances de maiores regulamentações e até impostos sobre o setor de tecnologia. 

Antes mesmo das eleições, analistas da gestora BlackRock já apontavam que uma onda azul poderia ter efeitos significativos sobre as ações do setor. “Uma administração Biden provavelmente traria revisões antitruste mais rigorosas. Reformas fiscais em um cenário de onda democrata também podem pesar em particular sobre os gigantes globais da tecnologia”, afirmaram. 

As mais ameaçadas

Para Mota, maiores regulamentações sobre o setor de tecnologia são praticamente inevitáveis e a eleição de Biden aumentou ainda mais essa possibilidade. Segundo ele, dentro do setor de tecnologia, as empresas ligadas à internet, como Facebook e Alphabet (a holding do Google), devem ser as mais sensíveis a esse tipo de medida.

“Dados são o grande ativo dessas empresas e não são precificados, avaliados ou taxados de nenhuma forma aceitável até hoje. Tampouco há transparência de seus algoritmos, limitação de coleta, ou responsabilização por algum dano causado - sobretudo por informações falsas. Facebook e Google podem ter desempenhos abaixo de seus pares se algo duro for aprovado envolvendo a regulação de seu Big Data”, afirma. 

Segundo Mota, porém, empresas de tecnologia com que se enquadram em aspectos ambientais, como a fabricante de veículos elétricos Tesla podem até se beneficiar do governo Biden devido aos planos de incentivo à economia verde.

O aumento de impostos sobre companhias do setor  é outra ameaça que ganha ainda mais força com a onda democrata no Congresso. A chance de isso ocorrer, inclusive, foi explicitada por Biden quando ainda era senador. Em um tweet de 2019, Biden chegou a citar a Amazon ao dizer que “nenhuma empresa com bilhões de dólares de lucro deveria pagar uma taxa de imposto menor do que bombeiros e professores”.

Mota, no entanto, acredita que a pequena margem de diferença no Senado (de apenas uma cadeira) deva ser insuficiente para que os democratas consigam implementar aumento de impostos corporativos, ainda mais em meio à crise econômica que vive o país. “O aumento de impostos e reversão parcial do corte feito por Trump em 2017 tem maior apelo para os congressistas que terão que buscar reeleição em 2022. Mas o assunto deve cair só no ano que vem. O mesmo vale para a taxação de ganhos de capital.”

Apesar das possíveis ameaças ao setor, Bernardo Carneiro, analista de BDR da EXAME Research, os efeitos das políticas de Biden sobre as ações do setor serão limitados. "As empresas são quase imunes a governos. Nos últimos 20 anos, o Obama ficou 8 no poder e as bolsas americanas bombaram. No período, ações de tecnologia subiram 1.000%."

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