Alta dos juros deve puxar a valorização do real frente a emergentes
Alta nos preços das commodities, ativos baratos na bolsa e um Banco Central mais disposto a subir os juros são fatores que devem dar suporte ao real em 2021
Bianca Alvarenga
Publicado em 22 de dezembro de 2020 às 13h24.
O peso mexicano superou o desempenho do real por quatro anos seguidos. Essa dinâmica parece estar finalmente prestes a mudar. A alta nos preços das commodities, ativos baratos no mercado e um Banco Central mais disposto a subir os juros são fatores que devem dar suporte ao real em 2021. Agora cabe aos políticos transformar isso em um rali de longo prazo.
“A diferença na direção das taxas de juros pode não ser suficiente por si só”, disse Brendan McKenna, estrategista de câmbio da Wells Fargo em Nova York. “O Brasil precisa fortalecer sua posição fiscal e avançar na agenda de reformas para o real para ganhar impulso no longo prazo.
O Bloomberg Commodity Index avançou mais de 30% desde seu piso de abril, elevando os termos de troca do Brasil - a relação entre os preços de exportação e importação - para o maior patamar desde 2014. O México, que exporta mais produtos manufaturados, viu seus termos de troca piorarem em 2020 pela primeira vez em cinco anos.
Após atingir a mínima em 16 anos no início de novembro, o real passou a subir lentamente em relação ao peso. O par agora é negociado em torno de sua média móvel de 100 dias e um rompimento pode sinalizar que o real finalmente virou a esquina.
A moeda brasileira continua sendo a mais desvalorizada da América Latina, apesar de sua recuperação desde o final de outubro, de acordo com Deutsche Bank. O dólar pode se aproximar de R$ 4,50 no próximo trimestre, uma desvalorização de quase 15% em relação aos níveis atuais, com a aprovação de um novo orçamento, escreveram analistas do Deutsche Bank liderados pelo economista-chefe Sebastian A. Brown, em uma nota na sexta-feira passada. O peso mexicano, por outro lado, pode registrar ganhos apenas moderados, já que o valuation está menos atraente após os avanços recentes.
Além do mais, a saída de Javier Guzman, considerado como o mais hawkish dos membros do comitê do banco central do México, no início do ano que vem, está levando os investidores a ampliarem suas expectativas sobre a redução dos juros. A taxa básica atualmente é de 4,25%.
Em contraste, o BC do Brasil sinalizou que a Selic pode subir no próximo ano e no seguinte, e os investidores precificam que a taxá irá mais do que dobrar em relação aos atuais 2% em 2021.
A taxa de juros do Brasil irá provavelmente superar a do México em setembro, mostram as curvas de juros.
“A dinâmica do carry pode se reverter no próximo ano, mas provavelmente será história para a segunda metade de 2021”, disse Ilya Gofshteyn, estrategista do Standard Chartered em Nova York. “Enquanto esperamos que o BCB comece a a elevar os juros no segundo semestre do próximo ano, acreditamos que o ritmo de aperto será modesto.”