Pierre Jadoul, head de crédito da ARX Investimentos: "Esse é um movimento de abrir um pouco a mão de liquidez" (Leandro Fonseca/Exame)
Repórter
Publicado em 11 de novembro de 2024 às 16h49.
Última atualização em 11 de novembro de 2024 às 18h27.
A escassez de títulos com preços atrativos no mercado de crédito privado, após a forte captação da categoria no ano, tornou a vida dos gestores mais desafiadora. Sem respostas óbvias na via tradicional, a saída tem sido recorrer a ativos alternativos, e a principal escolha tem recaído sobre os FIDCs (Fundos de Investimento em Direitos Creditórios).
Como a categoria de fundos que mais cresce nesta década, os FIDCs acumulam um crescimento de 160% desde 2020, chegando a R$ 590 bilhões sob gestão, segundo dados da Associação Brasileira das Entidades dos Mercados Financeiro e de Capitais (Anbima).
Esses fundos estruturados investem em direitos sobre valores devidos por terceiros, adquirindo esses créditos para obter retorno com os recebimentos futuros.
“É possível empacotar qualquer perfil de crédito, dependendo do interesse do investidor”, afirma Filipe Albert, responsável por originação e estruturação no Banco Fator. “Sabendo estruturar, é possível conseguir retornos superiores ao crédito privado, sem correr riscos adicionais.”
Pierre Jadoul, head de crédito da ARX Investimentos, diz que a capacidade de manter o risco baixo nas carteiras foi crucial para a decisão de aumentar a participação em FIDCs.
“Tem três jeitos de o gestor de crédito aumentar o retorno nessas condições, que são: abrir mão de liquidez, alongar o prazo em títulos de emissores bons ou baixar a régua de crédito. Esse é um movimento de abrir um pouco a mão de liquidez”, afirma Jadoul.
Uma das principais gestoras independentes em crédito privado, a ARX tem R$ 21,8 bilhões nesse mercado. A casa, com foco em dívidas de empresas de alta qualidade creditícia, tem dado preferência a FIDCs com lastro em empréstimos consignados. “É uma maneira de diversificar o portfólio sem comprometer a segurança, especialmente com operações que têm um risco de crédito excelente, como no caso do consignado INSS.”
A proporção de FIDCs no portfólio de crédito da ARX cresceu de 10% para 15%. “São FIDCs que pagam CDI + 3%, o que resulta em um incremento de 0,15 ponto percentual no portfólio como um todo.”
Na Paramis Capital, os FIDCs já representam 15% dos fundos de crédito da casa e devem ganhar ainda mais espaço. "É uma classe que ainda tem muito prêmio e que temos explorado bastante, dado que os demais instrumentos, tanto bancários quanto debêntures, estão bem amassados em termos de preço", afirma Ricardo Nunes, CIO da Paramis Capital.
O plano, afirma, é chegar bem próximos dos limites de alocação na categoria, que é de 20% para fundos de crédito para o varejo e de 40% para o qualificado.
Criada neste ano, a área de crédito privado da Paramis já conta com R$ 1,3 bilhão sob gestão. “A estratégia de crédito cresceu de uma forma exponencial. Então, além de querer aumentar a exposição em FIDCs, estamos buscando repor a exposição nas alocações que fizemos quando o patrimônio era menor.”
A entrada mais forte dos fundos de crédito fez o volume de FIDCs aumentar em R$ 128 bilhões nos dez primeiros meses de 2024. A classe de fundos é a segunda que mais captou no ano, com saldo de R$ 109 bilhões até o fim de outubro. Somente renda fixa captou mais no período, com a entrada de R$ 312 bilhões.
“O crédito está passando por um processo de descentralização, deixando os bancos e financeiras e vindo para o mercado de capitais. Estamos vendo uma transformação profunda no mercado de crédito", afirma João Baptista Peixoto Neto, CEO da Ouro Preto Investimentos, com R$ 9,1 bilhões sob gestão e uma parcela relevante alocada em FIDCs.
Para Peixoto Neto, o crescimento dessa classe não é pontual, mas estrutural: "Vai ter uma explosão de FIDCs e de gestoras de crédito."