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Três razões para investir em Banco do Brasil antes da eleição – e uma para ficar de fora

Banco estatal se igualou aos pares privados em rentabilidade mas ainda é negociado com desconto devido à ameaça de interferência política

Banco do Brasil (BBAS3): ação sobe no acumulado anual, mas segue descontada (Luiz Souza/NurPhoto/Getty Images)

Banco do Brasil (BBAS3): ação sobe no acumulado anual, mas segue descontada (Luiz Souza/NurPhoto/Getty Images)

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Beatriz Quesada

Publicado em 28 de setembro de 2022 às 06h10.

Bom e barato: estas são as palavras com que os analistas descrevem as ações do Banco do Brasil (BBAS3). Este ano o banco estatal alcançou um desejo antigo e se igualou em rentabilidade aos pares privados, apresentando uma carteira de crédito mais rentável e conservadora que os concorrentes.

A ação respondeu aos avanços e já subiu quase 44% no acumulado de 2022, uma das maiores altas do Ibovespa, saindo da casa dos R$ 28 para os atuais R$ 38. Entre os bancos, o papel é o que mais subiu no ano.

E, apesar da disparada, alguns analistas ainda enxergam espaço para mais. As ações ainda podem avançar de 19% a 45% considerando as médias das projeções de BTG Pactual (do mesmo grupo controlador da EXAME), Itaú BBA e Goldman Sachs.

O que, então, impede as ações do BB de alçarem voos maiores? O status de estatal com o País às portas da eleição presidencial.

Tendo a União como acionista majoritária, investidores temem que a empresa sofra interferência política – medo que cresce sempre que se aproximam as incertezas de uma eleição. Ainda assim, valeria investir no papel? A EXAME Invest ouviu com analistas e gestores para entender quais são os principais prós e contras da ação.

Banco do Brasil é uma ação barata

O salto no preço das ações do BB ainda não é suficiente para que o papel tenha deixado de ser barato. O Banco do Brasil é negociado com um múltiplo de preço/lucro (P/L) de 4 vezes, enquanto a média histórica do banco fica na janela de 6 a 6,5 vezes. Nos cálculos do Goldman, o banco é negociado com desconto de 47% em relação a seus pares privados.

“Como o setor bancário tem boas opções privadas, como Itaú, Bradesco e Santander, alguns investidores preferem comprar papéis de outros bancos. Mas a ação do BB está com múltiplos muito atrativos, em um patamar que vale o investimento”, avalia Wesley Okada, chefe de análise de renda variável da gestora ACE Capital.

BB entrega rentabilidade 

O preço atrativo, no entanto, não seria o chamariz que é se a empresa não estivesse surpreendendo nos resultados. O Banco do Brasil atingiu um novo marco no último trimestre: alcançou a rentabilidade dos principais bancos privados do País – o que não ocorria desde 2012

Após um de seus trimestres mais fortes de todos os tempos, a administração da empresa reforçou que o crescimento é sustentável, com o novo patamar chegando para ficar. “Trimestre após trimestre, os 50% de desconto [da ação do BB] para outros bancos brasileiros torna-se menos justificável pelos fundamentos”, afirmaram, em relatório, os analistas do Itaú BBA.

Um dos destaques do banco tem sido a baixa inadimplência, diferencial frente aos demais bancões que estão sofrendo com calotes e pagamentos atrasados. O segredo está na força da carteira de crédito, que ficou mais arriscada – e consequentemente mais rentável – no segundo trimestre, sem perder o caráter conservador que ajuda a manter a inadimplência sob controle. 

“O BB é líder em crédito rural que, junto ao crédito consignado, é a maior fatia da carteira de crédito do banco. São segmentos conservadores, com inadimplência muito menor se comparados às linhas para pessoas físicas predominantes nos bancos privados”, afirma Larissa Quaresma, analista de investimentos da casa de análise Empiricus.

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Risco político

Porém, a aura positiva do BB perde força com a ameaça política. O temor dos investidores é que o Banco do Brasil fique sujeito a intervenções da União, sua maior acionista. O exemplo negativo mais lembrado por acionistas é o programa Bom Para Todos, criado em 2012 na gestão de Dilma Rousseff, do PT. O programa criava condições de crédito mais vantajosas para os clientes do BB às custas da rentabilidade do banco, segundo avaliações do mercado.

O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que antecedeu o governo Dilma, hoje lidera as pesquisas de intenção de voto para presidente e deixa os mercados cautelosos com a possibilidade de intervenções com o retorno do PT ao poder. Em seu segundo mandato, na crise de 2008, Lula chegou a ordenar uma redução de juros no Banco do Brasil e na Caixa, buscando que os bancos públicos gerassem um efeito de queda de juros no sistema financeiro de forma a incentivar a economia. 

Considerando os riscos no radar, a Empiricus recomenda reduzir posição em BB, mesmo com o patamar atrativo de preço. “Caso um governo de esquerda assuma o poder, existe uma tendência a aumentar os gastos, ser assistencialista e buscar recursos onde for possível. Estamos de olho em possíveis mudanças, mas consideramos BB uma posição mais tática que estrutural”, defende Quaresma, da Empiricus.

Existem, contudo, alguns contrapontos. Um deles é de que o cenário de intervenção tem se desenhado como menos provável do que nas gestões petistas passadas. Lula, por exemplo, tem se colocado mais ao centro, se alinhando a nomes como o ex-BC Henrique Meirelles.

Okada da ACE defende uma permanência a longo prazo no papel. “Existem investidores que temem intervenção, mas Lula e o próprio mercado estão em outro momento. Não é possível dizer o que irá acontecer daqui para frente mas, neste nível de preço, o papel vale a pena”, argumenta.

Contraponto da governança

Há ainda um reforço de governança que vem das próprias empresas públicas. A blindagem começa na Lei das Estatais, aprovada em 2016. A legislação estabelece regras mais rígidas para compras, licitações e para a nomeação de diretores, presidentes e membros do conselho de administração dessas companhias.

Além da Lei, o BB também tem reforçado sua governança interna. Em seu Investor Day, realizado na última semana, o banco listou algumas iniciativas tomadas para preservar a companhia. Entre elas, a adoção de um plano diretor de cinco anos para evitar mudanças bruscas de rumo caso o comando do País troque de mãos e a adoção de um Conselho de Administração composto por 50% de membros independentes.

As iniciativas não são suficientes para aplacar o risco do investimento mas, caso se provem efetivas, podem destravar valor para as ações. O BTG Pactual, por exemplo, tirou BB da carteira de ações recomendada com a proximidade das eleições, mas mantém recomendação de compra e indica que “as ações podem oferecer um ponto de entrada atraente nos próximos meses, dependendo dos desdobramentos das eleições”.

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