ESG

Neutralizar o carbono do Ibovespa custa R$ 141 bi. Quem ganharia com isso?

Algumas companhias perderiam até 20% do resultado operacional, se fossem obrigadas a zerar hoje as emissões de carbono. Outras, ganham vendendo créditos

as empresas do Ibovespa emitiram diretamente (escopos 1 e 2) 146 milhões de toneladas de carbono, e 1,4 bilhão, quando se incluí as emissões indiretas (escopo 3) (Tomas Ragina/Getty Images)

as empresas do Ibovespa emitiram diretamente (escopos 1 e 2) 146 milhões de toneladas de carbono, e 1,4 bilhão, quando se incluí as emissões indiretas (escopo 3) (Tomas Ragina/Getty Images)

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Rodrigo Caetano

Publicado em 19 de maio de 2022 às 13h04.

Última atualização em 19 de maio de 2022 às 13h08.

Chegar ao net zero, ou carbono zero, é um sonho de um número cada vez maior de empresas. Boa parte dessa demanda vem dos grandes investidores, que, preocupados com o futuro dos seus investimentos no longo prazo, buscam respostas das companhias para a emergência climática. Afinal, as mudanças climáticas podem inviabilizar uma série de negócios.

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A polêmica em torno desse movimento do ESG não foge muito à regra do que sempre acontece em mudanças estruturais nos mercados: ok, mas quanto custa e quem vai pagar a conta? Não é que o dinheiro vem primeiro, é que fazer a transição para a economia de baixo carbono não sai de graça e os recursos precisam vir de algum lugar.

Nesse espírito de “não pergunte o que o capitalismo pode fazer pela empresa, mas o que a empresa pode fazer para o capitalismo”, o Santander divulgou nesta quarta-feira, 16, um relatório sobre o quanto custaria para que as empresas do Ibovespa neutralizem suas emissões. O estudo também aponta quanto do resultado operacional das companhias seria perdido caso elas tivessem de resolver o problema hoje. Como tudo no mercado financeiro, há vencedores e perdedores.

Quanto custa para zerar as emissões das empresas do Ibovespa

Considerando um preço para o carbono entre 5 e 20 dólares, para neutralizar as emissões de escopo 1 e 2, as empresas do Ibovespa gastariam entre 3,6 bilhões e 14,6 bilhões de reais. Pouco, mas a conta aperta quando se inclui o escopo 3. Nesse caso, o valor sobe para um intervalo entre 35 bilhões e 141 bilhões de reais.

O custo do net zero no Ibovespa

Preço do carbono: US$ 5 / R$ 25Preço do carbono: US$ 10 / R$ 50Preço do carbono: US$ 20 / R$ 100
Escopos 1, 2Escopos 1, 2, 3Escopos 1, 2Escopos 1, 2, 3Escopos 1, 2Escopos 1, 2, 3
Custo em R$ bilhões3,64835,3407,29770,68014,595141,360
% do EBITDA ajustado06%5,4%1,1%10,9%2,2%21,8%

 

Os valores de escopo 3 significam que as empresas precisariam investir entre 5,4% e 21,8% dos seus resultados operacionais na compra de créditos de carbono. Esse porcentual, no entanto, varia muito de empresa para empresa, sendo que Vibra, Azul, Cosan, Vale e CSN seriam as mais afetadas relativamente. Em termos absolutos, Petrobras e Vale teriam de arcar com 75% dos gastos com créditos de carbono de todo o Ibovespa.

Se há perdedores, há quem se beneficiaria desse cenário. CPFL, Dexco, Klabin e Suzano, segundo o Santander, são capazes de retirar mais carbono da atmosfera do que produzem. Com isso, poderiam ganhar com a venda de créditos de carbono. Isso vale para a maioria das empresas com foco em energias renováveis. Já os setores de tecnologia, telecomunicações, imobiliário e educação estão em situação confortável, uma vez que produzem níveis baixos de gases de efeito estufa.

Reduzir as emissões de carbono é melhor do que compensar

Os níveis de emissões utilizados no estudo são os de 2020, ano em que as empresas do Ibovespa emitiram diretamente (escopos 1 e 2) 146 milhões de toneladas de carbono. Quando se incluí as emissões indiretas (escopo 3), o número sobe para 1,4 bilhão de toneladas, o equivalente a 65% do total emitido pelo Brasil no período.

Segundo o Santander, há limitações nesse levantamento. Essas emissões podem ser subestimadas, por exemplo, já que algumas empresas estão apenas começando a medir suas pegadas de carbono. Também pode existir duplicação, caso as emissões de escopo 1 e 2 de alguma empresa fizer parte do escopo 3 de outra. Mesmo assim, o levantamento apresenta um cenário realista do que aconteceria se existisse um mercado de carbono obrigatório no país. Mas, talvez a conclusão mais importante do estudo é que reduzir as emissões sai mais barato do que compensar.

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O Santander analisou o quanto os resultados operacionais das empresas teriam de subir para que as despesas com créditos de carbono não ultrapassem 3% do lucro operacional. Se as companhias tivesses que pagar para neutralizar todas as emissões até 2030, o aumento precisaria alcançar entre 8,4% e 25% por ano. No cenário de 2050, os valores caem para 2,7% e 7,7% por ano.

Agora, se essas mesmas empresas reduzirem as emissões em 40%, a necessidade de aumentar o resultado operacional cairia para 3% e 18,8%, no cenário 2030, e para 1% e 5,9% ao ano, no cenário 2050. Entre fazer pela dor, ou pelo amor, fique com o segundo.

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