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Investimentos em IA devem chegar a US$ 1 tri até 2027, mas competição será acirrada, diz CEO da CI&T

A multinacional brasileira CI&T, liderada por Cesar Gon, projeta riscos e oportunidades para o Brasil em uma corrida tecnológica onde poucos sairão vitoriosos

 (CI&T/Divulgação)

(CI&T/Divulgação)

Aquiles Rodrigues
Aquiles Rodrigues

Repórter Bússola

Publicado em 29 de outubro de 2024 às 13h00.

Última atualização em 29 de outubro de 2024 às 15h18.

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As maiores consultorias do mundo são categóricas em afirmar que o aporte de capital para a inteligência artificial (IA) será um dos maiores investimentos coletivos das economias globais. Segundo dados da Bain & Company e Goldman Sachs,  a previsão é quase certa: até 2027, o investimento em IA generativa deve chegar a cerca de US$ 1 trilhão

Dada a dimensão do setor, há chances para quem se posicionar bem e conseguir um bom lugar na corrida. É o que afirma Cesar Gon, fundador e CEO da CI&T – multinacional brasileira que oferece serviços de software, CX, nuvem e análise de dados, e que tem abraçado a IA generativa como motor para incrementar os negócios. 

Às vésperas de comemorar 30 anos de atuação, a companhia já tem uma base de 80% dos clientes usando IA generativa – entre eles Coca-Cola, Johnson & Johnson, Google e Natura.

Gon, que é programador desde os 11, mestre em Ciência da Computação e colunista da revista MIT Sloan Management Review, viu de perto o estouro da bolha da internet, nos anos 2000, quando a desvalorização de ações em empresas de tecnologia e internet levou a um prejuízo de cerca de US$ 5 trilhões

A história vai se repetir? ele acredita que não, mas com ressalvas. “Quando aparece algo disruptivo é natural passarmos por um ou mais ciclos de hype e crash. Mas na minha visão, essa tecnologia é tão transformadora que não é uma questão de se esse dinheiro vai retornar, mas como e onde ele vai retornar. Para entender, é preciso analisar as camadas, conta.

“Na corrida pelo ouro, a Nvidia está vendendo a pá”

Gon divide os competidores do ecossistema IA em três camadas: 

  • Provedoras de infraestrutura
  • Big techs desenvolvedoras 
  • Empresas de aplicação de IA – camada que ele chama de “a mais sangrenta”.

“Na primeira camada de retorno está quem provê capacidade de processamento computacional. A Nvidia sozinha já domina quase 88% do mercado”, diz.

A empresa é provedora de GPUs, unidades de processamento gráfico com arquitetura ideal para o treinamento de Large Language Models (LLMs). Altamente procurados pelas big techs, esses chips foram fator chave no crescimento de mais de 200% da empresa em 2024, que chegou ao valor de US$ 3,5 trilhões.

Só a Microsoft  já pretende aquisição de 1,8 milhões de chips até o final do ano. A meta é triplicar as GPUs da empresa, e até 2027 ela vai investir 100 bilhões em GPUs e data centers.

E o trilhão esperado para o mercado de IA não vai apenas em chips ou ações, mas também em energia. Recentemente, a divisão de computação em nuvem da Amazon anunciou investimento de mais de US$ 500 milhões em pequenos reatores nucleares que, acima de tudo, vão sustentar os gastos energéticos provenientes do treinamento de IA generativa. 

Gon não tem dúvidas de que as empresas que oferecem infraestrutura sairão ganhando mais que o restante dos atores.   

Bilhões e bilhões gastos na corrida de LLMs das big techs. Mas e o Brasil?

Na segunda camada, as big techs competem entre si, correndo para ver quem vai desenvolver o melhor LLM. Para se ter uma noção, em 2024:

  • A Google, treinando o Gemini, investiu cerca de US$ 12 bilhões em infraestrutura
  • A Microsoft, com projetos como o modelo Copilot, investiu cerca de R$ 19 bilhões
  • A Amazon apostou US$ 4 bilhões na startup Anthropic. 

“Treinar um modelo desses fundacionais é coisa de gastar uns US$ 10 bi. Esse é um jogo das big techs, de quem tem muita capacidade de processamento e infraestrutura. Nessa camada, também é difícil não ter muito retorno”, comenta.

E quando perguntado sobre a chance do surgimento de um modelo de IA brasileiro, Gon é direto: 

“Acho que é um jogo muito grande para o Brasil, mas não só para ele. É uma coisa que envolve apenas três ou quatro big players que já estão no processo. Mas o Brasil, assim como a América Latina tem muito potencial para outros aspectos desse ecossistema das IAs. Eu, pessoalmente, estou apostando em talento” 

Aposta da CI&T na formação de talentos em IA e TI

Em meio à corrida por talentos em IA, a CI&T investe na formação de profissionais especializados. Atualmente, a empresa conta com mais de 7 mil funcionários, e planeja expandir seu time com 1.200 contratações ao longo de 2024, além de 450 vagas para estágio, já preenchidas neste último ciclo.

A proximidade cultural e geográfica com os EUA posiciona o Brasil estrategicamente, segundo Gon. “Podemos ajudar a conduzir essa revolução, oferecendo serviços e talentos para apoiar a demanda global por IA”, afirma.

Startups e o risco no desenvolvimento de aplicações de IA

Gon acredita que a camada mais competitiva e incerta do ecossistema de IA está nas startups e empresas de software tradicionais que desenvolvem produtos baseados em IA.

Para ele, “de cada 100 startups, apenas uma deve sobreviver.” A CI&T está entre essas empresas, com o lançamento do CI&T Flow, plataforma interna que otimiza processos e melhora a produtividade da companhia e de seus clientes. A ferramenta reduziu em 50% o tempo de execução de tarefas e dobrou a produtividade, segundo dados internos.

“É um momento de grandes apostas. Os valuations estão altos porque ninguém quer ficar de fora. É uma bolha? Talvez, mas uma nova Google pode surgir dessa revolução”, diz Gon.

No dia 31 de outubro, Gon estará presente na Repcom, evento criado pela FSB Holding para reunir líderes globais a fim de discutir a importância da reputação no futuro dos negócios.

Presente no painel “IA e o novo jogo da reputação: um desafio de sociedade”, às 16h, Cesar Gon pretende falar sobre o que é hype e o que é real.

“Sobre a IA, quero falar de duas coisas muito importantes, que tem a ver com reputação. Uma é o movimento das empresas, outra é o impacto no dia a dia da sociedade. Precisamos desmistificar, tratar problemas reais e entender como será o futuro dessa tecnologia”, diz.

Para terceiro trimestre de 2024, a CI&T projeta uma receita de R$ 591 milhões, um crescimento de 12% em relação ao ano anterior. Ao longo de seus 30 anos, a empresa se expandiu para mercados como Estados Unidos, Brasil e Inglaterra, com operações externas representando 60% do faturamento. Como diz Gon, “A IA é o futuro. Quem não entrar nesse jogo, estará fora”.

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