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Visa quer fim do cartão de crédito físico e prevê "tokenização de tudo", diz presidente

Em entrevista exclusiva à EXAME, Nuno Lopes destacou importância da tecnologia blockchain e das mudanças que ela deverá trazer

Nuno Lopes, presidente da Visa no Brasil (Visa/divulgação/Divulgação)

Nuno Lopes, presidente da Visa no Brasil (Visa/divulgação/Divulgação)

João Pedro Malar
João Pedro Malar

Repórter do Future of Money

Publicado em 22 de junho de 2023 às 09h02.

Com 60 anos de atuação no mercado, a Visa se tornou uma das maiores referências na área de meios de pagamentos. E, apesar de algumas pessoas acharem que a empresa se resume a uma "fornecedora de cartões", o presidente da companhia no Brasil, Nuno Lopes, explica que esse não é o caso: "A Visa não dá crédito, não é um banco, ela é uma empresa de tecnologia, que busca provar infraestrutura, inteligência, serviços, que permitam transacionar em diferentes ambientes".

Em entrevista exclusiva à EXAME, Lopes explicou que essa posição da empresa exige uma capacidade de se adaptar, e conseguir implementar, novas tecnologias. Por isso, a tecnologia blockchain surgiu como um dos focos da Visa em um processo de constante evolução nas formas de pagamento. Atualmente, ele destaca que a empresa passa por uma "mobilização para desenvolver vários de casos de uso" para a nova tecnologia.

"É só o início de uma jornada muito mais longa", destaca Lopes. A principal vantagem da tecnologia blockchain, avalia, será o surgimento do "dinheiro programável": "O dinheiro programável permite a automatização da economia, é natural que uma empresa de tecnologia, cuja função é conectar todas as partes, evolua para essa realidade".

Avanço da digitalização no Brasil

A Visa está entre as empresas que foram selecionadas pelo Banco Central para participar da fase de testes do piloto do Real Digital, a versão brasileira de uma moeda digital de banco central (CBDC, na sigla em inglês). A empresa também participou do LIFT Challenge, a primeira fase do desenvolvimento do Real Digital, com um projeto envolvendo a tokenização de grãos e negociação desses tokens.

Segundo Lopes, a empresa também estuda iniciativas como uma plataforma para geração, transferência e queima de stablecoins e um projeto para integração entre diferentes blockchains. Ele explica que, com a infraestrutura de contratos inteligentes (smart contracts), o dinheiro se torna programável, seguindo condições estabelecidas nesses contratos.

"É uma revolução do mercado", resume o executivo. E essa revolução pode ter algumas "vítimas". Uma delas é o cartão físico de crédito ou débito. Questionado sobre o desaparecimento do cartão físico, Lopes não apenas considera que ela deverá ocorrer como ressalta que a Visa "trabalha para isso", dentro de um processo maior de digitalização do dinheiro no Brasil.

"O Pix avançou isso. Antes, a digitalização era uma parte do mercado que a indústria abordava com timidez", observa. Após o lançamento da ferramenta do Banco Central, porém, ele avalia que houve uma "grande digitalização" da economia e meios de pagamento. Nesse sentido, Lopes vê o cartão físico como uma "credencial onde o chip com informações pode morar", mas ela não é a única.

A tendência é que as informações de pagamento migrem de meios físicos para os digitais, em um processo de "desmaterialização da representação física de uma credencial em outro dispositivo". Ao mesmo tempo, Lopes avalia que isso reforçará a importância da segurança de dados, um elemento que já é uma preocupação, e foco, da Visa há muitos anos.

A segurança de dados já foi elencada pelo Banco Central como o foco da fase de piloto, que buscará desenvolver uma infraestrutura segura para as transferências que serão realizadas com o Real Digital. "Você precisa ser capaz de proteger os dados do usuário, é a premissa por trás de tudo, de prevenir vulnerabilidades. São soluções que surgirão dentro do ambiente do Real Digital, que talvez tenham que ter padrões e protocolos diferentes. Vai depender do processo [do piloto]".

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Real Digital e tokenização

Lopes diz que, hoje, existem mais de 100 bancos centrais que trabalham em projetos de CBDCs, "todos com diferentes estágios e premissas". Mas o do Brasil "parece ser mais razoável. Ele preserva o ecossistema financeiro e não vai direto ao consumidor, entende o papel dos bancos como intermediários".

Ele ressalta a criação de duas versões do Real Digital, uma moeda para transações no atacado, e outra para ser usada entre bancos, que na prática funcionarão como stablecoins de cada instituição e atreladas ao real. "O Banco Central  adota uma premissa que parece ser responsável, e o nível de ambição do Banco Central e sua capacidade de execução tem sido um exemplo para o mundo inteiro".

O presidente da Visa no Brasil destaca uma "agenda orquestrada" para a digitalização no Brasil para que "as frentes avancem em um bom ritmo, e com todos os agentes bem alinhados. É difícil ver exemplos assim em outras partes do mundo". Com isso, ele enxerga um cenário de convergência entre uma adoção acelerada de meios de pagamentos digitais e "um regulador sabendo definir o ritmo, com uma agenda coordenada, que converge" nesse processo.

Além da contribuição do Real Digital, Lopes cita o potencial da tokenização, um processo em que ativos do mercado tradicional são inseridos em redes blockchains, ganhando versões cripto. Na visão de Lopes, "tudo pode ser tokenizado". Ele afirma que existe uma "grande utilidade" nesse processo, com vantagens como maior liquidez, fluidez e conveniência, levando a uma "fragmentação do valor" de ativos.

Lopes vê a tokenização como "mais um elemento de uma transformação digital" na economia. E a tokenização pode ir além de ativos, atingindo, por exemplo, credenciais e outras informações relevantes. O presidente da Visa acredita que o ambiente de atuação da empresa será "onde tiver complexidade. Você vai precisar de alguém que possa resolver essa dor de conectividade, gestão de liquidez, para chegar a uma tokenização ampla".

"Vai ser preciso ter uma gestão holística, abraçar essa complexidade", defende o executivo. Se, anteriormente, o mercado era favorável para uma verticalização das empresas, Lopes aposta agora em uma horizontalização, com empresas atuando em diferentes áreas e "aplicando vantagens em várias redes", desacoplando uma "gigante complexidade, de tantas camadas de valor agregado, e colocando em outras redes".

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