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Riffusion: inteligência artificial cria músicas a partir de textos; conheça

Especialista acredita que ferramenta pode ajudar em processos criativos, mas abrirá debate sobre propriedades intelectuais

Google também está trabalhando em inteligência artificial para criar músicas (rawf8/Envato/Reprodução)
JP

João Pedro Malar

Publicado em 3 de fevereiro de 2023 às 12h00.

Criar uma música não é para qualquer um. Da criação da letra até a melodia e depois a gravação, o processo exige tempo, dedicação, conhecimento e muita habilidade. Entretanto, o uso de uma inteligência artificial pode tornar esse processo mais simples. É isso que promete o Riffusion, ferramenta que permite criar sons a partir de comandos de textos simples.

De acordo com os criadores do projeto, o Riffusion é, na verdade, uma adaptação de outra inteligência artificial mais conhecida, a Stable Diffusion. Ela permite criar imagens originais a partir de comandos de textos e é alimentada por um amplo banco de dados composto por imagens pré-existentes, que ajudam a treinar o sistema para associar determinadas imagens a textos.

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No caso do Riffusion, esse sistema é usado para criar espectrogramas a partir dos textos. Felipe Vassão, produtor musical que já ganhou um Grammy Latino, explicou para a EXAME que os espectrogramas são usados na indústria da música há décadas e são "representações visuais de sons".

"Estamos acostumados com a ondinha de som, mas ela só mostra basicamente a amplitude do som, se é mais forte ou fraco, não mostra a frequência. O espectrograma compõe esse som mostrando a frequência e o tempo. Você consegue identificar o tipo do som pela cor, quanto mais claro ou escuro, mais forte ou fraco. É uma técnica de decomposição bem antiga", comenta.

A ideia dos criadores do Riffusion foi treinar a inteligência artificial de código aberto da Stable Diffusion para transformar textos em espectrogramas e, a partir daí, criar uma música original. Os comandos na ferramenta são simples, e alguns são sugeridos pelo próprio sistema, como "canto chinês ancestral" ou "Ibiza às 3h da manhã".

Vassão observa porém que a criação das músicas sofre a mesma limitação de outros tipos de serviços que envolvem inteligência artificial: "se não tem essa base, não sabe o que fazer, não reconhece aquela referência. Se acabou de sair uma música e não estiver registrada no dataset, não vai conseguir criar uma música baseada nisso, vai tentar se aproximar com o que tem".

Além disso, o uso dessa tecnologia em áreas mais criativas, como na criação de músicas e obras de arte, abriu margem para outro tipo de polêmica: a de propriedade intelectual. "A arte sempre se baseou de criar em cima do que já foi feito, até como uma forma de honrar. Quando comercializa a arte, a música, cria essa ideia de propriedade intelectual. Eu, como criador, detentor de direitos de músicas, me sinto um pouco violado se alguém usar minha música para criar algo", pondera o produtor.

Mesmo assim, ele vê projetos como o Riffusion como "muito interessantes". Na visão dele, seria importante que essas inteligências artificiais viessem acompanhadas de sistemas que permitissem identificar exatamente quais foram os trabalhos prévios usados e o quanto daquela criação é original, até para ocorrer uma remuneração justa. Considerando esses aspectos, ele "vê com bons olhos, porque as pessoas tem muito medo de que as máquinas vão substituir vão humanos, não acho que isso vai acontecer".

Ele considera que o grande potencial de projetos como o Riffusion é de servir como um ponto de partida para a criação de músicas, sem precisar iniciar todo o processo do zero. "Em especial na estética de hoje da música pop, de ser muito baseada em samples de outras músicas, o reagrupamento de sons feitos por outras pessoas. Hoje já usamos programas com bancos de dados de partes de músicas, sons, livres de direitos que podem ser usados, e algo como o Riffusion pode muito ser usado pra isso, obter determinados sons, com características específicas".

Apesar de avaliar que o site ainda tem "uma sonalidade meio tosca" e que ele poderia melhorar, Vassão afirma que já seria possível usá-lo para ajudar a criar uma música nova, e que não descarta que daqui a "um, dois anos" a indústria da música terá muitas canções, até premiadas, com origens ligadas a inteligências artificiais.

E o Riffusion não é o único projeto do tipo. O Google já anunciou que está trabalhando na criação de uma ferramenta que transforma textos em sons, e Vassão comenta que, pelo divulgado, ela tende a ter uma qualidade ainda maior.

Na visão dele, essa área "está vivendo um momento de uma briga, porque o grande empecilho da criatividade via inteligência artificial tem sido a parte jurídica. A tecnologia já está pronta, mas não é liberada por questões legais, eu acho que agora a gente vai ter uma tempestade de processos".

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