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Primavera cripto? Especialistas dizem que quedas pontuais não alteram a tendência de alta

Preços do bitcoin e do ether tiveram fortes ganhos no primeiro trimestre de 2023, mas ativos passam por correções nos últimos dias

Bitcoin teve em 2023 seu melhor desempenho trimestral em dois anos (Reprodução/Reprodução)

Bitcoin teve em 2023 seu melhor desempenho trimestral em dois anos (Reprodução/Reprodução)

João Pedro Malar
João Pedro Malar

Repórter do Future of Money

Publicado em 20 de abril de 2023 às 13h51.

Última atualização em 20 de abril de 2023 às 14h45.

O mercado de criptomoedas começou 2023 com um desempenho invejável em relação ao resto do mercado. Nos três primeiros meses do ano, o bitcoin sozinho valorizou mais de 60% e teve o melhor desempenho trimestral em dois anos, puxando todo o segmento para uma trajetória de alta. Nos últimos dias, porém, o setor tem mostrado volatilidade, com uma tendência de queda com leves correções de preços.

Nesse cenário, o mercado se dividiu entre quem aposta em quedas pontuais que não afetarão a trajetória de alta no setor, indicando a saída do inverno cripto de 2022 e a chegada da "primavera", e os mais pessimistas, que acham que essa correção será maior e que eventos macroeconômicos podem acabar resultando em um "outono", com menos perdas que no ano passado mas ainda em um cenário ruim.

À EXAME, porém, especialistas acreditam que o primeiro cenário é o mais provável no momento. Por trás dessas análises, estão os próprios fatores que levaram as criptomoedas a subir em 2023. O principal foi a mudança de perspectiva em relação ao ciclo de alta de juros nos Estados Unidos, com investidores passando a projetar elevações menores e até cortes no segundo semestre.

Além disso, os criptoativos ganharam força como uma aparente alternativa independente em relação aos grandes bancos e ao sistema financeiro tradicional, servindo como uma boa opção para investidores desconfiados da saúde financeira de grandes bancos após a falência de instituições regionais nos Estados Unidos e problemas na Europa. O bitcoin foi quem mais ganhou com essa perspectiva, reforçando a narrativa de que ele seria um "ouro digital".

Preço do bitcoin vai subir?

O bitcoin acaba sendo o principal radar para o comportamento do mercado de cruiptomoedas como um todo. Responsável por quase 50% de todo o valor do setor, sua performance costuma influenciar a dos outros ativos. Além dele, o comportamento do ether, segunda maior cripto do segmento, também merece atenção e tende a reverberar em outras moedas.

Na visão de Pedro Lapenta, head de research da Hahdex, o ether "roubou a cena na última semana após a ativação com sucesso da atualização Shanghai", que ocorreu no dia 12 de abril. Desde então, o ativo teve uma performance superior à da maior parte do mercado, subindo 11,2% em relação ao bitcoin.

"Esse movimento, contrário às expectativas de que a liberação de saques de ether em staking poderia trazer uma pressão vendedora forte sobre o segundo maior criptoativo do mercado, pode ser compreendido como uma resposta positiva à conclusão exitosa da mais recente atualização da maior plataforma de contratos inteligentes atualmente, que trouxe mais previsibilidade para os stakers de ether e distribuiu recompensas acumuladas ao longo dos mais de dois anos de existência da nova camada de consenso da Ethereum" comentou.

Ele ressalta que o fluxo de depósitos de ethers no blockchain tem crescido e chegou a superar o de saques - liberados com a Shanghai. Esse movimento é "uma indicação de interesse renovado dos investidores pela nova taxa de juros paga aos validadores da Ethereum pelo seu trabalho de provisão de segurança para a rede".

"Nos próximos meses, esperamos que esse fluxo de entrada prossiga crescendo, em particular devido à entrada de investidores institucionais, que agora passam a poder depositar ether em troca de uma rentabilidade anual com a certeza de que esse capital pode ser destravado no futuro", disse. Por isso, a criptomoeda da Ethereum tem tendência de alta, já que os saques representam uma redução da sua oferta disponível.

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Por outro lado, Thiago Rigo, analista da Titanium Asset, observa que o ether ainda está atrás do bitcoin ao comparar a valorização acumulada dos dois ativos no ano. O primeiro cresceu cerca de 75%, e o segundo, 80%. Ao mesmo tempo, dados mostram que "o percentual de bitcoin em circulação está diminuindo, e os investidores de longo prazo têm segurado a sua posição, aguardando por futuras valorizações".

Ele acredita que os movimentos recentes de queda das criptomoedas – o bitcoin opera atualmente abaixo de US$ 30 mil e o ether, de US$ 2 mil – representam muito realizações de lucros após as valorizações do que um indicativo de mudança de tendência e perspectiva de quedas mais intensas nos próximos meses. Rigo considera, inclusive, que essas desvalorizações mais leves são "saudáveis, depois de um período de alta forte".

De olho nos Estados Unidos

Entretanto, o comportamento futuro do bitcoin, do ether e do mercado cripto como um todo não dependerá apenas desses fatores internos, mas, principalmente, do futuro da situação macroeconômica global, e em especial dos Estados Unidos. Na visão de Rigo, "fatores macroeconômicos mais preocupantes podem impactar o preço das criptos, causando quedas".

O principal foco do mercado financeiro no momento é entender quais serão os próximos passos do ciclo de alta de juros nos Estados Unidos. Nos últimos dias, as apostas em um ciclo muito brando se moderaram, indicando que o Federal Reserve pode manter as taxas de juro elevadas por mais tempo, o que seria prejudicial para ativos considerados mais arriscados, caso do segmento cripto.

Antonio Bertuccio, head de crypto strategies da iVi Technologies, avalia que o movimento de valorização de criptomoedas observado no início de 2023 "deve se manter no curto prazo", com projetos alternativos ao bitcoin e ao ether mostrando agora comportamentos similares às altas desses dois ativos, algo característico da chamada "altseason".

Mesmo assim, ele acredita que, "nos próximos meses, é importante monitorar a situação dos mercados americanos, que ainda estão bem correlacionados com os criptoativos no curto prazo". Caso os dados de inflação e de emprego mostrem que a economia dos Estados Unidos ainda está aquecida, o Fed precisará subir mais os juros, o que prejudicará o setor. Dependendo da intensidade dessa posição, um "outono" não estaria descartado.

Porém, se os dados mostrarem uma inflação em queda e uma economia com problemas – em especial com menos criação de empregos, riscos de recessão e mais problemas em bancos – o Fed poderá subir menos os juros e já realizar cortes em 2023, o que confirmaria a tão aguardada "primavera" do setor e permitira que as criptomoedas continuassem a subir.

Bertuccio afirma que "existe uma assimetria favorável para continuação do movimento do bitcoin, que pode atingir de US$ 32 mil a US$ 35 mil, e que deve ser acompanhado de perto pelas altcoins que, tirando alguns casos isolados como Ethereum e Solana, ainda não tiveram um movimento tão expressivo de valorização como aquele do próprio bitcoin".

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