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Maior investidora institucional do bitcoin, MicroStrategy é risco para a cripto? Entenda

Empresa de software adotou estratégia de usar criptomoeda como ativo de reserva, uma decisão polêmica que tem impulsionado suas ações

Michael Saylor é o atual presidente do conselho da MicroStrategy (Joe Raedle/Getty Images)

Michael Saylor é o atual presidente do conselho da MicroStrategy (Joe Raedle/Getty Images)

João Pedro Malar
João Pedro Malar

Repórter do Future of Money

Publicado em 12 de dezembro de 2023 às 17h30.

A empresa de software MicroStrategy ficou famosa nos últimos anos por um assunto que tem pouco a ver com sua atividade principal: desde 2020, a companhia começou a adquirir bitcoin como uma reserva patrimonial. Agora, três anos depois, ela se consolidou como a maior investidora institucional da criptomoeda, em uma estratégia polêmica mas bem-sucedida até o momento.

O grande responsável pelo movimento da empresa é Michael Saylor, ex-CEO e atual presidente do conselho da companhia. Desde então, ele se tornou um dos maiores entusiastas do bitcoin, vendo a criptomoeda como o "ouro digital" e reconhecendo seu potencial como uma reserva de valor efetiva, por mais que no momento o ativo ainda seja visto no mercado principalmente como um investimento especulativo.

No momento, a MicroStrategy possui 174.530 unidades de bitcoin que foram adquiridas por US$ 5,28 bilhões, com um preço médio de compra de US$ 30.252 por unidade, e com compras recentes. Com o bitcoin cotado na casa dos US$ 42 mil, o valor total das reservas da empresa chegou a US$ 7,3 bilhões, gerando um lucro de mais de US$ 2 bilhões.

Além disso, as ações da companhia também passaram a refletir o comportamento do preço da criptomoeda. Em momentos de alta - como o atual, em que o ativo opera acima de US$ 40 mil - os papéis da empresa de software também atraem mais investidores, levando inclusive às máximas observadas em 2023.

Mas essa relação cada vez mais próxima entre a empresa e a criptomoeda pode ser prejudicial para o bitcoin? Confira a opinião de especialistas!

Riscos e a realidade

Para João Galhardo, analista da Mynt, plataforma de cripto do BTG Pactual, a quantidade de bitcoins que a empresa possui atualmente é "definitivamente significativa", na casa de pouco mais de 0,8% de todas as unidades em circulação da criptomoeda. "É muita coisa? Sim, mas não é suficiente pra impactar o mecanismo de consenso da rede de forma alguma", ressalta.

Por outro lado, ele comenta que "a venda desses ativos poderia sim impactar os preços, podendo ser classificado como uma 'manipulação de mercado', mas seria um tiro no pé fazer isso, pois além de sujar a reputação da empresa, colocaria em xeque a saúde do ativo no qual eles têm mais de US$ 4 bilhões investidos".

Galhardo destaca que a empresa utilizou uma estratégia de alavancagem "considerável", com emissão de ações e dívidas, para comprar as criptomoedas. "As dívidas têm custos de juros anualizados significativos. Então sim, problemas financeiros na MicroStrategy poderiam levar à venda de seus bitcoins, o que potencialmente impactaria o preço do ativo", diz.

"Porém, devemos levar em consideração que a empresa está saudável e que seu investimento em bitcoin está com quase US$ 2 bilhões de lucro. Dada a visão de longo prazo do Michael Saylor, é improvável que ele realize lucros agora", pondera.

João Marco Cunha, diretor de gestão da Hashdex, também afirma que a quantidade atualmente detida pela empresa é "significativa", mas comenta que "daí a falar em capacidade de manipulação, já é um passo grande. Em comparação com o mercado tradicional de ações, podemos mencionar que a BlackRock controla cerca de 6,6% da Apple, 7,2% da Microsoft e 7% da Coca-Cola, e nem por isso fala-se em manipulação".

Ele ressalta ainda que "tanto a MicroStrategy quanto a BlackRock são empresas listadas nos Estados Unidos e passíveis de responsabilização por suas condutas nos mercados", o que pode evitar esse tipo de manipulação de ativos. Ao mesmo tempo, Cunha acredita que a estratégia de compra adotada pela empresa fez com que suas ações "passassem a se comportar como uma posição alavancada em bitcoin".

"Nos últimos dois anos, o Beta em relação ao bitcoin é de quase 1.4. Isso significa que, para cada 10% de movimentação de bitcoin em uma direção, espera-se 14% de movimentação da ação da MicroStrategy nessa mesma direção", explica.

Nesse sentido, o especialista acredita que não há um risco grande tanto da venda do ativo pela empresa quanto de possíveis impactos no preço do bitcoin, mesmo em caso de problemas financeiros na empresa: "Primeiro porque o mercado de bitcoins é muito líquido. O volume negociado diariamente é muito superior ao valor de mercado total da MicroStrategy. Em segundo lugar, um problema de caixa seria algo previsível e a empresa teria todo o incentivo a executar a venda de bitcoins de forma gradual a fim de evitar impactos adversos no preço".

"Do ponto de vista prático, aquele que detém o bitcoin sempre tem incentivo a não vendê-lo de maneira abrupta para não impactar negativamente o preço médio de transação. Somente em casos muito extremos, como quando as empresas estão à beira da falência ou mesmo falidas que essas liquidações se dão de maneira apressada e, nesse caso, causam maior impacto no preço. Porém, esse impacto tende a ser passageiro", avalia.

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