Metaverso foi tema de destaque entre criadores de conteúdo em 2022 (Getty Images/Getty Images)
Cointelegraph Brasil
Publicado em 30 de dezembro de 2022 às 11h44.
Última atualização em 30 de dezembro de 2022 às 12h47.
O metaverso iniciou o ano de 2022 impulsionado pelo ‘hype’ do Facebook que, no fim de 2021, passou a se chamar Meta. O nome é um indicador dos novos planos da empresa, que se voltaram a explorar um universo digital. Além disso, previsões generosas ajudaram a alimentar o assunto. Um relatório publicado pela Precedence Research, por exemplo, previu que o metaverso será um mercado de tamanho superior a US$ 1,3 trilhão em 2030.
No decorrer do ano, porém, o hype passou. O grande público parou de dar atenção ao metaverso e, no início do quarto trimestre, matérias começaram a surgir sobre o baixo número de usuários em plataformas que permitem o acesso a universos virtuais. O Cointelegraph Brasil conversou com usuários e criadores de conteúdo da plataforma Decentraland para saber como o metaverso tem sido visto de dentro.
Falando sobre a Decentraland, a criadora de conteúdo e streamer que se identifica como Maryana DCL afirma que o metaverso não está vazio. Embora o número de usuários ativos diariamente tenha declinado entre 2021 e 2022, ela destaca que a comunidade é muito engajada.
“A comunidade promove eventos ativamente, cria conversas através de Twitter Spaces e seus membros se ajudam constantemente”, diz Maryana. “Se algum novato entrar no metaverso, ele com certeza encontrará uma comunidade amigável se quiser se conectar conosco.”
Como exemplo, a criadora de conteúdo menciona uma festa de aniversário que promoveu na área do coletivo do qual faz parte, o BVERSE, focado totalmente no metaverso. O evento contou com a participação de 75 pessoas, diz Maryana, usando como fonte dados da plataforma Atlas Analytics.
A Crystal City, entidade baseada no Decentraland, também organizou um evento especial de fim de ano para criadores de conteúdo da plataforma. Para este evento, Maryana conta que o pico de presença foi de 165 usuários.
JTV é outro criador de conteúdo e streamer constantemente envolvido com o universo Decentraland que defende a presença de usuários assíduos. “Você não vai encontrar milhões de pessoas em Decentraland, mas com certeza há mais de 32 pessoas, como alguns portais noticiaram”, diz JTV. Ele afirma que, em pontos ativos e em eventos, sempre existem usuários para interagir.
O lado positivo de ter uma base de usuários pequena é o amplo espaço disponível para crescimento, avalia JTV. Ele comenta sobre o jogo Exodus: Goodbye World, do qual é responsável pela organização junto com outros criadores. “Nós somos uma pequena fração de usuários. Em novembro, embarcamos 5 mil novos usuários, e aumentamos a nossa base ativa em 25%.”
Sobre o número de usuários ativos, JTV chama a atenção para o relatório publicado pelo DappRadar, no início de outubro, e a réplica publicada pela equipe do Decentraland dias depois.
O DappRadar publicou dados no início de outubro indicando que o metaverso contava com apenas 38 usuários ativos diariamente. Os números, no entanto, estavam desatualizados, conforme apontado pela equipe do Decentraland.
De qualquer forma, não foi possível chegar a um consenso sobre o número de usuários ativos na plataforma. O DappRadar recalculou a métrica para 650 usuários ativos diariamente, enquanto a equipe por trás do projeto afirma que o número real é de 8 mil usuários ativos diariamente. Após o episódio, Maryana comenta que a Decentraland criou seu próprio agregador com dados da plataforma.
A Decentraland fez diversos avanços em 2022, aponta Maryana. Ela conta que, desde que começou a usar a plataforma, em 2021, muitos projetos de jogos foram desenvolvidos no metaverso, novas construções foram abertas e uma importante funcionalidade foi implementada: os emotes.
Emotes são ações corporais que os personagens da Decentraland podem performar. Apesar de parecer algo pequeno para aqueles que não são usuários do metaverso, Maryana explica que a implementação de emotes tornou a plataforma ainda mais dinâmica.
“Antes só era possível realizar as ações padrão da plataforma, como dar tchau ou jogar beijo. A partir de setembro, porém, passou a ser possível criar seu próprio emote, e criadores de conteúdo aproveitaram essa oportunidade para habilitar diversas expressões novas. Isso elevou o nível das comunicações e interações nos eventos, permitindo que usuários criem vídeos únicos e divertidos.”
Outro desenvolvimento importante foi a implementação do DCL Worlds, uma espécie de espaço privativo dos usuários, comenta Maryana. Ao adquirir um nome único dentro da Decentraland, o usuário recebe quatro ‘parcels’, que são pedaços de terreno dentro do metaverso, para criar seu próprio espaço. Tudo que é criado ali é separado da cidade principal da plataforma.
“Além de reduzir a barreira de entrada para usuários que querem criar seus próprios espaços, essa é também uma ótima forma de introduzi-los às ferramentas de desenvolvedor da Decentraland”, afirma Maryana.
JTV concorda que a plataforma Decentraland teve significativos desenvolvimentos em 2022, que vão desde novos jogos até novas atividades para aumentar o engajamento de usuários. “Eu entro praticamente todos os dias, e essa combinação de conteúdo engajante e comunidade forte permitiu que eu fizesse diversos novos amigos.”
O criador de conteúdo compara o estado atual da Decentraland com o início do Facebook, que era capaz de atrair e reter usuários através de jogos e interações sociais. “O suporte e engajamento de amigos teve um papel fundamental para manter o interesse dos usuários no Facebook, assim como em Decentraland”, acrescenta JTV.
Ainda que o metaverso não seja um ambiente abandonado com apenas 38 usuários ativos diariamente, as plataformas dedicadas a esse novo universo estão longes da ampla adoção. Para chegar até lá, é necessário que diferentes pontos sejam melhorados.
JTV indica que a experiência do usuário, atualmente, está longe do ideal. “São necessárias melhorias significativas para que o metaverso atraia mais usuários”, afirma. Além disso, as opções de atividades apresentadas aos usuários ainda são poucas, avalia JTV.
O estado inicial do metaverso não ajuda as questões técnicas, diz o criador de conteúdo, fazendo com que muitos bugs ocorram dentro da plataforma. O último ponto salientado por JTV é a falta de educação para usuários novatos sobre a utilização de carteiras.
“Muitas pessoas não estão familiarizadas com o processo de usar uma carteira de criptomoedas como método de login. Elas não sabem que, após a conta ser criada, é tão fácil usar uma carteira quanto escanear um QR Code. A falta de conhecimento sobre isso ainda é uma barreira para muitos usuários”, o streamer. JTV, contudo, considera que a experiência do usuário já passou por grandes melhorias em um ano, fato que o deixa mais otimista quanto ao futuro do metaverso.
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Para Maryana, um erro que precisa ser corrigido o quanto antes é a falta de marketing para usuários fora do contexto do metaverso. A criadora de conteúdo avalia que, pela falta de narrativas presentes para a grande massa, a opinião pública acompanha apenas movimentações negativas da Meta, ou quando notícias sobre o baixo número de usuários são veiculadas.
“Infelizmente, ainda há muita desinformação sobre o metaverso para os usuários que não tiveram oportunidade de conhecer mais sobre o tema. Em um cenário onde vídeos do metaverso viralizam em redes sociais e são demonstrados em apresentações internas de empresas, as pessoas estariam mais dispostas a acompanhar o assunto”, diz Maryana.
O caso de uso do metaverso, uma vez implementado na vida do usuário, é facilmente reconhecido, ela acrescenta. “Você pode se conectar com pessoas do mundo todo, e isso é fácil de perceber.”
Por fim, Maryana espera que a comunidade de criadores de conteúdo dedique mais tempo espalhando conteúdo nas redes sociais. “Acredito que ainda não temos um espaço dentro do algoritmo das redes sociais para notícias do metaverso”, conclui.
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