Os jogadores Gustavo Scarpa e Mayke, que atualmente fazem parte dos times do Nottingham Forest e do Palmeiras, entraram com dois processos contra a empresa do atleta Willian Bigode, atacante do Fluminense mas que foi colega de clube dos dois, após terem uma perda de R$ 10,4 milhões em um suposto investimento em criptomoedas classificado por eles como um "golpe".

O caso foi revelado pelo Fantástico e teria começado em 2022. À época, Scarpa e Mayke jogavam no Palmeiras e receberam uma indicação de investimento da corretora WLJC, que tem Willian Bigode como um dos seus sócios. A recomendação teria envolvido um aporte na empresa Xland.

Tanto a WLJC quanto a Xland teriam prometido aos atletas um retorno de 3,5% a 5% ao mês garantido para o valor investido. O meia Gustavo Scarpa teria, então, investido R$ 6,3 milhões, enquanto o lateral Mayke destinou R$ 4,083 milhões para a oportunidade de investimento.

O contrato firmado entre as partes determinava que os jogadores poderiam sacar o valor investido e os lucros obtidos mensalmente no final do ano passado. Porém, ao tentarem realizar a ação, os atletas não conseguiram sacar nenhuma quantia, em um impasse que segue sem resolução.

Depois da perda, Scarpa e Mayke entraram cada um com um processo contra a Xland, a WLJC e a Solucções Tecnologia Eireli, que teria sido responsável por converter o dinheiro investido em criptomoedas. Os dois alegam que a oferta de investimento era, na verdade, um golpe, e solicitam a devolução das quantias investidas e o pagamento do rendimento prometido.

Após as revelações feitas pelo Fantástico, o canal de esportes ESPN reportou que o jogador Willian, que também atuou no Palmeiras junto com os atletas envolvidos no caso, foi outra vítima do suposto golpe, também investindo na oferta feita pela WLJC e pela Xland.

O atleta revelou ainda que outros jogadores do Palmeiras e do Fluminense aceitaram a recomendação da empresa de Willian Bigode e teriam realizado investimentos, mas também não conseguem obter o dinheiro de volta. Até o momento, nenhum dos jogadores envolvidos no caso ou suas assessorias emitiram uma declaração sobre o assunto.

Como evitar golpes com criptomoedas?

O golpe sofrido pelos atletas não se baseou em nenhuma característica específica da tecnologia por trás das criptomoedas, e é comum de ser realizado inclusive com outros tipos de ativos financeiros: eles envolvem a promessa de ganhos significativos e garantidos em um determinado período de tempo, sem risco de perdas, o que acaba atraindo investidores.

Para João Zecchin, co-fundador da Fuse Capital, a maior parte dos golpes hoje envolvendo os criptoativos já são famosos no mercado financeiro e estão voltados a vulnerabilidades dos próprios investidores. Eles vão desde a prática de phishing para obtenção de dados pessoais até as pirâmides financeiras, mas costumam ter um ponto em comum: a promessa de "ganhos estratosféricos" com esses ativos.

Victor Jorge, professor do MBA in company da FGV e sócio do escritório Jorge Advogados, aconselha que os investidores interessados em criptomoedas "precisam saber ler essa transparência do setor, enxergar. Existem diversos mecanismos, softwares e ferramentas, que identificam a origem dos criptoativos, se é espúria, se tem risco, se é pirâmide, mas demanda um interesse, leitura, interpretação. A transparência dá segurança, mas precisa conseguir interpretar, porque nem todos têm esse conhecimento”.

Já Zecchin avalia que "a parte financeira sempre é mais vulnerável a golpe, porque lida com dinheiro. Os grandes golpes aqui até agora foram nisso, prometendo retornos elevadíssimos”. Por isso, sempre que se deparar com promessas de ganhos altos e garantidos, é importante ficar alerta e pesquisar antes de optar pela oferta de investimento. Além disso, sempre é preciso pesquisar sobre as corretoras e pessoas que fazem as recomendações de investimento, e procurar por empresas confiáveis e associadas a companhias conhecidas no mercado.

"O tamanho do mercado é muito relevante em quantidade de usuários e alcance, é um dos maiores mercados novos que cresce 100% online, tem acesso à população do mundo todo. Todos os ativos estão em todos os lugares, 24/7, então é natural que tenha um volume de cosias boas e ruins muito elevado", opina.

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