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FMI critica proibição de criptomoedas e vê potencial no Real Digital e outras CBDCs

Relatório divulgado pela instituição destaca a adoção de criptoativos na América Latina para proteção contra incertezas macroeconômicas

Pesquisa do FMI avaliou a adoção de criptomoedas na América Latina (Blackdovfx/Getty Images)

Pesquisa do FMI avaliou a adoção de criptomoedas na América Latina (Blackdovfx/Getty Images)

João Pedro Malar
João Pedro Malar

Repórter do Future of Money

Publicado em 23 de junho de 2023 às 15h31.

Última atualização em 23 de junho de 2023 às 15h52.

O Fundo Monetário Internacional (FMI) divulgou um relatório na última quinta-feira, 22, com foco na adoção de criptomoedas em países da América Latina, em especial o Brasil. Apesar de citar potenciais riscos desses ativos para a economia, o órgão disse que proibições podem não ser a melhor solução no longo prazo, e destacou o potencial das moedas digitais de bancos centrais (CBDCs, na sigla em inglês), caso do Real Digital.

No relatório, os analistas destacaram que a América Latina e o Caribe estão na "dianteira" da adoção de moedas digitais, e por isso são capazes de "oferecer lições para o resto do mundo". Um dos destaques citados é no desenvolvimento de CBDCs nesses países, que buscam "melhorar a inclusão financeira e a resiliência dos sistemas de pagamento ou reduzir os custos do envio de remessas transfronteiriças".

Em relação às CBDCs, o FMI citou o pioneirismo das Bahamas, que foram um dos primeiros países do mundo a lançar uma CBDC própria, o Sand Dollar, em 2020. O Brasil também foi citado, com destaque para o estágio avançado no desenvolvimento do Real Digital.

Na visão dos analistas a versão digital da moeda brasileira tende a "aprimorar a 'tokenização de ativos', transformando ativos como imóveis, ações e commodities em representações digitais para facilitar sua transferência e aumentar sua liquidez".

O relatório diz que a intensa adoção de criptomoedas na América Latina — em especial no Brasil, Argentina, Colômbia e Equador — ocorre em meio à busca pelos "benefícios que os ativos digitais afirmam oferecer, incluindo proteção contra condições macroeconômicas domésticas incertas, contorno de controles de capital, melhor inclusão financeira para populações sem acesso a banco, pagamentos mais baratos e rápidos e concorrência mais forte".

Ao mesmo tempo, o FMI pontua que a adoção de criptomoedas traz "inúmeros desafios e riscos", em especial nos países da região que possuem histórico de instabilidade macroeconômica, baixa credibilidade de instituições, fluxos de capitais substanciais, corrupção e segmentos informais amplos.

El Salvador

Um dos casos analisados pelo FMI é o de El Salvador, que transformou o bitcoin em uma moeda de curso legal no país. Isso significa que a criptomoeda é um meio de pagamento válido para realizar transações, pagamentos e outras obrigações financeiras. Ao mesmo tempo, países como Argentina e República Dominicana vêm proibindo o uso de alguns ativos digitais.

"A experiência de El Salvador com o bitcoin sugere que há riscos na adoção de criptoativos sem lastro — aqueles que dependem de oferta e demanda em vez de qualquer ativo para obter valor e que estão sujeitos a significativa volatilidade de preços — mesmo quando explicitamente apoiados pelo governo", defende o FMI.

Por outro lado, os analistas afirmam que a adoção de stablecoins — criptomoedas com lastro em outro ativo — também representam desafios. Nesse sentido, as CBDCs, uma alternativa regulada, oferecida e mantida pelos bancos centrais, teriam um potencial maior de trazer benefícios e reduzir riscos.

Moedas digitais de bancos centrais

Um levantamento do FMI aponta que os países da América Latina e Caribe estão analisando lançar CBDCs tanto para o varejo quanto para o atacado. Os dados mostram que o Brasil é o país da América do Sul com CBDC em estágio mais avançado. Considerando a América Latina e Caribe, ele fica atrás apenas das Bahamas, Jamaica e dos países da União Monetária do Caribe Oriental, que já possuem CBDCs emitidas.

Os analistas consideram que "as CBDCs — se bem projetadas — podem reduzir os custos das remessas e melhorar a inclusão financeira. Mas, para que os criptoativos permaneçam com segurança como parte do sistema de pagamento, eles precisam ser regulamentados".

"A maioria dos participantes da pesquisa vê as CBDCs como um meio de aprimorar seus sistemas de pagamento e ampliar acesso a ele. Eles consideraram a inclusão financeira e a soberania monetária como fatores cruciais a favor da emissão de CBDCs no varejo, facilitando a integração de indivíduos sem acesos a bancos e restringindo a substituição de moeda por stablecoins ou criptoativos", afirma o FMI.

O relatório pontua ainda que os projetos bem-sucedidos no Caribe mostraram a capacidade das moedas digitais de aumentar a inclusão financeira e resiliência de sistemas de pagamentos. Ao mesmo tempo, defendem a "importância de investir em conscientização pública e infraestrutura robusta para promover a adoção de CBDCs".

"Embora alguns países tenham banido completamente os criptoativos devido aos seus riscos, essa abordagem pode não ser eficaz a longo prazo. Em vez disso, a região deve se concentrar em abordar os impulsionadores da demanda por cripto, incluindo as necessidades de pagamento digital não atendidas dos cidadãos, e em melhorar a transparência, registrando as transações de criptoativos nas estatísticas nacionais", defendem os analistas do FMI.

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