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Empresa de membro do Abba usa inteligência artificial para ajudar músicos

Session Studios facilita gestão de créditos de músicas, permitindo que autores sejam devidamente remunerados

Uso de inteligência artificial no mundo da música já é uma realidade (Pressmaster/Envato/Reprodução)
JP

João Pedro Malar

Publicado em 31 de janeiro de 2023 às 15h32.

Cada música que você escuta no YouTube, Spotify, em uma festa ou no consultório de um médico foi criada por uma série de pessoas, do cantor ao compositor, e cada um deles possui direito a uma parte dos royalties pagos para permitir a reprodução dessas canções. Mas, na maioria dos casos, a circulação correta desses créditos não acontece, e os envolvidos acabam deixando de ganhar milhares de dólares todos os anos.

Mas a inteligência artificial - uma tecnologia que vem ganhando cada vez mais espaço ao redor do mundo - pode ser usada para evitar esse problema. Foi com isso em mente que surgiu o Session Studio, um aplicativo gratuito que ajuda na gestão de informações, os metadados, de cada canção que for produzida.

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O projeto foi desenvolvido em uma parceria entre os compositores Max Martin - que já trabalhou com cantoras como Katy Perry e Britney Spears - e Niclas Molinder - que compôs músicas para os Jones Brothers e Miley Cyrus - junto com Björn Ulvaeus, um dos quatro integrantes do Abba, grupo sueco dono de alguns dos maiores sucessos da história.

Em entrevista à EXAME, Molinder conta que a ideia para o aplicativo "veio da minha necessidade": "Eu comecei uma editora musical e percebi que tudo era uma confusão. Eu não conseguia fazer os registros corretos [de músicas] porque não tinha as informações suficientes sobre os envolvidos".

E, para além de ser um grande desafio de organização, essa falta de dados acaba afetando a remuneração dos envolvidos na criação de cada música. No caso do Abba, por exemplo, a música "Dancing Queen" possui cerca de 90 registros de código ISWC, um dos principais do setor usado para distribuir royalties, mas apenas um é o correto. Isso significa que os responsáveis pela música perdem "muito dinheiro" todos os anos.

Apesar das regras variarem em cada país, o mais comum é que esses royalties fiquem retiros quando os autores não são identificados. Nos Estados Unidos, eles são distribuídos entre editoras - como a Universal e a Sony - depois de três anos sem reivindicação, mas esse dinheiro não chega aos profissionais que criaram as músicas.

"A monetização é a parte menos sexy e a mais chata quando você cria uma música, mas é a mais importante", destaca Molinder. A ideia do Session é facilitar o processo e permitir que os músicos dediquem pouco tempo ao processo, automatizando a coleta de números de registro como o IPI - um "RG" de quem atua no mercado musical - e outras etapas. É nesse momento que entra em ação a inteligência artificial.

"A plataforma é baseada nas interações humanas, precisamos ter as pessoas usando para se conectarem, mas podemos usar as máquinas para ajudar a simplificar processos. Nenhuma máquina vai julgar o que é certo ou errado. O que estamos fazendo é conectando a interação humana com máquinas para tornar a plataforma mais simples", comenta o compositor.

Além de conseguir processar e obter essas informações, a inteligência artificial também consegue ser usada para criar templates conforme percebe que um usuário trabalha mais com outros, agilizando ainda mais o processo. Uma vez que os dados finais - como nome da música, envolvidos e letra - sejam colocados no sistema, eles podem ser exportados e enviados para gravadoras ou entidades que registram as músicas.

No Brasil, o Session Studio conta com uma parceria com a União Brasileira de Compositores (UBC) que permite acessar os dados de IPI e outros registros ligados ao mercado da música, facilitando a obtenção dessas informações, mas também o próprio trabalho da associação de processar esses dados e inclui-los em uma base global.

Música e novas tecnologias

Para Molinder, o Session é apenas um dos casos de uso da inteligência artificial no mercado da música, uma combinação que deve ganhar força nos próximos anos. Ele diz que será inevitável que, em breve, "teremos máquinas e inteligências artificiais escrevendo música".

"O que temos que perceber é que a música é criada pelas pessoas porque elas amam escrever música, e os ouvintes querem ouvir música de pessoas, então mesmo que tenhamos máquinas que escrevam as melhores músicas, nunca vai substituir os seres humanos" aposta o compositor.

Ele acredita que serviços como o ChatGPT podem acabar "ajudando no caminho" trilhado por um músico ao criar uma canção, já que, ao oferecer textos a partir de orientações, eles evitam que os artistas comecem "com um papel em branco", o que é positivo para os criadores. Mesmo assim, ele também aponta que isso poderá gerar problemas autorais no futuro, com o dilema de creditar ou não esses serviços.

Além da inteligência artificial, Molinder também afirma que o mundo da música verá cada vez mais um crescimento na integração com elementos como os criptoativos e o blockchain. Nesse último caso, porém, ele ressalta que alguns entusiastas da tecnologia "achavam que ela resolveria todos os desafios, mas o blockchain, o contrato inteligente, carrega a informação, mas para isso precisa ter a informação correta, então quem focou no blockchain começou no lado errado. É um próximo passo".

Por isso, a aposta do compositor ainda é na necessidade de ter soluções como o do Session antes de entrar nesse ambiente: "O dinheiro hoje não chega aos nossos bolsos. Isso acontece porque a monetização, gerenciamento de dados, é algo chato, distante da criação de música. Meu objetivo, e do Session, é ajudar a organizar isso sem tomar tempo, permitindo que as pessoas se concentram no que amam fazer: canções".

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