Criptoativos: plano de investimento vs. "hype"
Entenda por que a polarização a que se refere o título só existe na cabeça de quem ainda não estudou sobre finanças ou na dos reféns da moda no mercado
Da Redação
Publicado em 2 de maio de 2022 às 18h58.
Última atualização em 2 de maio de 2022 às 20h03.
Por Felippe Percigo*
É exaustivo ver o tanto que o ser humano corre atrás do que falta e eu, claro, me incluo nessa, sei que é o jeito que a gente encontrou de responder ao apelo do desejo constante, foi o que Lacan disse lá atrás e eu respeito. Fiquem tranquilos, não vim aqui falar de psicanálise, inclusive porque sofro de total falta de conhecimento do assunto, mas queria trazer a reflexão de como esse impulso, geralmente, não nos leva a lugar nenhum, muito menos aonde gostaríamos de ir. Vou dar uma aqui de “ambientalista” da natureza humana, mas não existe quase nenhuma eficiência energética nesse processo, a ansiedade é muito pouco ecológica. Sei disso porque, obviamente, já fui vítima dele nas minhas finanças — e provavelmente continuo sendo hoje, mas em outros assuntos no meu dia a dia.
É no engate dessa dinâmica que ficamos vulneráveis, por exemplo, à corrida dos ratos, à corrida do ouro e a qualquer espécie estranha de maratona, sendo a mais recente modalidade “esportivo-financeira” a corrida do milhão (pré-bilhão). Para assumir a dianteira, os atletas do “milho grande” estão adotando como atalho apostar no tal “hype” que, segundo a Wikipédia, deriva da palavra hyperbole ("hipérbole", figura de linguagem que representa o exagero de algo). De alguma forma, distorceram a etimologia e o hype acabou ganhando uma boa conotação.
No mercado cripto, só se fala nisso. O hype ficou hypado. As pessoas perseguem milhões investindo em projetos marqueteiros, sem fundamentos, ou “sem princípios”, que não se propõem a nenhum tipo de solução, mas têm a habilidade de inflamar a sua audiência ao se aproveitar de uma tendência para fabricar uma criptomoeda. Os preços desses “ativos”, ao serem lançados, podem ir à lua e, em seguida, ao solo em questão de minutos. Muitos são nocauteados, sangram e nunca mais se recuperam. Os discípulos do hype, provavelmente, nunca ouviram falar em tese de investimento ou, se ouviram, não deram a atenção devida.
A única forma de escapar das armadilhas da natureza humana nesse nosso negócio é se organizar. É você ter um plano, uma estratégia. E essa estratégia pode ser ampla, pode ser pequena, pode ser uma união de planos, envolver diversas variáveis, mas uma coisa é certa: já deve nascer com a data do ponto final. Caso contrário, não é uma estratégia, é apenas um desejo. As perguntas básicas para escrever o seu roteiro são: aonde você quer chegar? Quando? O que você vai precisar fazer para atingir o seu objetivo?
Sua meta pode ser alcançar a liberdade financeira, talvez obter renda passiva com aquele dinheiro pingando todos os meses ou simplesmente alvejar o ganho de capital. Não interessa, desde que no plano conste o que importa para você. Para desenhar essa tese, eu sugiro a engenharia reversa: pegue o seu objetivo final e volte traçando os passos que fizeram você chegar lá, é um exercício de imaginação.
Por exemplo, o que eu tenho de fazer para chegar aos 40 anos ganhando R$ 20 mil por mês de renda passiva? Ah, preciso, antes de tudo, ganhar conhecimento na área. Aí já separo uma grana para estudar. Depois, vou ter que economizar “x” do meu salário por mês. Vou pegar uma parte e aportar em renda fixa, outra porção em fundos imobiliários. E por aí vai.
Um ponto de atenção é que a estratégia exige autoconhecimento, algo que vai tirá-lo da zona de conforto. Construir um programa de investimento é mesmo sobre coragem, porque exige bancar o que se quer — ainda que você ou o mundo venha a mudar —, sair do banco, assumir a sua posição e partir para a execução. Ao iniciar a sua jornada, você terá de entender qual é o seu perfil como investidor.
Quanto mais conservador você for, mais demorado pode ser atingir o seu gol. Isso porque o seu plano de investimento vai acabar incluindo ativos de menor oscilação, portanto com menor possibilidade de ganhos mais vultosos. Mas não importa, desde que você siga firme no seu propósito, se esquivando dos hypes que vão bater à sua porta.
Você, conservador que me lê, está pensando “ué, mas não existe lugar para criptomoedas na minha carteira”. Eu, Felippe, conservador que também sou, digo: existe sim. Todo investidor deve ter ativos digitais na carteira. Não é mais uma questão de sim ou não, é uma questão de quando.
Claro que o investidor mais tradicional tem menor apetite ao risco, mas, na diversificação do portfólio, a criptomoeda, ainda que em mínima quantidade — suponhamos de 1% a 2% da carteira para este perfil —, vai sempre ter o efeito explosivo, que será mais ou menos diluído no balanceamento com as outras classes de ativos.
Para o moderado, acho que uma boa cesta tem que ter de 5% a 10% de ativos digitais e o arrojado, por volta de 15%. Além do perfil, o projeto de investimento deve levar em conta também o momento de vida.
Por exemplo, o cara mais novo pode, naturalmente, correr mais risco. Inclusive, esse é um bom momento para fazer experimentações, mas sem abrir mão da consciência de que onde se ganha também se perde. Esta faixa etária é a mais vulnerável aos hypes, portanto, é bom se ligar e se afastar das tentações de ganhar dinheiro fácil. Pode confiar em mim, também já tive meus momentos.
Se você já está ali pelo meio do caminho, não recomendo colocar tanto em jogo. A hora é mais de preservar o capital do que de se expor a perdas que podem desestabilizar a sua condição financeira. Fica mais difícil repor. Muitos investidores, quando chegam a esta fase, acabam querendo compensar as perdas de anos, insanamente, em meses. São ótimas iscas para as fábricas de hype. Fiquem expertos.
Os mais experientes (de idade), por sua vez, já vivenciaram uma multiplicidade de sentimentos ao longo da trajetória e pedem por menos emoções. A esta altura, inclusive, os planos já foram editados e aprimorados. É melhor curtir do que se preocupar.
*Felippe Percigo é um investidor especializado na área de criptoativos, professor de MBA em finanças digitais e educa diariamente, por meio de sua plataforma e redes sociais, mais de 100 mil pessoas a investir no universo cripto com segurança.
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