Bitso quer lançar serviço de pagamento em cripto integrado ao Pix, diz CEO
Corretora de criptoativos estuda forma de integrar ferramenta disponível na Argentina com sistema de pagamentos instantâneos do Banco Central
João Pedro Malar
Publicado em 15 de novembro de 2022 às 09h00.
A corretora de criptomoedas Bitso pretende lançar no Brasil uma ferramenta de pagamentos para seus clientes que contará com uma integração com o Pix, o sistema do Banco Central. A informação foi dada pelo CEO da empresa, Daniel Vogel, em entrevista à EXAME.
A ideia envolveria uma adaptação do Bitso Pay, um serviço lançado pela exchange para seus clientes na Argentina. Ele permite escanear QR Codes, mais populares no país que no Brasil, para realizar pagamentos usando criptomoedas como o bitcoin ou a stablecoin USDC, atrelada ao dólar.
Lançado em setembro para os clientes argentinos, a aplicação foi disponibilizada para uso por estrangeiros no país em novembro. O movimento faz parte de um esforço da empresa para "conectar o dinheiro à realidade financeira dos países", segundo Vogel.
"Nós pensamos que dinheiro tem que ser global, e somos muito fãs do Pix, das pessoas usarem dinheiro quando e como querem. Hoje, os cartões são internacionais, mas as taxas são em altas", observa o CEO.
Ele acredita que a ferramenta permitiria integrar o Pix com estrangeiros, que hoje só podem usar o sistema se tiverem uma conta em banco brasileiro. Atualmente, os clientes da Bitso no Brasil podem transferir valores em criptomoedas via Pix, e a ideia seria "expandir isso para qualquer cliente" e incluir a opção de pagar via QR Code.
Vogel avalia que "o Pix é o melhor sistema da América Latina" para pagamentos disponível atualmente, e que a decisão recente do Banco Central de abrir o código do sistema para que outros bancos centrais usem de base deve ajudar na adoção da ferramenta pela região.
Apesar de não ter mais informações sobre o lançamento do Bitso Pay para o Brasil, Vogel destacou que a empresa está "muito entusiasmada com o crescimento na Argentina, [levar o serviço para o Brasil] é algo que super interessa e estamos vendo a melhor forma de construir".
Para Vogel, a Bitso está hoje mais próxima de um banco digital do que de uma bolsa de valores, por mais que não seja "nenhuma das duas". O objetivo da exchange é "ter diversos produtos" para seus clientes reunidos em um só lugar, e o desenvolvimento de um marketplace no aplicativo também está no radar.
"Queremos imaginar que, de pouco a pouco, haja mais produtos para que a realidade financeira esteja dentro de Bitso, e um marketplace é importante. Temos produtos, queremos lançar um cartão, é algo mais holístico que uma corretora", explicou.
Ele destacou ainda que a exchange "já tem uma base estabelecida para oferecer novos produtos, mas não se sabe nunca como vai ser a recepção. Na parte institucional, para empresas, já tem um caminho mais claro, de remessas internacionais".
Vogel acredita que as empresas do setor de criptoativos precisam "ter ferramentas para que todos possam usar as tecnologias mesmo sem entender a fundo. É precios entender como indústria quais vão ser as ferramentas para investir e dar às pessoas a capacidade de aproveitar todo esse movimento e o que fazem sem que tenham que entender a parte técnica".
Regulação
Ainda sobre os planos da companhia para o Brasil, Vogel destacou a análise atualmente de um projeto de lei que regular o setor de criptoativos e pode ser aprovado nos próximos dias. Favorável ao texto, ele observa que "as eleições deixam mais difícil a aprovação de leis. É difícil saber a probabilidade de passar, mas é muito importante que tenha um projeto de lei porque há jogadores na indústria que não sabemos se estão fazendo as coisas bem ou mal".
"É claro que se as empresas não operam bem, o setor pode ter problemas grandes", destacou o CEO da Bitso. Ele ressaltou ainda que o projeto poderia dar uma claridade regulatória necessária para que a exchange implemente um serviço de envio de remessas internacionais em cripto, que atualmente não é possível no Brasil.
"No México, há claridade regulatória. Por muitos anos a gente achava que cripto ajudar em remessas, mas era impossível fazer isso sem claridade regulatória e as autoridades tiveram posturas claras sobre isso, o que permitiu que uma porcentagem importante das remessas passem por cripto hoje", disse.
Para a empresa, seria importante que qualquer projeto "tenha essa claridade", o que "ajudaria para que a indústria cresça". "Quando troca governo, muitos projetos têm que começar do zero, e pode tomar muitos anos", observou Vogel, destacando que a Bitso espera ter "claridade regulatória" com qualquer lei aprovada.
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