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The winner takes it all: o dilema do patrocínio no esporte

Apesar de seu sucesso e visibilidade, a trajetória de Rebeca Andrade levanta uma questão crucial: quantos talentos promissores permanecem invisíveis por falta de apoio?

Rebeca Andrade: atleta ostenta o apoio de 16 patrocinadores. (Alexandre Loureiro/COB/Divulgação)
Ivan Martinho

Colunista

Publicado em 8 de outubro de 2024 às 10h17.

Última atualização em 8 de outubro de 2024 às 10h18.

Rebeca Andrade é, sem dúvida, um fenômeno do esporte brasileiro. Com seu carisma, sua história de superação e, claro, seu talento indiscutível, ela chegou ao topo do esporte global.

Não à toa, hoje Rebeca ostenta o apoio de 16 patrocinadores, um reflexo de seu sucesso e da atenção que ela, merecidamente, atrai. Mas se olharmos para essa trajetória brilhante, surge uma questão inquietante: por quanto tempo grandes atletas ficam invisíveis aos olhos do público — e das marcas?

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Ao longo da maior parte de sua carreira, Rebeca não contou com o apoio de patrocinadores. Inclusive, quando chegou aos Jogos Olímpicos de Tóquio em 2021, a ginasta do Flamengo não tinha nenhum patrocínio pessoal. O que não a impediu de ter uma performance histórica.

Rebeca voltou do Japão carregando a medalha de prata no individual geral e o ouro no salto, tornando-se a primeira brasileira a alcançar esse feito na ginástica artística. A trajetória vitoriosa da atleta finalmente a tornou reconhecida. Naquele mesmo ano, Rebeca passou a contar com 12 patrocinadores.

A história é uma verdadeira “jornada do herói”, com a protagonista enfrentando desafios imensos até vencer e ser celebrada.  No entanto, ao contrário das histórias épicas, em que o reconhecimento inevitavelmente chega ao final da aventura, a realidade para muitos atletas é bem diferente: eles podem nunca receber o apoio necessário, independentemente de seu talento ou dedicação.

O que nos leva a uma reflexão inevitável: quantas outras “Rebecas” estão por aí, treinando muito, em diferentes esportes, sonhando com o mesmo pódio, mas sem o apoio e os recursos e necessários para transformar esse potencial em medalhas?

Este é o paradoxo do “ the winner takes it all”, em que o sucesso precisa anteceder as oportunidades.

Claro, é louvável que grandes marcas estejam, hoje, ao lado de Rebeca. Mas seria possível que muitas delas apenas tenham chegado quando ela já estava no topo? Mais importante ainda: quantas outras atletas talentosas não têm essa visibilidade simplesmente porque ainda não chegaram ao pódio?

Neste caso, também vale refletir sobre o papel das empresas que promovem práticas ESG (ambiental, social e governança) e costumam patrocinar grandes atletas.

Faria sentido essas empresas investirem no fomento dos esportes e no apoio a jovens atletas antes de eles se consagrarem vencedores, o que demonstra um compromisso social genuíno. Afinal, apoiar um atleta que já brilha é importante, mas fomentar a base do esporte é essencial para que novas estrelas possam surgir.

Quantos talentos extraordinários não chegam ao ponto mais alto do pódio porque não tiveram as oportunidades e o suporte financeiro necessários para competir em pé de igualdade?

Rebeca é inspiração e com todo o merecimento, está no topo, mas ela não deveria ser a exceção. E para isso, é necessário olhar para aqueles que ainda estão construindo sua jornada, longe dos holofotes.

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