Luva de Pedreiro: "Vou fazer a marca Luva de Pedreiro chegar nos quatro cantos do mundo". (Divulgação/Luva de Pedreiro)
Repórter
Publicado em 23 de dezembro de 2025 às 15h25.
Mais do que números, seguidores ou virais, o Luva de Pedreiro entra 2026 em uma nova fase da carreira, sendo reposicionado como o que sua própria trajetória já indicava: um canal de mídia com alcance global, capaz de dialogar com diferentes públicos, culturas e temas muito além do futebol.
Nascido em Quijingue, no interior da Bahia, Iran Ferreira trabalhou desde cedo ajudando o pai na roça e concluiu os estudos até o 8º ano do ensino fundamental. Em 25 de março de 2021, publicou o primeiro vídeo no TikTok, ainda sem repercussão, dando início a uma trajetória que, meses depois, se tornaria um dos casos mais rápidos de crescimento nas redes sociais brasileiras.
A virada ocorreu em novembro de 2021, quando adotou o nome Luva de Pedreiro e lançou o bordão “Receba”. Em menos de um ano, o influenciador saiu de números pequenos para mais de 18 milhões de seguidores no Instagram e 19,5 milhões no TikTok.
Atualmente, ele soma 45,3 milhões de seguidores nas duas redes sociais, com crescimento que chegou a superar o do Flamengo e chamou a atenção de atletas e celebridades internacionais, como Neymar, Cristiano Ronaldo, Vinícius Júnior, Ronaldinho Gaúcho e Paul Pogba.
Mas a regra é clara: tudo que vem rápido demais, pode se perder no caminho. Entre contratos com marcas e publicidades, o crescimento do trabalho do influenciador passou a evidenciar a falta de apoio estratégico por trás.
"Eu percebi quando vi o tamanho que estava a minha carreira. Pegou uma proporção muito grande que eu não estava dando conta", afirma Luva de Pedreiro, em entrevista exclusiva à EXAME.
Foi quando um time de especialistas encontrou uma oportunidade de profissionalizar — e faturar — com a potência brasileira.
À frente dessa virada está uma nova estrutura profissional, que reúne executivos em diversas áreas com o objetivo de transformar Luva em um dos dez maiores nomes da economia criativa do mundo nos próximos quatro anos.
A reestruturação é liderada por Lucas Barchetta, responsável pelo novo posicionamento da marca, Danilo Castro, que assume como CEO, e Daniel Mendonça, especialista em creators e ex-executivo da Loud, à frente das áreas de conteúdo, operações e parcerias.
Juntos, eles defendem que Luva não deve mais ser visto apenas como um influenciador de futebol, mas como uma empresa de mídia, com governança, hierarquia, estratégia e múltiplas frentes de monetização.
Segundo Barchetta, a decisão de profissionalizar a carreira partiu de uma constatação direta: o Luva já era um ativo global, mas operava sem a estrutura compatível com esse tamanho. Ao mergulhar nas métricas, contratos e possibilidades de monetização, ficou evidente a quantidade de oportunidades ainda pouco exploradas — de licenciamento de marca a novos formatos de conteúdo.
“O objetivo é olhar para o Luva como uma empresa, não como um influenciador. Trazer governança, hierarquia e pessoas com capacidade técnica para executar. A ideia é construir algo que funcione sozinho”, explica Barchetta. A meta é clara: tirar o Luva do rótulo de nicho e posicioná-lo entre os dez maiores criadores do mundo.
Apesar da nova estrutura, o Luva segue no centro de todas as decisões criativas.
"Sempre participo e tomo decisão junto com a minha equipe, estamos entrosados", afirma Luva de Pedreiro à EXAME.
De acordo com a equipe, ele se envolve ativamente das reuniões semanais, opina, sugere ideias e demonstra envolvimento direto com o projeto. Para o CEO, o papel do criador vai além de ser apenas o rosto da operação.
“O Luva ajuda a guiar a nossa criatividade. A gente constrói formatos que combinam com a personalidade dele e com o que ele se sente confortável em fazer. A partir disso, criamos algo autoral”, afirma Mendonça.
Essa participação ativa é vista como um diferencial do novo momento, especialmente por marcar uma mudança em relação à forma como a carreira era conduzida anteriormente.
O primeiro sinal público dessa virada foi o lançamento de um manifesto, divulgado nas redes sociais. Em menos de 24 horas, o vídeo ultrapassou 1 milhão de visualizações no Instagram e registrou uma taxa de engajamento de 8%, considerada fora da curva para vídeos do formato.
Além dos números, a reação do público também chamou atenção. Segundo Danilo Castro, praticamente não houve rejeição nos comentários — apenas mensagens positivas, elogios à maturidade do conteúdo e apoio ao novo posicionamento. Para a equipe, o retorno reforça a leitura de que havia um desejo reprimido da comunidade para ver o Luva evoluir.
“O Luva tem um dos maiores ativos que um criador pode ter: conexão genuína com o público. As pessoas se sentem representadas por ele”, diz Danilo.Os dados de audiência mostram um público majoritariamente jovem e adulto jovem, mas com alcance que atravessa faixas etárias. A partir de 2026, a estratégia passa a incluir um investimento mais robusto no YouTube, plataforma vista como essencial para alcançar crianças, pré-adolescentes e públicos ainda pouco contabilizados nas métricas atuais.
A visão é trabalhar o Luva de forma 360°, adaptando linguagem, formatos e estratégias a cada plataforma.
“Hoje, o streaming é a TV 2.0. A gente precisa estar onde o público está e entregar valor de forma relevante para cada audiência”, afirma Castro.
No operacional, o foco inicial está na montagem de uma equipe de produção capaz de acompanhar o Luva no dia a dia, em viagens e em grandes eventos globais, com entrega de conteúdo em tempo real. Paralelamente, a equipe estrutura uma área comercial mais robusta, voltada a licenciamento, séries, projetos premium e formatos autorais.
O YouTube aparece como o primeiro grande objetivo do ano, com a busca por diretores, roteiristas e profissionais capazes de sustentar uma produção mais elaborada e recorrente.
Luva de Pedreiro afirma estar empolgado para novas frentes de negócios em 2026. (Divulgação/Luva de Pedreiro)
Um dos pilares centrais da nova fase é a ampliação temática do conteúdo. O futebol segue como base, mas deixa de ser limite. Para a equipe, Luva representa algo maior: a personificação do brasileiro, com suas paixões, curiosidades e capacidade de se reconhecer em diferentes contextos.
“O Luva é dia a dia, é família, é entretenimento. Ele é convidado para os eventos mais inacreditáveis do mundo e isso gera curiosidade. As pessoas querem ver como ele vive essas experiências”, diz Barchetta.
Daniel Mendonça complementa que essa representação vai além do futebol. “Onde tem Brasil, o Luva pode ocupar. Olimpíada, skate, Fórmula 1, UFC. Ele já vive isso fora das câmeras. A ideia é trazer para frente da audiência de forma natural.”
Para Luva, o ano é essencial para a estratégia. "Estou muito empolgado, para falar a verdade. É ano de Copa e, se Deus quiser, a gente vai entregar muito resultado e muito entretenimento"
Com a Copa do Mundo de 2026 à vista, a expectativa é que o evento funcione como um grande acelerador da estratégia. A projeção de faturamento de R$ 50 milhões vem de múltiplas frentes: publicidade, contratos internacionais, licenciamento, AdSense, projetos originais e novos modelos baseados em performance e revenue share.
“O Luva é o maior criador de futebol do mundo. Em ano de Copa, tudo se potencializa”, afirma Barchetta, que também antecipa projetos globais em desenvolvimento.
Segundo o executivo, o "dream team" — como eles mesmos chamam — passou a entender como acoplar as oportunidades utilizando o "ecossistema Luva". Isso, de acordo com eles, é a chave para gerar uma receita que abrange diversas frentes, entre Youtube, produções audiovisuais, publicidades e parcerias com marcas.
"Ninguém que tá aqui acha que esse processo vai ser fácil ou que com duas reuniões vamos encher o bolso de dinheiro. Não é isso, mas é realmente o fruto de construção diária", diz Barchetta.
Entre as negociações em andamento, uma das mais relevantes envolve a CBF. A ideia é transformar o Luva em um embaixador digital da Seleção Brasileira, justamente no momento em que a entidade busca se reconectar com o torcedor.
"A minha expectativa é a melhor do mundo. Vou fazer a marca Luva de Pedreiro chegar nos quatro cantos do mundo", completa o influenciador.
“O Luva é a personificação do Brasil”, afirma Barchetta, citando conversas já em curso com dirigentes da confederação. Embora o acordo ainda não esteja fechado, a equipe afirma que o interesse é mútuo e pode resultar em um anúncio nos próximos meses.
Ao tratar o Luva como empresa, canal de mídia e símbolo cultural, a nova gestão aposta em algo que vai além de campanhas pontuais ou viralizações. Questionados sobre a dificuldade do trabalho pela frente, o CEO afirma que o caminho está estruturado.
"Hoje, quem ganha a atenção das pessoas, ganha o jogo", completa Castro.