Yuri Romão: dirigente afirma que se assustou quando viu as contas do clube (Rafael Bandeira / SCR/Divulgação)
Repórter de Brasil e Economia
Publicado em 3 de maio de 2023 às 15h03.
Última atualização em 3 de maio de 2023 às 15h21.
De Recife
Na véspera da grande decisão da Copa do Nordeste, o telefone de Yuri Romão, presidente do Sport, não parava de tocar. Entre uma ligação e outra, o dirigente falava sobre o susto que tomou quando viu as contas do clube pela primeira vez, a reestruturação das finanças, a recuperação judicial, o avanço no programa de sócio torcedor, os planos para a SAF e a reforma na Ilha do Retiro.
"Do jeito que estava, se a gente não tivesse assumido, o clube ia precisar de uma intervenção", revelou em entrevista à EXAME no CT José de Andrade Médicis, na zona norte da Região Metropolitana do Recife.
Romão foi eleito vice-presidente do clube em julho de 2021, e apenas três meses depois assumiu a presidência após o pedido de licença do mandatário na época, Leonardo Lopes. Com mais de R$ 300 milhões em dívida, sem dinheiro em caixa e cinco meses de salários de jogadores atrasados, o foco inicial da administração foi "arrumar a casa". Entre as medidas, ele entrou em contato com a Rede Globo para buscar formas de conseguir receita. "Não pedimos adiantamento de nada, o que eu fiz foi entender como poderia aumentar a receita", garantiu Romão. A alternativa foi mudar os jogos do clube para as segundas-feiras, dia que o clube recebe mais por transmissões no pay-per-view. "Recebi muita reclamação dos torcedores, mas segui quieto porque sabia que essa decisão era importante para o clube naquele momento", garantiu.
O clube foi rebaixado no Brasileirão no final daquela temporada, o que aumentou o desafio do dirigente. A receita de direito de transmissão, uma das maiores fontes de receitas do clube, iria sair da casa de R$ 50 milhões para apenas R$ 8 milhões com a queda para a Série B.
Com experiência de mais de dez anos no mercado financeiro, Romão se debruçou sobre os números no início de 2022. Ele buscou formas de aumentar a receita do clube e diminuir as despesas. Renegociou contratos de patrocínio, vendeu jogadores importantes, como Mikael e Gustavo, e trouxe o que chamou de "previsibilidade" para o clube. "Uma das principais reclamações dos jogadores [sobre a gestão anterior] era a falta de previsibilidade sobre o recebimento de salários. Chamei eles para conversar e assumi um compromisso para que isso não acontecesse mais", afirmou.
Com toda essa arrumação, o clube viu a despesa de R$ 83 milhões em 2021 cair para R$ 62 milhões em 2022. Apesar disso, segundo balanço do clube divulgado no último sábado, 29, o clube tem R$ 271 milhões de dívida passiva, a maior da história. Romão afirma que uma das principais ações de sua administração foi trazer uma realidade contábil mais assertiva, sem esconder a verdade do torcedor. O passivo foi atualizado monetariamente, algo que não era feito pelas gestões anteriores, além de um controle maior de dívidas trabalhistas. "Contratamos uma consultoria para entender qual era a realidade do clube", garantiu.
Mesmo sem títulos em 2022, Romão teve o seu esforço de arrumar as finanças do clube reconhecido ao ser reconduzido à presidência para o biênio de 2023/2024. No novo mandato, o dirigente garante que agora o Sport vive uma realidade de equilíbrio financeiro e conta com a recuperação judicial, que congelou as dívidas do Sport por 180 dias, para dar mais respiro às contas do clube. Romão afirma que o plano será apresentado para ele nas próximas semanas e que tudo irá ocorrer dentro do prazo da Justiça.
Com esse reequilíbrio financeiro, o resultado esportivo veio como consequência. Vencer o Campeonato Pernambucano, primeiro título de Romão como presidente, e chegar na final da Copa do Nordeste estavam entre as metas da diretoria para o ano, assim como subir para a Série A e avançar para as quartas de final da Copa do Brasil. Para cumprir esse último desafio, o Sport terá de passar pelo o São Paulo nas quartas de final.
Outra consequência do bom momento no futebol, aliado à modernização do programa, foi o crescimento do sócio torcedor do Sport. Com a chegada da Imply, empresa de fornecimento de tecnologias para gestão de bilheteria, sócios e acessos de estádios, o clube passou de 3,4 mil em 2021, para mais de 25 mil sócios. Em 2023, em um pouco mais de um mês, o clube ganhou mais de 10 mil novos sócios. A meta do clube é passar de 30 mil até o final do ano.
A recuperação judicial, segundo o dirigente, será o caminho para que o clube vire uma SAF. Em fevereiro, especialistas e conselheiros do clube discutiram os prós e os contras do Sport virar um clube-empresa. Conversas com Cruzeiro e Coritiba também colaboraram no planejamento da diretoria para a mudança. "Estamos seguindo todos os ritos. Acredito que no segundo semestre deste ano vamos avançar", afirmou Romão.
Para o mandatário, o caminho para o Sport disputar grandes títulos, em uma realidade que o Flamengo, Palmeiras e Corinthians faturam quase R$ 1 bilhão, é virar SAF e ter um grande investidor com objetivo de injetar dinheiro no clube.
Outra marca que Romão quer deixar no clube é uma repaginada da Ilha do Retiro. O clube já investiu R$ 5,5 milhões na troca das cadeiras no setor de numerada e melhorou algumas estruturas que dão acesso ao estádio. O mandatário também afirma que negocia com a WTorre a reformado estádio. O projeto está em fase da arquitetura, com valores e modelo de negócios a definir no segundo semestre deste ano. A previsão é que a obra comece em 2024 e dure até dois anos. "A ideia é transformar a Ilha em uma arena multiúso", explica o dirigente.