Esporte

Meu lugar no golfe: vida e carreira da mulher na liderança

É preciso melhorar o ambiente para participação feminina em várias práticas esportivas, entre elas o golfe, que há pouco tempo me encantei

O golfe é, ainda, um esporte com maior predominância masculina. Em 2022, ainda há clubes que sugerem qual horário e dias da semana as mulheres podem jogar (Cosmonaut/Getty Images)

O golfe é, ainda, um esporte com maior predominância masculina. Em 2022, ainda há clubes que sugerem qual horário e dias da semana as mulheres podem jogar (Cosmonaut/Getty Images)

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Leo Branco

Publicado em 23 de dezembro de 2022 às 13h22.

Última atualização em 23 de dezembro de 2022 às 13h31.

Empresária, empreendedora social, conselheira corporativa e esportista. Aos 23 anos, iniciei minha carreira atuando como pró-reitora de universidade e passando também pelo governo federal, na gestão do Fernando Henrique Cardoso. De lá para cá foram diversos cargos na iniciativa pública, privada e sociedade civil, incluindo, com muito orgulho, minha participação no Board da Columbia University no Brasil.

Faço parte, ainda, de uma minoria de mulheres em cargos de alta liderança. De acordo com o relatório Women in the Workplace 2022, divulgado em outubro pela McKinsey & Company em parceria com a LeanIn.Org, o cenário é desanimador para mulheres em cargos de liderança. O estudo identificou que essas profissionais sofrem no ambiente de trabalho com sua autoridade minada e esforços não reconhecidos.

O Índice de Liderança de Reykjavik, uma colaboração entre a rede global Women Political Leaders, um grupo de defesa, e a Kantar Public, empresa de consultoria e políticas públicas, mostrou também que o preconceito contra lideranças femininas está em crescimento. Entre os entrevistados dos países membros do G7, menos da metade (47%) disse estar muito confortável em ter uma mulher como CEO de uma grande empresa.

No setor público, a situação também não é muito diferente. De acordo com um estudo divulgado pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), existe uma grande disparidade entre homens e mulheres no funcionalismo público. Enquanto elas representam cerca de 59% dos servidores federais, seus salários são 24% menores do que os deles. Um ranking de 2018, do Fórum Econômico Mundial, listou o Brasil na 132ª colocação, em uma lista com 149 países, em termos de equidade salarial. O interessante é que, apenas um ano antes, o Brasil ocupava a 119ª posição.

Para além de todas as minhas atividades profissionais, concilio a vida de executiva com a prática de esportes que tanto gosto. Por isso trago o tema da necessidade da melhoria do ambiente para participação feminina em várias práticas esportivas, entre elas o golfe, que há pouco tempo me encantei.

O que era um hobby em meio à pandemia, virou uma paixão e um estilo de vida, trazendo oportunidades para me divertir, relaxar, conhecer novos campos, e, claro, participar também de torneios femininos e mistos.

O golfe é, ainda, um esporte com maior predominância masculina e que traz a necessidade de melhoria do ambiente para a inclusão feminina, em especial a atuação de executivos e executivas, que precisam de horário diferenciado para a prática da modalidade na sua concorrida agenda de trabalho. Em 2022, ainda há clubes que sugerem qual horário e dias da semana as mulheres podem jogar.

As Olimpíadas, sabemos, surgiram na Grécia Antiga. Mas na Era Moderna, a data oficial de início do evento é em 1896. Na edição seguinte, as mulheres foram autorizadas a participarem do evento, que garantiu o primeiro ouro olímpico para a golfista americana, Margareth Abott. Coincidentemente, 1904 foi o último ano em que o golfe fez parte do calendário olímpico.

Após 112 anos, o esporte retorna às Olimpíadas em 2016, no Rio de Janeiro. Nesta ocasião, três atletas representaram o Brasil, sendo duas mulheres: a paranaense Miriam Nagl e a paulista Victoria Lovelady.

É possível enxergarmos, a passos lentos, os caminhos que os esportes, no geral - mas principalmente o que eu pratico -, tem trilhado para tornar algo inclusivo para todos os tipos de pessoas, gêneros e atuações diferentes.

Torneios mistos têm sido uma tendência nos Estados Unidos e na Europa. O Faldo Series, por exemplo, um dos maiores torneios juvenis de golfe, além das categorias masculinas e femininas, também realiza uma etapa geral, com meninas e meninos. O PGA e o LPGA Tours, considerados dois dos maiores circuitos do mundo e sediados nos Estados Unidos, anunciaram que em 2023 tornarão o QBE Shootout um torneio misto.

Na Europa, a modalidade de torneios mistos também está crescendo. O DP World Tour juntou-se ao Ladies European Tour (LET) para organizar o torneio escandinavo misto, que contou com 78 homens e mulheres competindo por prêmios.

Assim como diversos outros esportes, o golfe prevê em sua regra a equiparação dos jogadores em campo, através de diferentes tees que estabelece o distanciamento adequado das tacadas, para cada jogador ou jogadora. E isso acontece porque o homem tem, fisiologicamente, mais força que a mulher, mas em uma disputa mista as jogadoras saem em uma distância menor justamente para haver equilíbrio. Isso também vale para adolescentes ou idosos, por exemplo.

Neste ano, justamente no Dia Internacional da Mulher, a recém-criada Associação Brasileira de Golfe Feminino (ABGF) realizou o primeiro torneio voltado exclusivamente para atletas mulheres. O evento contou com a participação de 340 golfistas em 44 campos espalhados pelo país.

Em São Paulo, 690 mulheres são federadas junto à Federação Paulista de Golfe - o que representa 17% do universo de atletas federados no estado.

Mesmo com as regras estabelecidas para a participação feminina no golfe, já vivenciei situações inusitadas, como ter que insistir para jogar os 18 buracos - como os homens. Em outra, para jogar um torneio misto, precisei aceitar sair de um tee inadequado, sem a devida correção de campo, necessária para a golfistas.

Mas também compartilhei experiências incríveis no Campo do São Paulo Golf Club, onde tive a oportunidade de jogar uma partida com o golfista paraplégico Lucas em uma troca inspiradora. Foi uma experiência que reforçou o que eu já sentia: o golfe é para todos. O mesmo aconteceu em um torneio oportunizado pelo clube entre os associados e caddies – que são os funcionários, responsáveis por auxiliar o jogador com os equipamentos e que no torneio puderam mostrar suas habilidades como golfistas junto aos associados.

A verdade é que todos estão acostumados a ler nesta coluna assuntos ligados a projetos sustentáveis, parcerias público-privadas e transformação da sociedade. Mas acredito, claro, que essa mudança se dá de diversas formas, inclusive em nossa forma de convivência e atuação em comunidade.

Ansiamos por uma sociedade mais igualitária, que proporcione oportunidades para todos e que respeite as lideranças femininas nas mais diversas formas de atuação. Por isso, aproveito esse canal para compartilhar experiências pessoais que possam influenciar, também, essa agenda.

Vamos juntos?

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