Estreia do Brasil: A festa pela vitória brasileira contrasta com a sobriedade com que o Catar recebe a Copa do Mundo (NELSON ALMEIDA/AFP/Getty Images)
Lucas Amorim
Publicado em 24 de novembro de 2022 às 18h10.
Última atualização em 24 de novembro de 2022 às 18h30.
Após um primeiro tempo de pouca inspiração, a seleção brasileira fez o que dela se esperava e venceu com autoridade a Sérvia por 2 a 0 em sua estreia na Copa do Mundo. Richarlison, centroavante do Tottenham, fez os dois gols no segundo tempo, o segundo deles um golaço para entrar para a história dos mundiais.
Após seleções favoritas como Argentina e Alemanha perderem seus jogos de estreia, esperava-se dificuldades do Brasil contra o time sérvio, forte fisicamente e com dois atacantes de primeiro nível: Mitrovic e Vlahovic. O primeiro tempo foi de fato truncado. Com quatro atacantes, o Brasil não encontrava espaço na defesa adversária. No estádio de Lusail, os torcedores sérvios, em minoria, faziam mais barulho que a torcida brasileira, engrossada por milhares de qataris e indianos, trajados de verde e amarelo, mas tímidos. Foram 45 minutos de Neymar e Vinicius Júnior buscando espaço ante gritos de “Sérvia, Sérvia, Sérvia”.
O Brasil voltou sem alterações para o segundo tempo, mas com outro ânimo. Os espaços começaram a aparecer, e Richarlison fez seus dois primeiros gols em mundial. Da metade para o final do segundo tempo, o Brasil passeou em campo. Criou diversas oportunidades com a entrada dos atacantes reservas Antony, Rodrygo, Martinelli. Acertou a trave, obrigou o goleiro o adversário a trabalhar, mas não voltou a marcar. Não importa: o jogo terminou com a torcida gritando olé, e fazendo a festa nas arquibancadas.
Após o apito final, um curioso coro pode ser ouvido em meio ao batuque da torcida brasileira: “Bora beber!”. Como previsto, apenas cerveja sem álcool toi vendida no Brasil estádio, por cerca de dez dólares.
A festa pela vitória brasileira contrasta com a sobriedade com que o Catar recebe a Copa do Mundo. O metrô funciona, há espaço nos cafés e restaurantes, garçons e taxistas falam inglês. As restrições à vestimenta foram suspensas para os turistas, que podem andar mostrando ombros e joelhos à vontade. O trânsito poderia ser melhor, é verdade, mas o país se organizou para receber com competência a Copa do Mundo.
O problema: não parece que um mundial está sendo jogado por aqui. Pelas ruas, não se veem grupos de torcedores fazendo festa. Não se ouve cantoria, um “U-S-A!” pra cá ou um “Mil goools, mil gools” pra lá. Mesmo na movimentada região do mercado SuqWaqif, com seus cafés e lojinhas com cheiro de cardamomo e que vendem de tapetes a equipamentos para falcoaria, predomina uma leveza contida.
A falta de bebidas alcoólicas certamente contribui para o clima de tranquilidade. Mas a sensação de que falta algo é inevitável. A ausência de vibração é uma notável diferença com relação à Copa no Brasil, por exemplo, com torcedores do mundo inteiro transformando qualquer rodinha de conversa em carnaval. Veremos se a onda verde e amarela anima de vez a sequência do mundial.