Delegados internacionais se reuniram de terça a domingo em Nairóbi para negociar acordo previste desde 2020 (AFP/AFP)
AFP
Publicado em 26 de junho de 2022 às 11h29.
A reunião preparatória para a COP15 sobre biodiversidade termina neste domingo (26) em Nairóbi com pouco progresso e obstrucionismo de vários países, incluindo Argentina, Brasil e África do Sul, segundo delegados das ONGs.
O encontro de seis dias buscou resolver as divergências em relação à Convenção sobre Diversidade Biológica (CDB) que 196 nações negociam há mais de dois anos.
Mas o progresso é lento, lamentam tanto as ONGs como alguns delegados.
"A maior parte do tempo entrava em discussões técnicas, deixando decisões importantes não resolvidas e adiadas", disse Brian O'Donnell, diretor da Campanha pela Natureza, que pediu aos governos que "salvem esse processo".
Horas foram desperdiçadas discutindo a formulação dos documentos ou tentando introduzir elementos, em uma reunião que procurou reunir pontos de vista e refinar as decisões em discussão.
Como pano de fundo para a lenta negociação, um milhão de espécies estão ameaçadas de extinção, as florestas tropicais estão desaparecendo, a agricultura intensiva esgota o solo e a poluição atinge as áreas mais remotas do planeta.
"Já não é apenas um problema ecológico, mas um problema que afeta a economia, a sociedade, a saúde e o bem-estar. É um problema de segurança para a humanidade", lembrou Marco Lambertini, diretor-geral do WWF Internacional, em entrevista coletiva.
Os países tentam adiar essas negociações baseadas em consenso, diz ele. "Começando pelo Brasil. Mas outros países estão acompanhando de perto", destaca Lambertini .Nos corredores fala-se da Argentina e da África do Sul.
Um dos principais obstáculos é a agricultura. As metas quantificadas de redução de agrotóxicos e uso excessivo de fertilizantes, presentes em uma versão anterior do texto, não estão mais incluídas.
A União Europeia quer que a questão dos agrotóxicos seja mencionada no texto, mas "há pouco apoio", segundo um delegado do Norte desenvolvido.
Por outro lado, os representantes dos países emergentes e subdesenvolvidos enfatizam a necessidade de produzir mais, em um contexto de crise alimentar, e rejeitam qualquer referência à agroecologia.
“A agricultura é responsável por 70% da perda de biodiversidade”, diz Guido Broekhoven, do WWF Internacional, considerando “crucial” mudar um sistema alimentar em que 30% dos alimentos são desperdiçados.
Os países também estão divididos na questão dos recursos financeiros.
O Brasil, com o apoio de 22 países, incluindo Argentina, África do Sul, Camarões, Egito e Indonésia, renovou a demanda aos países ricos por "pelo menos 100 bilhões de dólares por ano até 2030" para ajudar os países em desenvolvimento a conservar sua rica biodiversidade.
O grupo africano também pede um fundo dedicado à biodiversidade, disse um de seus delegados.
Embora uma ampla coalizão apoie a meta de proteger pelo menos 30% do planeta, e os líderes de 93 países tenham prometido em setembro de 2020 acabar com a crise da biodiversidade, essa questão mal aparece na agenda política internacional, assim como o clima.