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“Resiliência na saúde é se preparar para catástrofes e alterações climáticas”, diz Sidney Klajner

Em entrevista à EXAME, o presidente do Einstein falou sobre os impactos das mudanças climáticas no setor e as estratégias da instituição de ensino e inovação para lidar com esses efeitos a longo prazo

Sidney Klajner, presidente do Einstein: "Nossa saúde depende das decisões que tomamos hoje" (Leandro Fonseca/Exame)

Sidney Klajner, presidente do Einstein: "Nossa saúde depende das decisões que tomamos hoje" (Leandro Fonseca/Exame)

Sofia Schuck
Sofia Schuck

Repórter de ESG

Publicado em 21 de setembro de 2024 às 15h15.

Última atualização em 22 de setembro de 2024 às 13h18.

A saúde precisa ser resiliente, ser olhada de forma holística e ter estratégias para lidar com os efeitos da crise climática, defendeu Sidney Klajner, presidente do Einstein, durante evento do Pacto Global da ONU no Brasil, em Nova York. Hoje, as mudanças climáticas causam aproximadamente 250 mil mortes adicionais por ano em todo o mundo, e embora todos nós já sintamos seus efeitos, as populações mais vulneráveis são as mais afetadas. “E os sistemas de saúde também sofrem — seja com catástrofes climáticas ou outros eventos extremos”, destacou Klajner em entrevista à EXAME.

O Brasil está pegando fogo e vive um cenário de ondas de calor e seca que já afetam regiões como a Amazônia, o Pantanal e o Cerrado — abrangendo mais de 5 milhões de km² do território brasileiro (60%) — e a fumaça e o ar insalubre proporcionados pelas queimadas chegam a diversas cidades do país, agravando problemas respiratórios e doenças crônicas.

Segundo Sidney, neste caso estamos falando de ‘eventos perenes’ e transformações que vêm acontecendo, em que pelo menos 200 municípios estão com umidade abaixo de 20%. “Toda e qualquer mudança no clima vai impactar negativamente a saúde. Atualmente, os prontos-socorros e os hospitais estão cheios por demandas respiratórias em uma época que não é natural”, disse.

O Einstein, em constante articulação com o governo e parceiros em todas regiões brasileiras, percebe uma sobrecarga no sistema, que já impede o atendimento adequado à população, especialmente às mais vulneráveis: elas já não tinham acesso e agora passam a ter ainda menos, pois a situação deve se agravar.

No caso do que estamos vivendo, o aumento das temperaturas e baixa umidade levam à maior incidência de insetos transmissores de doenças, como a dengue; as mucosas ficam ressecadas e mais suscetíveis à contaminação por bactérias e vírus, levando a maior ocorrência de pneumonia e outras viroses.

Os mais afetados são crianças, idosos e pessoas vulneráveis — como aquelas que vivem em áreas de risco, quilombolas, povos indígenas e mulheres negras. Muitas vezes, elas não têm acesso a serviços médicos, como, por exemplo, as populações ribeirinhas, que precisam pegar um barco e demorar horas para chegar a um atendimento. Atualmente, 22% da população brasileira está no sistema privado de saúde e 78% têm acesso exclusivamente ao SUS.

Sidney explica que há também as catástrofes agudas, como as enchentes no Rio Grande do Sul, trazendo uma série de impactos: maior incidência de doenças crônicas e transmissíveis — como leptospirose, gastrointestinais e hepatites. Além disso, o fechamento de unidades e serviços de saúde leva à sobrecarga no sistema, e há também uma série de problemas relacionados à saúde mental, pelo trauma vivido pela perda de suas casas e entes queridos.

“Atualmente, o que estamos vivendo não é uma catástrofe aguda, como a do RS, que também afetou a produção de alimentos e levou a deslocamentos forçados. Mas também há uma sobrecarga devido à alta demanda. A resiliência do sistema de saúde como um todo reside na preparação para lidar tanto com eventos agudos, como essas catástrofes, quanto com alterações climáticas mais perenes”, destacou.

Para Sidney, nossa saúde depende das decisões que tomamos hoje, e a Organização das Nações Unidas ainda não olha para a pauta de forma holística para alavancar políticas. Com o propósito do Einstein de entregar vidas mais saudáveis, a relação entre saúde e mudanças climáticas está no centro das discussões, e a instituição tem trabalhado em projetos para promover resiliência nas regiões brasileiras.

São três frentes: primeiro, capacitando profissionais para que entendam o que está acontecendo e possam fornecer um atendimento melhor. Segundo, preparando a infraestrutura, inclusive a localização de unidades de saúde que sejam menos suscetíveis aos efeitos de uma alteração climática. E, por último, no que diz respeito ao cuidado da população, tentando ao máximo oferecer uma alternativa para uma pessoa que hoje frequenta uma unidade de saúde que fechou, garantindo acesso a um tratamento, por exemplo.

O Einstein, como uma instituição de saúde que investe em inovação, ensino e pesquisa, e que faz a gestão de cinco hospitais e 29 unidades de atenção primária em São Paulo, foi convidado, em 2022, para ser uma liderança do Objetivo de Desenvolvimento Sustentável 3 (ODS 3) da ONU, que é o objetivo de saúde e bem-estar, dentro do Pacto Global da ONU no Brasil. Atualmente, há um comitê de sustentabilidade estratégico junto à diretoria, que dita não só como a organização vai se posicionar, mas também agir.

Desde então, tem tido a oportunidade de sentir os efeitos do clima, antever que tipo de comportamento é preciso ter nos serviços médicos e no fluxo do paciente, para que não falte leito para internação. “Estamos falando de uma preparação de um hospital que atende um determinado segmento da população. Agora, imagine que isso é necessário para todos. Nossa preocupação é trazer para a discussão que o sistema de saúde tem que estar resiliente para aquilo que ainda vai vir de forma ainda mais intensa, sem falar em pandemias — visto que as alterações climáticas também permitem o surgimento de vetores novos de vírus e bactérias. É preciso estar preparado”, complementou.

Recentemente, um projeto em parceria com o Ministério da Saúde, por meio do Programa de Apoio ao Desenvolvimento Institucional do SUS (PROADI-SUS), está criando verticais de saúde em populações de diferentes regiões, com foco nas mais vulneráveis, como quilombolas e ribeirinhos. “Olhamos para a condição de saúde atual, saneamento, capacidade de acesso. E na transversalidade da coleta de dados, junto à vertical da alteração climática, temos a oportunidade de entender como atuar na prevenção”, contou Sidney. Segundo ele, a iniciativa envolve satélites para a predição de crises agudas do clima, permitindo movimentar as comunidades ou criar alternativas para promover o acesso.

Pensando em esquentar ainda mais a pauta e trazer soluções, o Einstein também está bastante presente em discussões em Belém, junto aos organizadores e líderes da COP30, onde a cidade amazônica será a sede do evento. Neste ano, também estão na COP29 no Azerbaijão.

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