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Um aspecto muitas vezes negligenciado na questão das queimadas é a grande quantidade de emissões por elas provocadas. (Patricia de Melo Moreira/AFP)
Colunista
Publicado em 4 de novembro de 2024 às 16h00.
O Brasil tem enfrentado níveis críticos de qualidade do ar devido às queimadas que têm se alastrado pelo país. Segundo o INPE, no início de setembro cerca de 60% do território nacional estava coberto por fumaça, principalmente pelas queimadas na Amazônia, além de focos no Cerrado, Pantanal e interior de São Paulo.
Os efeitos das queimadas vão além das áreas diretamente afetadas, com a fumaça sendo carregada por ventos para regiões distantes, como o extremo Sul e o Sudeste. Nesses locais, o céu acinzentado, o sol alaranjado e até mesmo as chuvas pretas serviram como lembretes visuais da gravidade do problema.
Embora o período de seca sempre tenha registrado um aumento nos focos de incêndio, 2024 está sendo um ano atípico: agosto apresentou o maior número de focos de incêndio desde 2010. Além disso, o primeiro semestre de 2024 teve um número de incêndios só superado por 2003 e 2004, anos marcados por intenso desmatamento.
Embora frequentemente intencionais e associadas à limpeza de pastagens, as queimadas de hoje refletem um quadro mais complexo. Este cenário atual, que combina uma queda no desmatamento com um aumento expressivo dos focos de incêndio em relação a 2023, sugere uma ligação estreita com o aquecimento global, com a seca severa que atinge a Amazônia e o Pantanal desde 2023, agravados pelos efeitos do El Niño, intensificando as queimadas.
Um aspecto muitas vezes negligenciado na questão das queimadas é a grande quantidade de emissões por elas provocadas. O carbono, que estava armazenado na vegetação, deixa de ser sequestrado e é liberado na atmosfera, perpetuando um ciclo vicioso: o aquecimento global intensifica eventos climáticos extremos, como secas severas, que provocam mais queimadas, elevando as emissões e agravando ainda mais o aquecimento global.
Este ciclo é uma ameaça direta às metas de descarbonização do Brasil. Em 2022, 48% das emissões brutas do país vieram da mudança de uso da terra e florestas, incluindo desmatamento e queimadas. Isto ressalta que, apesar dos avanços nos setores industriais e energéticos, e de uma matriz elétrica predominantemente renovável, o combate às queimadas e ao desmatamento é crucial para que o Brasil cumpra suas metas climáticas estabelecidas na Contribuição Nacionalmente Determinada (NDC) submetida à ONU.
Segundo dados do SEEG, para alcançar a meta de 2025, estimamos que uma redução de 78% do desmatamento e queimadas seria necessária, considerando a manutenção das emissões líquidas nos demais setores.
O comprometimento do Brasil em combater essas emissões vai além de uma questão interna: ele impacta diretamente nossa reputação internacional. A negligência ambiental tem afetado a imagem do país, especialmente por abrigar grande parte da Amazônia, a maior floresta tropical do mundo.
Se o Brasil deseja se posicionar como líder global em alternativas sustentáveis, como biocombustíveis e hidrogênio verde, aproveitando seus vastos recursos naturais, a redução de emissões deve ocorrer em todas as frentes — incluindo aquelas provenientes de queimadas e desmatamento.