ESG

Apoio:

logo_unipar_500x313
logo_espro_500x313
Logo Lwart

Parceiro institucional:

logo_pacto-global_100x50

Quando carreira e propósito se unem

"Foram anos de altos e baixos no exercício diário de tentar equilibrar vida profissional e pessoal. Admitir que os pratos caem é libertador. A gente não pode abraçar o mundo", conta Patrícia Audi, diretora-executiva da Unica, para EXAME Plural

Patrícia Audi, diretora-executiva da Unica: "O único ativo que eu tinha, a minha educação, me salvou" (Divulgação/Divulgação)

Patrícia Audi, diretora-executiva da Unica: "O único ativo que eu tinha, a minha educação, me salvou" (Divulgação/Divulgação)

EXAME Plural
EXAME Plural

Plataforma feminina

Publicado em 26 de março de 2024 às 10h14.

*Por Patrícia Audi

Sou filha de um professor e uma dona de casa. Tive uma infância simples, com muitas restrições, mas estudei sempre em bons colégios, onde meu pai lecionava. Anos mais tarde, entenderia que o acesso à educação seria minha fortaleza, algo que ninguém nunca poderia me tomar.

Desde cedo entendi que precisava caminhar com as minhas próprias pernas. A autonomia feminina sempre foi muito estimulada na minha casa. Logo no segundo ano de faculdade, comecei a estagiar em um banco estrangeiro. Me dividia entre estudos e emprego, era um malabarismo.

No mesmo ano em que estava me formando, trabalhando enlouquecidamente, engravidei. Uma gravidez maravilhosamente inesperada. Só que para minha surpresa, me deram a entender que isso poria um ponto final na minha carreira por lá. Imediatamente, pedi demissão. Aquela não era a empresa em que gostaria de estar, coerente com aquilo que queria para mim.

Ambientes que estimulassem a autonomia, os resultados e a possibilidade de causar impacto a um número grande de pessoas – era isso que buscava e foi isso que sempre me guiou.

Entendi que o setor público poderia me oferecer essa chance. Estudei, passei em dois concursos públicos. Nem sempre era fácil conciliar a vida familiar e a carreira. Apostando em um projeto familiar, pedi demissão e fomos empreender nos Estados Unidos.

Tempos depois, aos 29 anos, voltava ao Brasil, desempregada, divorciada, sem renda e com a minha grande parceira a tiracolo: minha filha, que já tinha 6 anos.

Nesse momento, tive que recomeçar do zero. Carreiras são feitas de conquistas, mas principalmente de como reagimos aos momentos difíceis. Sim, o fato de reconhecer que erramos é o primeiro passo para a reação. E aí, o único ativo que eu tinha, a minha educação, me salvou. Fiz um terceiro concurso público, e recomecei.

Conseguir canalizar esse espírito público para causar impacto social e isso me moveu por anos. Foram muitos desafios: aprender sobre desigualdade e preconceito, além de lidar com violações diárias de direitos humanos. Todo esse processo me transformou. Liderar 18 mil pessoas, ser responsável pelo pagamento de 21 milhões de beneficiários da Previdência, coordenar o projeto de combate ao trabalho escravo no Brasil, participar da transição de governos, ajudar a transformar Niterói em um dos melhores municípios em gestão fiscal no Brasil, liderar uma secretaria de prevenção a corrupção, foram experiências maravilhosas. Promover o diálogo entre governo e setor privado e fazer com que políticas públicas fossem elaboradas a partir dessa escuta ativa me mostraram que as soluções estruturantes para os problemas brasileiros passam pela construção coletiva.

Depois de tantos anos, resolvi aprender como poderia contribuir no setor privado. E aí, mais uma vez, me reinventei. Aos 50 anos, topei o desafio de assumir a posição de vice-presidente em um grande banco.

De todos os papéis que desempenhei, o que mais me completou foi a maternidade. Acertei, errei, mas fiz tudo o que estava ao meu alcance para o bem da minha filha.

Foram anos de altos e baixos, bons momentos e o exercício diário de tentar equilibrar vida profissional e pessoal. Admitir que os pratos caem é libertador. A gente não pode abraçar o mundo.

Além do estímulo dos meus pais e avós para que fossemos independentes, de minha grande filha e amiga que me apoiou sempre, não posso deixar de dizer como é importante ter um parceiro de jornada. Encontrei uma pessoa que me estimula todos os dias e me desafia a seguir. Brinco que há por aí ‘homens-âncora’, que te fazem navegar ao redor deles. Meu parceiro é um homem pipa, que me dá linha e me faz voar.

Depois de anos no mercado financeiro, resolvi aceitar o convite para assumir a diretoria executiva da Unica, a União da Indústria da Cana-de-Açúcar e Biocombustíveis. Desde então tenho tentado ajudar na busca por soluções para a transição energética tão necessárias no cenário atual de emergência climática.

Tenho uma fé inabalável no Brasil, que domina como nenhum outro país a tecnologia do etanol, fundamental para o processo de descarbonização da matriz energética. Temos agora a chance de assumir, como nação, um papel de protagonismo no mundo.

Saber que o Brasil está na vanguarda da transição energética em grande parte por conta dos biocombustíveis não é pouca coisa.

Mais uma vez, me vejo diante de um novo desafio. Levanto todos os dias animada. Mantenho a coerência do começo da carreira, aprendendo com os tropeços, celebrando as conquistas, levantando e seguindo focada no propósito de contribuir de alguma forma para as pessoas e para o planeta.

* Patrícia Audi é Diretora-Executiva da União da Indústria da Cana-de-açúcar e Bioenergia (UNICA)

Acompanhe tudo sobre:Exame PluralMulheresMulheres executivas

Mais de ESG

Proteína de algas marinhas pode potencializar antibióticos e reduzir dose em 95%, aponta estudo

Como distritos de Mariana foram reconstruídos para serem autossustentáveis

'Rodovia elétrica' entre Etiópia e Quênia reduz apagões e impulsiona energia renovável na África

Ascensão de pessoas com deficiência na carreira ainda é desafio, diz estudo