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Marta Celestino, CEO e consultora de inovação e diversidade (Marta Celestino/Divulgação)
Da Redação
Publicado em 17 de janeiro de 2023 às 09h02.
Atualmente a palavra desafio se traduz num conceito intrínseco à palavra diversidade. Todos os dias segue sendo desafiador trabalhar diversidade no Brasil, por incrível que pareça.
Aos poucos vamos avançando no debate, no entanto seguimos com os mesmos problemas, falta construir políticas, códigos de ética, etiqueta social construtiva e humanizadora. A desigualdade social é um dos grandes desafios da sociedade brasileira e está profundamente relacionada à questão racial, que é a problemática central desta questão.
Segundo dados do IBGE, entre os 10% mais pobres da população brasileira, 78,5% são negros (pretos e pardos) e 20,8% são brancos. Já entre os 10% mais ricos, a situação se inverte: 72,9% são brancos e 24,8% são negros. A ausência de políticas afirmativas de inclusão do negro na economia, o racismo estrutural e a baixa qualidade da educação pública são apontados como fatores causais desses altos índices de desigualdade e da instabilidade social do país.
No Brasil, o desmonte da educação impacta diretamente no avanço das pautas sociais. Temos um trabalho muito forte em torno da educação nas escolas, universidades e grandes empresas. Esses espaços são de extrema importância porque funcionam como mecanismo para dar ritmo às tendências futuras em toda sua pluralidade.
Pode parecer difícil ver uma saída, mas na minha leitura temos boas notícias em relação às tendências futuras. O desmascarar do retrocesso implícito no desmonte de políticas públicas para a base da pirâmide trouxe empatia, reflexões e energia para propor discussões relevantes que vão desde a utilização dos melhores termos visando a inclusão de mais pessoas invisibilizadas e negligenciadas pela sociedade ou pelas instituições ao repensar o papel dos milionários numa sociedade onde tantas pessoas morrem de fome. A humanização e desmistificação de pessoas é uma conquista. Ao menos estamos pensando em como transitam todas as pessoas dentro do sistema de saúde, das universidades e até em suas próprias famílias.
Existe um sentimento geral onde muitos entendem que a humanidade é diversa e que dentro desta diversidade há muitos recortes, nuances e o quanto isso impacta na vida prática, no desenvolvimento de produtos e serviços, no legado de pessoas e empresas capazes de viver e se reinventar dentro desta colmeia de saberes, histórias e vivências que é a sociedade global. Na era do micromarketing, cada história importa!
Estamos vendo as culturas originárias retomando seus lugares na sociedade, em 2016 eu já havia no dito no “TEDx Mulheres Negras”, sobre a vanguarda da diáspora negra e reitero minha percepção de que a África segue sendo o futuro, na forma como enxerga os recursos, e aqui não estou romantizando os problemas que são muitos, mas tornando relevante toda a pluralidade que tem mais do que potencial para reinventar a vida na terra através do bom senso, do luxo, de viver com pouco e reaproveitar tudo o que for necessário.
Os povos indígenas das Américas têm muitas receitas e estamos vendo e ouvindo suas vozes, enquanto o ocidentalismo chafurda na lama do desleixo com a natureza, do abuso e desperdício. Está nítido que precisamos incorporar os saberes ancestrais no dia a dia de todas as pessoas. Chega de excessos, seja descaso, informação e de tudo o que não é básico, precisamos de foco nas pessoas, cada pessoa precisa se entender no todo onde vive e buscar viver feliz e ser útil para sua comunidade. Cada gesto importa!
A tendência ao "humanismo comunitário" pode ser uma grande surpresa, no sentido em que as pessoas estão dando mais valor à vida, aos sentimentos, a ética e se horrorizando com as pessoas vivendo marginalizadas, negligenciadas e ao mesmo tempo estão buscando se engajar em causas como o antirracismo por exemplo.
Espero vivenciar um 2023 muito plural, diverso, humano e principalmente direcionado ao desenvolvimento social, onde todos devem ser considerados em políticas públicas, onde as empresas devem refletir em seus quadros de lideranças a composição da sociedade e que possamos todos nos engajar para que entremos nesse futuro que já chegou, mas que muitos insistem em não deixar entrar.
Acrescento que não haverá futuro para somente uma parte da sociedade, então é responsabilidade de cada ser humano e organização se responsabilizar e seguir em frente sempre! Precisamos receber a ideia de igualdade para liberdade como algo muito atual, muito necessário para que a humanidade tenha um futuro real na terra.
*Marta Celestino é CEO da Ebony English School, pesquisadora, Yalorixá e consultora em Inovação e Diversidade