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"O momento pede este aprofundamento acompanhado do questionamento de dogmas e paradigmas de pensamento e de uma reflexão prática do que leva líderes empresariais a apoiarem políticos, atos e políticas que ultrajam o senso civilizatório", escreve Marta Porto

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Bandeira do Brasil (Leandro Fonseca/Exame)

Bandeira do Brasil (Leandro Fonseca/Exame)

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As ações criminosas contra os poderes da República, com depredação do patrimônio público e danos irreparáveis a obras artísticas e documentos históricos, marca um novo momento de defesa do Estado de Direito e a democracia brasileira.

As cenas que ganharam o mundo através dos principais veículos de mídia e das redes sociais, mostraram a inação e mesmo a cumplicidade das forças de segurança da capital federal diante do assalto planejado aos poderes constitucionais do país. As respostas no âmbito legal e político são fundamentais para restaurar a ordem e a confiança dos cidadãos em suas instituições, mas precisamos ir além se quisermos que cenas como estas não se repitam.

Fica um alerta à sociedade brasileira como um todo, e especialmente as lideranças nos mais diversos setores: a necessária normalização institucional do país, passa em primeiro lugar pela consciência do mal que os últimos anos legaram ao Brasil, os riscos do apoio a posturas políticas extremistas e da ideologização do aparato de segurança e das forças militares.

Quero destacar dois pontos para uma agenda que avance além das necessárias ações punitivas: a pactuação de políticas públicas nas áreas de educação, comunicação e cultura que elaborem estratégias de longo prazo para a formação de uma cultura democrática ancorada em valores civilizatórios, e no mundo corporativo uma revisão dos programas de MBAs e outros programas de formação para lideranças empresariais. Neste último caso, a tarefa é a de incluir nestes programas e currículos matérias como as de filosofia, ética e educação constitucional. E de visões e pontos de vistas diversos quando se trata de abordar temas econômicos, sociais e políticos. A história das constituições, como bem mostrou a série do Jornal Nacional, é uma aula de como as sociedades, incluindo o Brasil, conquistaram a duras penas valores democráticos inscritos no Estado de Direito. Apostar no conhecimento e no pensamento critico são essenciais se quisermos uma sociedade orientada para o seu melhor.

Essa formação também implica na capacidade de analisar cenários complexos e dar respostas não simplistas para problemas estruturais que corroem a confiança nas instituições e tornam o país suscetível a atos de conspiração, como os que assistimos neste fatídico 8 de janeiro. O que uma formação cultural sólida ancorada em valores democráticos e republicanos nos oferece é uma régua ética onde a leitura crítica de eventos e sinais políticos e sociais não nos autoriza a cair em inação, omissão ou pior em cumplicidade em momentos em que o peso das lideranças conta para o barco não adernar.

A agenda ESG é uma oportunidade para um olhar mais aprofundado sobre a realidade nacional, seus desafios éticos, econômicos, ambientais, sociais e políticos. Mas, é preciso sair de fórmulas e matrizes fáceis para entender que em um ambiente de caos ou com projetos de fôlego curto, não venceremos o desafio de aumentar a produtividade, promover uma prosperidade compartilhada e criar as bases para inserir o Brasil como uma potência ecológica e inclusiva.

Em tempos de profundas mudanças, choques contra os sistemas instituídos e crises combinadas, ter internalizado um balizador ético é crucial para a tomada de decisões em qualquer instância que elas se façam necessárias.

E o momento pede este aprofundamento acompanhado do questionamento de dogmas e paradigmas de pensamento e de uma reflexão prática do que leva líderes empresariais a apoiarem políticos, atos e políticas que ultrajam o senso civilizatório, desestabilizam as instituições do país e minam com as regras jurídicas inscritas pelo sistema legal brasileiro. Uma mesa mais plural, com profissionais dos mais diversos campos, origens e pontos de vista é o primeiro passo, mas não é suficiente para fazer frente aos desafios colocados.

Se a democracia se mantiver como um projeto de ativistas e poucas cabeças iluminadas, e isolado do seu estatuto maior que é a conquista de cidadania para toda a população brasileira, cidadania esta inscrita nos termos constitucionais de dignidade da vida humana e da coesão social e democracia, o Brasil continuará como um projeto inconcluso e sob permanente retrocesso.

*Marta Porto é jornalista, crítica da cultura e fundadora da Marta Porto Consultoria.

**As opiniões expressas no artigo não, necessariamente, representam as opiniões da EXAME.

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