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São muitas as evidências que nos chamam a colocar as mulheres no centro das discussões e decisões sobre as mudanças climáticas (Uriel Sinai/Getty Images)
Diretora Executiva do Instituto Natura
Publicado em 21 de novembro de 2024 às 11h20.
Última atualização em 21 de novembro de 2024 às 14h23.
A crise climática não afeta todos da mesma forma. Em um recente encontro do Clube EXAME ESG, aprendi que o risco de um desastre pode ser descrito pela fórmula R = P x E x V (risco = perigo x exposição x vulnerabilidade). A temperatura média global já aumentou cerca de 1,1°C acima dos níveis pré-industriais. Ou seja, no final, todos nós temos que lidar com o perigo aumentado de um péssimo negócio – que não foi, necessariamente, contratado por um de nós, mas as consequências maiores são para as populações mais expostas e mais vulneráveis.
As mulheres são, reconhecidamente, as mais impactadas. Se não, vejamos. Segundo o Communiqué do W20[1], as mulheres e as meninas representam 80% das vítimas dos desastres climáticos, evidenciando o impacto desproporcional sobre elas, uma vez que constituem uma parcela ainda vulnerabilizada socioeconomicamente e sub-representadas politicamente. Até onde a vista alcança, o perigo não tende a diminuir. Pelo contrário, as metas e políticas atuais de redução de emissões de Gases de Efeito Estufa (GEE) são insuficientes para limitar o aquecimento global a 1,5 C. O custo global dos danos causados pelas alterações climáticas é estimado entre 1,7 bilhões e 3,1 bilhões de dólares por ano até 2050. Este risco desproporcional é reconhecido por diferentes fontes. Para citar algumas apenas:
São muitas as evidências que nos chamam a colocar as mulheres no centro das discussões e decisões sobre as mudanças climáticas. Por isso mesmo, o W20 conclama os países do G20 a assegurar a representação equitativa de mulheres como tomadoras de decisão e negociadoras na Conferência das Partes (COP) e em todas as outras reuniões multilaterais sobre mudanças climáticas.
Não se trata apenas de uma questão de justiça e avanço do ODS 5, mas uma estratégia inteligente para superar os principais detratores do desenvolvimento sustentável: o acesso desigual à educação, oportunidades econômicas, as violações dos direitos humanos de mais da metade da população, no caso do Brasil.
De fato, as mulheres têm um papel essencial e incontornável na construção da resiliência climática, do desenvolvimento sustentável e da promoção da paz e segurança, temas indissociáveis.
Elas fazem isso de múltiplas formas. Atuam na gestão de recursos naturais, especialmente em áreas rurais, liderando práticas agrícolas e de uso da água mais racional, promovendo a segurança alimentar e hídrica. Promovem a resiliência comunitária, durante crises e conflitos, assumindo papéis de liderança em esforços de resposta local, reconstrução, restauração de infraestrutura e promoção da coesão social. Elas frequentemente lideram movimentos para denunciar violações de direitos e proteger comunidades vulneráveis. Sabemos que uma sociedade civil ativa e organizada é o melhor preditor de avanços legislativos e de políticas públicas eficazes, visando práticas regenerativas e protetoras da vida humana.
Quando a mitologia grega capturou em um nome feminino, - Gaia - o vínculo com a natureza e sua essência vital, talvez tenha deixado para nós um chamado, que só poderíamos ignorar para nosso próprio prejuízo, que nos convoca a pensar soluções e estratégias para a resiliência climática a partir da perspectiva das mulheres em suas interseccionalidades.
[1] W20 (Women's 20) é um grupo de engajamento oficial do G20.