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No meio ambiente, vitória de Biden fará EUA virar “Europa”

Os candidatos têm visões completamente opostas sobre os temas ambientais. Um governo democrata deve acelerar a transição para a economia de baixo carbono

O democrata Joe Biden, se eleito, prometeu retornar os Estados Unidos ao Acordo de Paris (Brendan McDermid/File Photo/Reuters)

O democrata Joe Biden, se eleito, prometeu retornar os Estados Unidos ao Acordo de Paris (Brendan McDermid/File Photo/Reuters)

RC

Rodrigo Caetano

Publicado em 3 de novembro de 2020 às 13h02.

Não há dúvidas de que democratas e republicanos possuem visões de mundo diferentes. Mas, em uma área específica, a discordância é ainda mais gritante: no meio ambiente. Caso o candidato democrata Joe Biden seja eleito, a expectativa é de uma guinada completa na política ambiental dos Estados Unidos, que ficará mais parecido com a Europa de hoje do que com o país nos tempos da Guerra Fria, passado vangloriado por Donald Trump em seu saudosismo populista. 

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“As mudanças serão percebidas nos 100 primeiros dias”, afirma Stefano De Clara, diretor da Associação Mundial de Mercados de Emissões (IETA), entidade criada para estabelecer diretrizes de comercialização de carbono. “Em vários aspectos, será uma postura muito mais alinhada com a União Europeia.” 

O velho continente é o bloco que vem puxando a agenda da nova economia. Lançado durante a pandemia, o programa Green Deal prevê mais de 600 bilhões de euros em investimentos na economia de baixo carbono. A Europa também pressiona para regulamentar o artigo 6 do Acordo de Paris, que trata da criação de um mercado de carbono global. 

Biden já afirmou que, se eleito, colocará os EUA de volta no acordo. A desistência dos americanos, imposta por Trump, passa a valer, oficialmente, no dia seguinte à eleição. Com o atual presidente, essa decisão não será revista. O democrata terá de iniciar o processo de retorno quando assumir. Mesmo com um hiato de presença, a maior economia do mundo voltará a tempo de participar da próxima Conferência do Clima da ONU (COP), marcada para dezembro de 2021, em Glasgow, na Escócia. 

Esse retorno dos americanos à mesa de negociações não é uma boa notícia para o governo brasileiro. Em relação ao artigo 6, o Brasil defende que créditos gerados por esforços anteriores à regulamentação sejam válidos. Já os países desenvolvidos, em especial os da União Europeia, são contra. Eles alegam que boa parte desses créditos não se refere a esforços legítimos de redução de emissões e que há, ainda, a possibilidade de que um país receba duas vezes pelo mesmo esforço, em virtude da dificuldade de aferir os resultados anteriores.

Quando Trump retirou a assinatura dos Estados Unidos do acordo, tornou mais fácil para o Brasil fortalecer sua posição, já que, durante o governo democrata que antecedeu a atual gestão, o entendimento americano sobre a questão estava alinhado com o europeu.

Na política energética, Biden também fará mudanças significativas. As petroleiras americanas devem perder capacidade, em mais de 1 milhão de barris por dia, num governo democrata.  Uma das promessas de Biden é acabar com operações petrolíferas em terras federais. “A maior parte do petróleo americano vem de propriedades privadas, mas, existem alguns poços importantes em terras do governo”, afirma Rene Santos, analista da consultoria Standard & Pool Plats, responsável pela região da América do Norte. “O Golfo do México e o estado do Novo México seriam os mais afetados.” 

Essa questão do petróleo tem sido explorada por Trump para vencer na Pensilvânia, estado que deve ser decisivo no pleito e onde o fracking, técnica para extrair petróleo de rochas no subsolo, é muito utilizada. 

Para as principais petroleiras dos Estados Unidos, Exxon e Chevron, o risco é maior. Há uma distinção clara entre as estratégias das duas americanas e as das grandes europeias — Shell, Total e BP. Também por uma questão de cenário doméstico, as europeias estão acelerando a transição para as fontes renováveis de energia. A BP, por exemplo, prometeu reduzir a produção de petróleo e gás em 40% ao longo da próxima década e multiplicar por 20 a produção de energia renovável. 

A Exxon, por sua vez, dobrou a aposta no petróleo. O presidente da companhia, Darren Woods, recentemente, enviou um e-mail aos funcionários fazendo uma ampla defesa dos combustíveis fósseis, chamando-os de “propósito superior” que ajuda a prosperidade global em um momento em que rivais europeias veem as energias renováveis como o futuro. Em parte, o fato da União Europeia estar forçando a transição para a economia de baixo carbono motiva essa discrepância de estratégias. Com Biden, isso deve mudar. 

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