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Nas Olimpíadas, Paris quer metade das emissões de Tóquio e construções sustentáveis

Estratégia dos Comitês Olímpico e Paralímpico para reduzir impactos dos eventos esportivos inclui reutilização de pontos históricos e mudanças nos eventos para incluir ações com menor pegada de carbono

Com os olhos do mundo voltados para a França, o governo e os comitês Olímpico e Paralímpico atuam para trazer o ESG de vez para as competições esportivas (Gonzalo Fuentes/Reuters)
Letícia Ozório

Repórter de ESG

Publicado em 25 de julho de 2024 às 07h00.

Última atualização em 19 de setembro de 2024 às 11h14.

As Olimpíadas de Paris, que começam nesta sexta-feira, 24, buscam ser as “mais sustentáveis da história”. Com os olhos do mundo voltados para a França, o governo e os comitês Olímpico e Paralímpico atuam para trazer o ESG de vez para as competições esportivas.

Na busca pela redução das emissões, as medalhas de ouro ficam em segundo plano para a França. A meta principal é de atingir metade da pegada de carbono das últimas edições das Olimpíadas. Em Tóquio (2021), o Comitê Olímpico estimou2,73 milhões de toneladas de emissões de CO2, mas comprou créditos equivalentes a 4,38 milhões de toneladas. Nas Olimpíadas do Rio de Janeiro, em 2016, as emissões atingiram 3,5 milhões de toneladas, e em Londres, 2012, 3,4 milhões de toneladas.

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Uma das ferramentas criadas para diminuir as emissões de gases causadores de efeito estufa foi o Treinador Climático para Eventos (tradução literal de Coach Climat Événements ). Criado pelo Ministério do Esporte da França e pelos comitês Olímpico e Paralímpico, o serviço calcula as emissões de carbono de eventos esportivos relacionados às Olimpíadas.

A partir de um questionário, o programa busca entender o impacto ambiental do evento de acordo com a atividade física, número de participantes, duração e necessidades de cada esporte. Outras informações ajudam a calcular a pegada de carbono corretamente, como detalhes de transporte, energia e alimentação durante a competição. O site apresenta o total de emissões previstas para o evento e, como um treinador de esportes, informa etapas para diminuir os “erros” cometidos.

Entre as soluções apresentadas para reduzir a pegada de carbono estão escolhas simples, mas que dada a dimensão dos Jogos -- que devem receber mais de 10 mil atletas Olímpicos, 4 mil atletas Paralímpicos e 15 milhões de visitantes --, têm um impacto positivo: utilizar materiais recicláveis e reutilizáveis, escolher centros esportivos que possam ser acessados a partir de transporte público, serviços de alimentação com opções vegetarianas e veganas e o uso de energias limpas durante a competição.

Até novembro de 2023, data do último relatório de sustentabilidade das Olimpíadas, mais de 560 eventos de 46 modalidades esportivas já tinham calculado suas emissões, o que ajudará a reduzir uma média de 24% da pegada de carbono nas competições. A plataforma pode ser acessada, em francês, por meiodeste site.

O motivo de toda essa preocupação se relaciona com o próprio impacto que os franceses podem sofrer com o aumento das temperaturas globais. De acordo com o estudo “O mundo dos esportes em +2ºC e +4ºC”, da ONG ambiental WWF França, os franceses podem perder de 24 a 66 dias de atividades esportivas caso as temperaturas ultrapassem os 32ºC.

Veja como está Paris para as Olimpíadas de 2024

Torneios em pontos históricos - e adaptados

A sustentabilidade também foi prioridade na escolha de onde os torneios vão acontecer. Entre as construções que receberão os jogos olímpicos, a gigante parcela, de 95%, já eram infraestruturas existentes ou temporárias, informou a diretora de Excelência Ambiental das Olimpíadas, Georgina Grenon, para a Folha de São Paulo.

Cartões portais da cidade, como a Torre Eiffel, serão preparados e adaptados para receber as competições. O principal ponto turístico da capital francesa será espaço para disputa de vôlei de praia. O Palácio de Versalhes receberá provas de hipismo e pentatlo moderno. O estádio Roland Garros, sede dos torneiros mundiais de tênis, também receberá as competições de boxe. O Parc des Princes, estádio do clube Paris Saint-Germain, é onde as partidas de futebol acontecerão.

A única instalação que foi construída do zero para as Olimpíadas é o centro aquático de Saint-Denis, bairro ao norte de Paris no qual, segundo as autoridades francesas, metade das crianças de até 12 anos não sabe nadar. O objetivo é que o centro receba as competições de nado artístico, polo aquático e saltos ornamentais e, posteriormente, fique como um legado para a região.

Com um teto feito por 5 mil metros quadrados de painéis fotovoltaicos, a construção de baixo carbono coletará a energia necessária para toda a iluminação interna. Além disso, a estrutura utiliza madeira e materiais reciclados, o que permite uma climatização que reduz o uso de ar-condicionado em 20%. Os assentos permanentes (cerca de 2.500 lugares) foram construídos a partir de tampas de garrafas plásticas recicladas.

A construção teve custo de 151 milhões de euros, equivalentes a quase R$ 900 milhões. A partir do próximo ano, as piscinas de 25m e 50m serão abertas para a população como um complexo poliesportivo.

Até mesmo a Vila Olímpica, bairro que hospedará os atletas durante os jogos olímpicos, foi construída visando a redução doimpacto ambiental. A diminuição nas emissões na comparação com construções tradicionais é de até 30%, segundo o Comitê Olímpico. Construída com resfriamento geotérmico, sistema de climatização que pode diminuir a temperatura em até 10ºC na comparação com o clima externo, a Vila Olímpica não conta com aparelhos de ar-condicionado – decisão polêmica e que gerou pressão no Comitê Olímpico, já que a Europa está no verão.

As Olimpíadas ainda motivaram a França a implementar uma promessa de décadas: limpar orio Sena, principal corpo d’água do Norte do país. O investimento para a limpeza foi de 1,4 bilhão de euros (mais de R$ 7,5 bilhões). Para provar que as águas parisienses estão aptas para a prática de esportes, a prefeita de Paris,Anne Hidalgo, e a ministra dos esportes, Amélie Oudéa-Castéra, nadaram nas águas do Sena, mas manter a qualidade do rio enfrenta desafios como o excesso ou a escassez de chuvas.

Veja os preparativos das Olimpíadas de Paris 2024

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