Não sabe o que fazer com as mudanças climáticas? Pergunte a uma seguradora
Só no ano passado, enchentes geraram um prejuízo global de 80 bilhões de dólares. Essa conta precisa ser paga
Rodrigo Caetano
Publicado em 1 de abril de 2022 às 07h00.
“As comportas estão abertas” é o título de um estudo divulgado pelo instituto da resseguradora Swiss Re. O trabalho apresenta um balanço das enchentes que aconteceram em 2021. Foram registradas 50 inundações severas ao longo do ano, no mundo, que geraram 80 bilhões de dólares em prejuízos, com apenas 20 bilhões desses eventos segurados. “O crescimento das perdas decorrentes de enchentes está cara vez mais aparente”, afirma Jérôme Jean Haegelim economista-chefe da Swiss Re.
Resseguradoras são um tipo de seguradora das seguradoras. São elas que respondem pelos maiores prejuízos, geralmente decorrentes de grandes obras, transporte de cargas e outras atividades de muito investimento. Nos últimos anos, empresas como a Swiss Re estão se tornando mais vocais em relação a um dos maiores riscos da atualidade: as mudanças climáticas. Isso se deve ao crescimento das catástrofes naturais, que geram prejuízos recordes.
O ano passado deu sequência a uma tendência perigosa. Os chamados riscos secundários se mostraram mais danosos que os primários. A indústria divide os desastres naturais em duas categorias. Na primeira (riscos primários), estão incluídos eventos menos frequentes, mas com grande potencial de destruição, como terremotos, furacões etc. Na segunda (riscos secundários), estão aqueles que ocorrem com certa frequência, porém, costumam gerar perdas medianas, casos de enchentes, secas, tempestades, deslizamentos e incêndios florestais.
Enchentes geram tanto prejuízo quanto furacões
“Enchentes afetam um terço da população global, mais do que qualquer outro risco”, afirma Martin Bertogg, chefe da área de riscos geológicos da Swiss Re. “Considerando a escala da devastação, as enchentes deveriam receber o mesmo rigor de tratamento do que riscos primários, como furacões.”
No período entre 2011 e 2021, as seguradoras pagaram 99 bilhões de dólares por eventos decorrentes de inundações, quase 30 bilhões a mais do que no período entre 1991 e 2010 (os valores foram atualizados para 2021).
As enchentes não são o único desastre natural que cresce nos últimos anos. Nos últimos cinco anos, a média de eventos que resultam em prejuízos maiores do que 1 bilhão de dólares ficou em 16 por ano, quase três vezes a média registrada na década passada. O total de perdas chegou em 101 bilhões de dólares, o dobro do registrado nos cinco anos anteriores.
Mudanças climáticas são contabilizadas no preço dos seguros
Os modelos de precificação utilizados pela indústria já contam com informações sobre os impactos dos desastres naturais. “Porém, as incertezas do que pode suceder no futuro tornam difícil a criação de modelos exatos de dados”, afirma Roberto Hernández, diretor executivo de Seguros Corporativos da seguradora Zurich no Brasil. “As seguradoras precisam estar atentas aos riscos ambientais, que são uma ameaça real e cada vez mais frequente no Brasil.”
Para lidar com essas incertezas, diz Hernandéz, as seguradoras precisam prestar atenção ao cenário, e ajudar seus clientes a se precaver. “Precisamos ajudar as empresas a adotar medidas de transição, seja para prevenção quanto aos riscos, seja na busca de um planeta mais sustentável, que ajudem a frear as consequências das mudanças climáticas”, afirma.
A Zurich publicado, anualmente, um estudo com os principais riscos globais. Na edição deste ano, a seguradora apontou que os riscos climáticos dominam as preocupações, junto com divisões sociais, riscos cibernéticos e a recuperação desigual da economia pós-pandemia.
A crise climática é o maior risco para a humanidade
“A crise climática continua sendo a maior ameaça de longo prazo que a humanidade enfrenta. A omissão de ação sobre as mudanças climáticas pode reduzir o PIB global em um sexto e os compromissos assumidos na COP26 ainda não são suficientes para atingir a meta de 1,5oC”, afirmou, no relatório, Peter Giger, chefe executivo de riscos do grupo suíço. “Não é tarde demais para governos e empresas agirem sobre os riscos que enfrentam e conduzirem uma transição inovadora, determinada e inclusiva que proteja as economias e as pessoas.”
Para a Swiss Re, é fundamental que os setores de seguros e público atuem em conjunto para direcionar o desenvolvimento econômico a áreas que representem menor risco e incentivar medidas protetivas, como infraestrutura verde. “Isso vai manter os ativos seguráveis”, afirma o economista chefe da resseguradora, Jérôme Jean Haegeli. E se as seguradoras não segurarem a bronca, no pior dos casos, os governos e a sociedade terão de arcar com todo prejuízo.