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Não é Gucci, é Paraisópolis: Empreendedoras mudam a vida de mulheres e levam moda da favela para NY

Em entrevista exclusiva à EXAME, Maria Nilde e Suéli Feio detalham a trajetória do Costurando Sonhos, que já impactou mais de 600 mulheres de Paraisópolis

Suéli Feio e Maria Nilde, fundadoras do Costurando Sonhos, de Paraisópolis na 5ª Avenida, em Nova York (Leandro Fonseca/Exame)

Suéli Feio e Maria Nilde, fundadoras do Costurando Sonhos, de Paraisópolis na 5ª Avenida, em Nova York (Leandro Fonseca/Exame)

Marina Filippe

Marina Filippe

Publicado em 24 de setembro de 2022 às 09h51.

Última atualização em 24 de setembro de 2022 às 12h34.

De Nova York*

Após presenciar a agressão de um homem contra sua esposa e filho, em 2017, Maria Nilde e Suéli Feio passaram a discutir como mudar a vida das mulheres de Paraisópolis, em São Paulo, ao gerar empoderamento econômico e, consequentemente, tirá-las de situação de violência doméstica, considerando que muitas delas ficam conectadas aos seus companheiros também por falta de renda própria.

"Primeiro pensamos em promover um curso de culinária, pela proximidade de Paraisópolis com o Morumbi, um dos bairros mais ricos de São Paulo. Mas entendemos que as mulheres já cozinhavam em seus trabalhos e casas. Depois, pensamos em algo no universo da beleza, mas recuamos porque deixá-las mais bonitas também poderia gerar ciúmes e violência dos parceiros. Aí decidimos pela produção em moda, acreditando na transformação social. Assim, nasceu o programa de profissionalização Costurando Sonhos", disse Suéli Feio em entrevista exclusiva à EXAME (assista ao vídeo abaixo).

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Desde então foram mais de 600 mulheres capacitadas, podendo contar também com a ajuda do Sebrae para técnicas de empreendedorismo e desenvolvimento do próprio negócio. "Além disso, começamos o Costurando Sonhos com auxílio do Instituto C&A, que nos ajudou a entender as tendências de moda, precificar e profissionalizar as mulheres", diz Suéli.

Para a produção das peças, há alguns caminhos. Um deles é por meio de doações de insumos das empresas, como uma jaqueta criada a partir de uniformes da companhia de energia Enel e da empresa de aviação Azul. Outro modelo é a partir da prestação de serviços para as companhias.

"Temos linhas de produtos corporativos como ecobags, uniformes e mais. Quando a empresa nos contrata conseguimos fazer outros investimentos", diz Maria Nilde.  Os produtos são sempre feitos a partir de materiais reutilizados, priorizando a economia circular, como apresentaram as empreendedoras em evento do Pacto Global Brasil, em Nova York.

De Paraisópolis para o mundo

Por meio de parceiras, o Costurando Sonhos tem ocupado espaços ao redor do mundo. O pontapé inicial foi a partir de uma parceria com o G10 Favelas, fundado por Gilson Rodrigues, para um desfile na São Paulo Fashion Week. Depois, as empreendedoras foram à Milão, em um desfile em parceria com a marca de sapatos sustentáveis Dotz.

As peças de roupas também chamam atenção em espaços como a ONU. "A Patricia Vilela, uma parceira  nossa, foi fazer uma discurso na ONU e quando ela saiu perguntaram se a jaqueta feita a partir do uniforme da Azul é da marca Gucci. Ela respondeu: não é Gucci, é Paraisópolis. Essa é uma provocação importante que reforça como a favela é potência", diz Suéli.

Hoje Suéli e Maria Nilde seguem formando mulheres, produzindo roupas e, principalmente, mostrando que é possível ser referência da força econômica das favelas. "Estamos agora na 5ª Avenida, em Nova York, para dizer que é possível chegar aonde se deseja. E que sempre é tempo de começar de novo. Somos mulheres com mais de 50 anos, mostrando que é possível ser o lado bom da favela a partir de investimentos", afirma Suéli.

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