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Na CBA, o legado de Antonio Ermírio de Moraes se concretiza no ESG

Em entrevista à EXAME, o CEO da companhia, Ricardo Carvalho, detalha a estratégia carbono zero e como a visão de Moraes culminou na união das palavras mineração e sustentável

Leandro Faria, gerente-geral de sustentabilidade (à esq.), e Ricardo Carvalho (ao centro), CEO da CBA, e David Canassa, diretor executivo da Reservas Votorantim: atuação integrada (Leandro Fonseca/Exame)
RC

Rodrigo Caetano

Publicado em 4 de outubro de 2022 às 14h46.

Nas três décadas em que esteve à frente da Votorantim, o empresário Antonio Ermírio de Moraes construiu uma das mais respeitadas carreiras entre os homens de negócio brasileiro. Não apenas pela competência em gerir um ícone da industrialização brasileira, mas também pela maneira holística de enxergar os negócios do grupo. Moraes acreditava que as empresas são um vetor de desenvolvimento social e, portanto, devem gerar benefícios a toda a sociedade.

Essa visão se materializava em sua estratégia. Moraes dizia ser importante ganhar dinheiro produzindo, por isso nunca permitiu grandes incursões no mercado financeiro. Ideologicamente, queria industrializar o Brasil e elevar a qualidade de vida da população por meio da geração de empregos. “Ele tinha uma visão muito parecida com o que é, hoje, o capitalismo de stakeholder”, afirma Ricardo Carvalho, presidente da Companhia Brasileira de Alumínio (CBA), mineradora de bauxita e fabricante de alumínio que faz parte do Grupo Votorantim. “Por isso, quando iniciamos nossa jornada ESG, foi quase natural.”

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A CBA, relata Carvalho, era a “menina dos olhos” de Moraes. Sua operação resume, na prática, a visão holística do empresário. A produção do alumínio depende de uma quantidade considerável de energia e, para garantir o abastecimento, o grupo investiu em uma série de hidrelétricas na região do Vale do Ribeira, interior de São Paulo – sete ao todo. A estratégia começou com José Ermírio, pai de Antonio. Além de construir as usinas, ele comprou as áreas ao redor. Antônio Ermírio deu um passo adiante e decidiu conservar toda a mata nativa das terras adquiridas. “Ele achava que precisava conservar o meio ambiente para não faltar água nas usinas. É um pensamento muito avançado para a época”, diz Carvalho.

De fato, a CBA se beneficiou da visão de futuro de Moraes e, hoje, conta com um dos menores custos de energia da indústria global. Não somente isso, por usar energia hídrica, a empresa consegue produzir alumínio emitindo muito menos carbono que seus concorrentes, seis vezes menos para ser exato, o que a coloca numa posição privilegia no cenário global de transição para a economia de baixo carbono.

Metas de redução de carbono

Neste ano, a CBA se tornou a primeira produtora de metal primário do mundo a ter seus compromissos de redução de carbono aprovados pela Science Based Targets Initiative (SBTi), iniciativa que mostra como as ações estão fundamentadas pela ciência para combater as mudanças climáticas. Até 2030, a companhia estima diminuir em 40% os indicadores de carbono, abrangendo as etapas de produção e fornos, e em 35% as emissões absolutas, englobando mineração, fundição e produtos transformados.

Essa redução se dá sobre uma base já pequena, o que garante subsídio para a principal estratégia global da mineradora: se tornar a maior fornecedora de alumínio de baixo carbono do mundo. “Fomos a primeira empresa de alumínio do mundo a fazer esse trabalho de forma tão estratégica”, diz Leandro Campos de Faria, gerente-geral de sustentabilidade da CBA.

Segundo Carvalho, não há um contexto melhor para se produzir alumínio do que o brasileiro. “No momento em que o mundo está falando em taxação de carbono, isso é um diferencial importante”, afirma o presidente. Essa conquista se deve à visão de líderes como Antonio Ermírio de Moraes, capaz de enxergar os negócios como uma rede de colaboração entre pessoas e dependente do meio ambiente. “O ESG é o legado do Antonio Ermírio.”

Legado das Águas

Ideias, no entanto, não devem ser escritas na pedra. Ainda que a visão de Moraes estivesse à frente de seu tempo, ela pode ser aprimorada e evoluir. Assim está sendo com as reservas florestais criadas por ele para garantir a água das usinas hidrelétricas. Em 2012, a CBA e outras empresas do grupo (Nexa, Votorantim Cimentos e Votorantim Energia) criaram o Legado das Águas, maior reserva privada de Mata Atlântica do Brasil. O projeto foi institucionalizado por meio de uma parceria com o Governo do Estado de São Paulo, pela qual a Votorantim S.A. se compromete a proteger a área, ao mesmo tempo em que cria maneiras de gerar recursos com negócios sustentáveis.

“É uma evolução da filantropia e da sustentabilidade”, afirma David Canassa, diretor executivo da Reservas Votorantim, empresa responsável por gerir o Legado. “A ideia é que, por meio do desenvolvimento sustentável, o projeto se mantenha sozinho.” Entre as possibilidades de negócios ligados à reserva estão o turismo sustentável, que já é explorado, a promoção de pesquisas científicas, educação ambiental e proteção de espécies ameaçadas de extinção. Há também a preocupação em integrar as reservas aos demais negócios do grupo, especialmente como uma forma de promover a inovação por meio da ciência.

O modelo de negócios, diz Canassa, não está totalmente pronto. Mas essa é outra boa característica da cultura empresarial do grupo: a capacidade de se transformar. E se o passado garante à CBA a menor pegada de carbono da indústria de alumínio, seu futuro será garantido pelo desenvolvimento tecnológico. Carvalho afirma que a empresa trabalha em novas formas de produzir o alumínio que podem garantir a neutralidade em carbono. Esse pode ser o legado da CBA: a união das palavras mineração e sustentável. O que antes era considerado um sacrilégio, pode se tornar um benchmark industrial.

Em sua coluna no jornal Folha de São Paulo, que manteve de 1991 a 2009, Antonio Ermírio escreveu: “País com reserva de competência é país respeitado, tranquilo, onde se valoriza muito mais a cultura, a inteligência e a integridade de seu povo, acima das matérias-primas ou até mesmo da chamada reserva de mercado”. Em que pese os erros e acertos, ou os impactos gerados ao longo dos anos, quando se valoriza o humano em detrimento do material, geralmente, o resultado é positivo. E perene.

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