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Moda e clima: o setor que dita tendências precisa decidir se quer liderar

Na encruzilhada da COP30, a moda brasileira tem o potencial de liderança climática e a urgência de transformar compromissos em ação

Taciana Abreu, diretora de sustentabilidade da Riachuelo: "O Brasil tem o que o mundo precisa e a moda brasileira precisa acreditar nisso" (Pedro Henrique Cardoso / Divulgação)

Taciana Abreu, diretora de sustentabilidade da Riachuelo: "O Brasil tem o que o mundo precisa e a moda brasileira precisa acreditar nisso" (Pedro Henrique Cardoso / Divulgação)

Da Redação
Da Redação

Redação Exame

Publicado em 7 de dezembro de 2025 às 10h00.

*Taciana Abreu, diretora de sustentabilidade da Riachuelo

Na beira da floresta amazônica, a COP30 colocou a moda diante de um espelho incômodo. A indústria que mais emprega no mundo e que responde por 4% a 8% das emissões globais de gases de efeito estufa, ainda comparece às negociações climáticas mais como espectadora elegante do que como protagonista responsável.

Mas a ausência no centro do debate contrastou com o impacto e a urgência climática que recaem sobre o setor.

A moda pode ser catalisadora de uma transição justa. Temos em nossas mãos um poder cultural: nenhum outro setor circula tão rápido entre a passarela, o feed, a rua e o parlamento. Se levarmos esse poder a sério, a moda pode tornar a transição desejável.

O Fashion Industry Charter for Climate Action, braço oficial da UNFCCC para o setor, publicou durante a conferência um comunicado com três exigências claras para governos e empresas, sendo elas: Acesso acelerado à energia renovável; Divulgação obrigatória de metas e planos climáticos corporativos e Financiamento para descarbonizar cadeias produtivas.

ONGs como Stand.earth e Global Fashion Agenda foram ainda mais diretas: é preciso que o Charter deixe de ser um pacto de intenções e se torne um pacto de obrigações. Metas regionais, eliminação do carvão, transparência sobre lobby e revisão de cadeias inteiras entraram na lista.

A sociedade civil brasileira fez o que a indústria global não fez. Se a moda não ocupou a COP30 oficialmente, movimentos e organizações brasileiras fizeram questão de colocá-la em pauta antes e durante a conferência.

A Rio Ethical Fashion (REF) apresentou uma Carta-Manifesto2, com dez diretrizes para uma moda regenerativa. Já a Rede Brasil, lançou o Posicionamento pela Transição Justa dos Setores de Moda e Têxtil3, enquanto a Fashion Revolution Brasil lançou o Índice de Transparência da Moda - Edição Clima4, reconhecido como solução climática pelo Mutirão da COP30.

Todos apontam para a mesma conclusão: não faltam compromissos, falta coerência. Essa é uma das verdades duras que a COP escancarou. Além disso, os planos climáticos da moda ainda estão muito aquém da ciência - as emissões seguem crescendo, não reduzindo.

A indústria continua apostando em roupa como produto mais do que serviço e se nada mudar, chegaremos a 169 milhões de toneladas de têxteis até 2030, simplesmente incompatível com o limite já validado por cientistas de não ultrapassarmos o aquecimento do planeta para além de 1,5°C, sob o risco de eventos climáticos.

Quem paga a conta são territórios vulneráveis e trabalhadores. Precisamos de planos sérios de transição justa que não deixem ninguém para trás. Acabou o tempo das “coleções cápsula sustentáveis”. Chegou a hora do setor enfrentar seus quatro temas inadiáveis: redução da utilização de combustíveis fósseis, transparência e rastreabilidade completas, economia circular como estratégia e inovação regenerativa.

No que diz respeito à redução real de combustíveis fósseis na cadeia, são necessárias metas de transição energética e eliminação gradual dos combustíveis fósseis nas etapas quentes (tingimento, estamparia, fiação).

Além disso, processos sérios de rastreabilidade completos são essenciais. Sem eles, não há como provar desmatamento zero, condições dignas ou energia limpa.

Economia circular é fundamental. Precisamos reciclar, reduzir, reutilizar, reinventar uso, consumo e produção. E na inovação regenerativa, é preciso enxergar a sociobioeconomia como nova fronteira de design, materiais e modelos de negócio.

No fim do dia, e da COP, a Amazônia ensinou o que a indústria ainda não aprendeu. O desfile-manifesto “Vestir Amazônia, Reflorestar o Clima”, da Assobio, com apoio da Riachuelo, fez a pergunta que ficou ecoando no Hangar da COP: O que você tem vestido para o futuro do clima?

A resposta não é sobre tendência. É sobre responsabilidade. O que vem agora: coragem, coerência e política. Se queremos uma moda capaz de enfrentar o futuro, precisaremos nos articular e construir o nosso mapa do caminho, com a pressa que o clima pede e a garantia de ações efetivas. Mas, para isso, a indústria precisa decidir agora: ser lembrada por liderar.

O Brasil tem o que o mundo precisa e a moda brasileira precisa acreditar nisso. Antes mesmo da abertura oficial da COP, o Brasil foi colocado sob holofote pela UN Fashion and Lifestyle Network, em parceria com o UN Office for Partnerships e a Fashinnovation, no evento Design for the Planet. Foi mais que uma sequência de debates, foi um aviso de que o Brasil pode e deve liderar.

Nossa flora e fauna estão entre as maiores biodiversidades do planeta. Temos uma matriz elétrica renovável em 85% e o pioneirismo em agroecologia e sistemas agroflorestais.

Nossa indústria possui uma expertise completa, do algodão ao denim e nossos designers e criadores possuem diversidade, com produções indígenas, ribeirinhas e periféricas reinventando estética, materialidade e política.

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