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Ameaça: lobos geram protestos por parte dos agricultores e preocupação nos ambientalistas (AFP Photo)
Agência de notícias
Publicado em 18 de julho de 2024 às 13h33.
Os lobos-cinzentos foram praticamente exterminados há um século na Europa, mas recentemente recuperaram seu crescimento devido aos esforços de preservação.
No entanto, o aumento de sua população de predadores gera protestos por parte dos agricultores e preocupação nos ambientalistas.
Em 2023, havia matilhas reprodutoras de lobos-cinzentos em 23 países da União Europeia, com uma população total de cerca de 20.300 animais, o que fez com que a espécie tivesse contatos cada vez mais frequentes com humanos.
A presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, que no ano passado perdeu o seu pônei Dolly devido a um lobo que entrou na propriedade de sua família no norte da Alemanha, tem os lobos na mira, mas garante que não é por vingança pessoal.
Meses após o ataque, Von der Leyen alertou que "a concentração de matilhas de lobos em algumas regiões europeias se tornou um perigo real, sobretudo para nossos animais".
A Comissão Europeia pediu aos países da UE que alterassem o estatuto de preservação destes animais de "estritamente protegido" para "protegido". Isto permitiria que a caça fosse retomada sob regras estritas, apesar das exigências de ativistas.
A França é um dos países que enfrenta uma explosão na população de lobos. Estes animais desapareceram em 1939, mas começaram a retornar na década de 1990. Recentemente, o país registrou uma queda em sua população, a primeira em quase uma década, mas o número de ataques também aumentou.
No ano passado, a população de lobos na França era de 1.003 exemplares, 9% a menos que no ano anterior. Muitas vezes são mortos para proteger os rebanhos, mas em condições muito específicas. Cerca de 20% morrem todos os anos e as autoridades querem simplificar o procedimento de eutanásia.
Este cenário faz com que muitos especialistas temam que os lobos sejam novamente ameaçados. "Se enfraquecermos a proteção, será possível caçar lobos sem justificativa e isso abrirá a porta a todo o tipo de abusos", alertou Guillaume Chapron, pesquisador da Universidade de Ciências Agrícolas da Suécia.
Luigi Boitani, professor de zoologia da Universidade de Roma, afirma que "pensar que eliminar os lobos resolve tudo é realmente um sonho que não vai funcionar". Segundo ele, o foco deveria ser a prevenção de ataques com medidas como cercas elétricas e cães de guarda.
Boitani observou ainda que outros animais como javalis, veados e aves podem causar danos em maior escala do que os lobos em termos de custos.
Na França, a compensação pelos danos causados por lobos aumentou para 4 milhões de euros (US$ 4,38 milhões ou R$ 22,6 milhões na cotação da época) em 2022, em comparação aos 65 milhões de euros pelos prejuízos causados por javalis e veados.
A caça destes animais foi institucionalizada pelo imperador germânico Carlos Magno no século IX, com o estabelecimento da "louveterie", um corpo especial de caçadores encarregado de erradicar animais nocivos às pessoas e ao gado. Apenas na Convenção de Berna de 1979, o lobo foi declarado uma espécie "estritamente protegida".
Chapron indicou que a medida permitiu a recuperação do animal na Europa. É "uma história de sucesso e não temos muitas histórias de sucesso na preservação" de espécies, acrescentou.
Muito presente na mitologia e nas histórias infantis, que os retratam como criaturas perigosas, os lobos "foram e são objeto de fascínio para muitas sociedades humanas", disse Nicolas Lescureux, pesquisador do centro francês de pesquisa científica CNRS.
"A estreita relação entre humanos e lobos remonta a muito tempo, uma vez que os nossos cães atuais descendem de uma população de lobos. Esta é a forma mais antiga de domesticação animal", observou Lescureaux.
Para Boitani, uma das principais autoridades mundiais em lobos, o importante é evitar "qualquer fundamentalismo" para então resolver o problema.