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Liga Solidária chega aos 100 anos com captação nos EUA e expansão nacional com BNDES

Instituição atende mais de 24 mil pessoas em São Paulo com foco na formação de mulheres empreendedoras

Rosalu Queiroz: software de gestão SAP e executivos com passagem por empresas como Siemens e Deutsche Bank  (Divulgação/Divulgação)

Rosalu Queiroz: software de gestão SAP e executivos com passagem por empresas como Siemens e Deutsche Bank (Divulgação/Divulgação)

Lucas Amorim
Lucas Amorim

Diretor de redação da Exame

Publicado em 27 de outubro de 2023 às 16h47.

Última atualização em 27 de outubro de 2023 às 16h57.

Cem anos atrás a cidade de São Paulo tinha apenas 600 mil habitantes e o Brasil estava às voltas com uma revolução, no Rio Grande do Sul. Muita coisa mudou de lá para cá, mas uma organização fundada na capital paulista, em 1923, segue empenhada na formação de jovens de baixa renda para o mercado de trabalho. É a Liga Solidária, que agora se organiza para levar seu impacto para além de sua região de origem.

Há 23 anos na instituição, a presidente voluntária Rosalu Queiroz conversou com a EXAME sobre os desafios de se fazer filantropia e negócios de impacto ao longo de gerações. No começo, o foco da Liga era a formação de "moças" para que se inserissem no mercado de trabalho em carreiras como cozinheira e auxiliar de escritório. Aos poucos, a atuação chegou também aos "rapazes", treinados em cursos de marcenaria e tipografia.

Hoje, a Liga tem cursos em áreas como tecnologia, administração e gastronomia, focados em formar empreendedores. Os projetos atendem 24 mil pessoas por ano. Incluem, além de qualificação profissional, programas de primeira infância e contraturno escolar.

"Temos 2 mil alunos, além de casas para idosos e imóveis em aluguel, que fazem com que não tenhamos uma dependência de doações como tínhamos no passado", diz Rosalu. "Temos uma atuação ESG muito antes de o termo virar moda, com preocupação social, ambiental e também com nossa governança."

A Liga está instalando o software de gestão SAP em suas operações. E tem em seu corpo gestor dez executivos que vieram de empresas como Siemens e Deutsche Bank. "Esse é meu legado. Uma organização liderada por mulheres, com mandatos de seis anos e transparência", diz Rosalu.

A Liga Solidária teve em 2022 um orçamento anual de R$ 130 milhões. A receita vem de projetos com o governo (com prestação de serviços nas esferas federal, estadual e municipal), da doação de pessoas físicas e jurídicas e da receita com o patrimônio.

"Temos a missão de fazer a sociedade civil participar mais, assim como se engajou durante a pandemia", diz a presidente. "Precisamos de mais recursos para ter programas de mais longo prazo, de dois a três anos. Não conseguimos mudar o mundo de março a novembro."

Projeto com o BNDES

Para marcar o centenário, a Liga vai construir um complexo para abrigar suas atuações, que deve servir como um ponto de encontro para a comunidade da região do Butantã, em São Paulo, que demandará investimento de até R$ 20 milhões. A Liga se associou à Brazil Foundation para captar parte dos recursos nos Estados Unidos.

Além disso, a instituição se prepara para levar sua atuação para além de São Paulo. Para isso, participou, e ganhou, de um edital do BNDES para fomentar o empreendedorismo local. O projeto vai começar em São Paulo e depois migrar para regiões Norte e Nordeste. A ideia é formalizar 1,4 mil empreendedores para que se tornem independentes financeiramente. O projeto inclui aulas de qualificação para negócios, como gastronomia, por exemplo, junto com formação em contabilidade. Num segundo momento, haverá oferta de capital semente para os empreendedores mais promissores.

A Liga vai se valer de uma digitalização bem-sucedida feita durante a pandemia. A instituição passou a oferecer cursos de panificação e confeitaria à distância, mostrando como fazer bolos e como precificar, criar lojas virtuais, fazer cobrança, marketing e entrega. O projeto com o BNDES vai integrar a pegada digital com atuação presencial, o que dependerá de acordos com parceiros locais.

"Nossa missão é tornar as pessoas, sobretudo as mulheres, protagonistas de sua vida", diz Rosalu. "É um passo gigantesco para quem muitas vezes vive do bolsa família."

O público-alvo dos projetos são pessoas que não encontram oportunidade de trabalho e que se sentem mais à vontade com projetos dentro de suas comunidades. Cerca de dois terços dos programas de qualificação são focados em mulheres, com 80% de pretos e pardos. Tradicionalmente, a Liga tem mais de mil pessoas na fila de espera. Com mais recursos, a fila tende a diminuir. E o impacto cresce ainda mais.

Acompanhe tudo sobre:BNDESEstados Unidos (EUA)

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