Hedge fund aposta em mercado ESG sob padrão rigoroso da União Europeia
A Trium Capital, cujo ESG Emissions Impact Fund superou 96% dos pares no ano passado, lançou uma estratégia comprada e vendida que diz ser verde o suficiente para merecer a principal designação ESG da União Europeia
Bloomberg
Publicado em 9 de janeiro de 2023 às 14h40.
Última atualização em 9 de janeiro de 2023 às 14h40.
Uma classificação para padrões ambientais, sociais e de governança (ESG) da União Europeia que pareceu muito rigorosa para várias das maiores gestoras de ativos do mundo acaba de ser adotada por uma empresa de hedge funds em Londres.
A Trium Capital, cujo ESG Emissions Impact Fund superou 96% dos pares no ano passado, lançou uma estratégia comprada e vendida que diz ser verde o suficiente para merecer a principal designação ESG da UE, conhecida como Artigo 9.
O Trium Climate Impact Fund (TRCIMDE ID) foi criado para atender à demanda de investidores por um produto do Artigo 9 neutro para o mercado, disse em entrevista Joe Mares, cogestor de portfólio do fundo.
“Estamos tentando ‘gerar alfa por meio do lado comprado’, escolhendo ações que acreditamos serem líderes em soluções ambientais que possam superar significativamente o desempenho do mercado e o grupo de pares”, afirmou em referência à estratégia de apostar na valorização dos ativos. “E estamos usando o lado vendido para tentar reduzir a volatilidade nesse processo e diminuir as flutuações do mercado.”
Gestores de ativos começaram a abordar o Artigo 9 com apreensão, depois que a classe de fundos se tornou palco de rebaixamentos em massa no fim do ano passado. Empresas como BlackRock, Amundi e Axa Investment Managers retiraram o rótulo de mais de US$ 140 bilhões em ativos combinados depois que a UE deixou claro que apenas investimentos 100% sustentáveis poderiam usar a classificação, com alguma permissão para hedge e passivos.
Mesmo após os esclarecimentos da UE, nem todos os participantes do mercado concordam com o que pode entrar em um fundo do Artigo 9, e muitos ainda estão à espera de que reguladores europeus sinalizem o que tolerarão na prática. Regras que entram em vigor este ano exigem que fundos forneçam documentação quantitativa mais detalhada sobre suas demonstrações financeiras de ESG.
“Se você é um fundo ESG, e certamente se você é um fundo ESG do Artigo 9, é melhor prometer menos do que está fazendo, porque há promessas demais”, disse Mares.
Ao mesmo tempo, há evidências de que poucos portfólios cumprem de fato os rígidos requisitos da UE. Uma análise da Morningstar no terceiro trimestre de 2022 mostrou que menos de 5% dos gestores de ativos atingiram o nível de investimento sustentável de 100%.
Diante desse cenário, todas as afirmações referentes ao Artigo 9 agora são examinadas de perto, à medida que gestores tentam descobrir como outros players têm interpretado os sinais regulatórios.
A Trium diz que seu fundo do Artigo 9 mira 100% em investimentos sustentáveis no portfólio comprado, mas garante um mínimo de 90%.
Como o fundo começou como um pequeno produto de negociação diária, “não tenho certeza de como alguém pode realmente garantir 100”, disse Mares.
Os fundos do Artigo 9 são definidos no livro de regras da UE contra o chamado “greenwashing”, o Regulamento de Divulgação de Finanças Sustentáveis (SFDR, em inglês), que entrou em vigor em março de 2021. O SFDR, que se aplica a todos os gestores de fundos com clientes na UE, será aberto a um processo de consulta no início deste ano, depois que Mairead McGuinness, comissária de mercados financeiros do bloco, reconheceu que as regras poderiam precisar de uma revisão.