"O Brasil possui uma condição diferenciada no setor de transportes devido à participação relevante da bioenergia e a oferta de biocombustíveis com pegada de carbono auditada", afirmam pesquisadores (Chris Conway/Getty Images)
O Observatório de Conhecimento e Inovação em Bioeconomia da Fundação Getulio Vargas (FGV) lançou um painel para acompanhar a dinâmica de consumo de combustíveis no Brasil a cada trimestre. O projeto tem como foco principal a análise dos efeitos da bioenergia na redução das emissões de gases do efeito estufa (GEE). Segundo o estudo, as emissões de GEE na matriz de combustíveis leves atingiram 27,30 milhões de toneladas de CO2eq no terceiro trimestre de 2022, crescendo 6,52% em comparação com o mesmo período de 2021 (25,63 milhões de toneladas de carbono).
Ainda de acordo com os dados do relatório, foram consumidos 416,06 bilhões de megajoules por veículos leves. Aumentando 5,74% com o mesmo período de 2021. Dito isso, o aumento do consumo e a diminuição da participação dos combustíveis renováveis promoveram o crescimento das emissões de GEE no terceiro trimestre de 2022.
“O Brasil possui uma condição diferenciada no setor de transportes devido à participação relevante da bioenergia e a oferta de biocombustíveis com pegada de carbono auditada. A análise desenvolvida no estudo permitirá um acompanhamento periódico das emissões de GEE nesse setor, identificando os ganhos de eficiência ambiental na produção de biocombustíveis, os impactos de políticas públicas e a adoção de estratégias empresariais diferenciadas nesse mercado”, explicam os autores do relatório e pesquisadores do Observatório de Conhecimento e Inovação em Bioeconomia da FGV, Luciano Rodrigues, Fernanda Valente e Sabrina Matos.
A intensidade média de carbono (IC) do etanol anidro comercializado no terceiro trimestre de 2022 teve uma queda de 1,19% na comparação com a IC verificada do mesmo período do ano anterior. Já o etanol hidratado, teve uma redução de -0,94% na comparação com o valor registrado em igual período do ano passado.
Esse fato está relacionado ao ganho de eficiência energético ambiental das empresas que recertificaram as suas produções. Das 65 unidades produtoras que realizaram a nova certificação, 46 delas apresentaram um ganho de eficiência e, por conta disso, tiveram uma redução na intensidade de carbono do biocombustível produzido.
Apesar do ganho de eficiência energético-ambiental dos biocombustíveis, a intensidade média da matriz de combustíveis leves, ou seja, emissões de GEE da gasolina e etanol, apresentou piora de 0,74% no terceiro trimestre de 2022. Isso se deve por causa da queda na participação energética do etanol na matriz nacional. Em 2022, a fatia do mercado dos biocombustíveis consumidos pelos veículos leves totalizou 36,43% no terceiro trimestre, apresentando ligeira retração na comparação com o índice apurado no último ano (37,45%).
O aumento da participação da gasolina na matriz no terceiro trimestre de 2022 aconteceu por causa da perda de competitividade do biocombustível e pela menor oferta de cana-de-açúcar para moagem no período. A competitividade do etanol piorou pela redução nos preços da gasolina e, principalmente, pela alterações tributárias observadas no início do terceiro trimestre – o que reduziu a diferenciação tributária entre os combustíveis fósseis e os renováveis.
A variação da intensidade média de carbono dos combustíveis leves é bastante elevada entre os estados brasileiros. Dentre eles, Mato Grosso, Goiás, Minas Gerais e São Paulo são os estados com maior presença da bioenergia e menor quantidade de emissões de GEE originadas da queima de um megajoule de energia pelos veículos leves.