Equidade de gênero: uma jornada coletiva
"Conforme minha vida profissional progredia, percebia que o número de mulheres em posições de liderança reduzia de forma acelerada", conta Luciana Batista, presidente da Coca-Cola Brasil e Cone Sul, para a EXAME Plural
Plataforma feminina
Publicado em 29 de março de 2024 às 10h00.
*Por Luciana Batista
Como falar de Dia Internacional das Mulheres sem trazer luz à jornada sobre equidade e liderança feminina que nós, mulheres, estamos percorrendo ao longo dos anos? Um caminho desafiador e que só é possível graças a tantas outras que cruzaram fronteiras, quebraram regras e nos conduziram até aqui. A jornada de consciência de gênero de cada uma de nós é diferente e, a minha, divido em quatro fases.
Na infância e juventude, tive contato com mulheres que foram referências para o meu desenvolvimento. Minha mãe tinha a mesma formação e carreira que meu pai, e eu via em casa uma relação de igualdade. Por isso, talvez, a minha trajetória no tema levou tempo para começar. Era um não problema. Veja você o tamanho desse privilégio.
À medida em que fui amadurecendo - faculdade, mercado de trabalho – as coisas mudaram. Conforme minha vida profissional progredia, percebia que o número de mulheres em posições de liderança reduzia de forma acelerada. Com poucos exemplos femininos, entrei no que chamo hoje de fase Sheryl Sandberg. A autora de Faça Acontecer (Lean In) reforça o conceito de que, em vez de levantarem a mão e batalharem por oportunidades, de fazer acontecer, as mulheres frequentemente se subestimam e boicotam suas próprias chances de sucesso. E, para mim, fazer acontecer significou buscar desafios, trabalhar duro e ocupar meu espaço. Assim, conquistei meus primeiros papéis de liderança em anos críticos para minha carreira.
Com o tempo, fui vendo que, para muitas mulheres, nem sempre aquilo bastava. Passei a adquirir mais conhecimento, a liderar pesquisas sobre mulheres e carreiras, a analisar dados sobre liderança feminina no Brasil e a atuar em grupos de afinidade. Nesta fase, vejo um pouco do espírito mobilizador de Angela Davis, professora e pensadora americana, que defendia que devemos mudar as coisas que não podemos aceitar. Assim, passei a trabalhar de forma mais ativa na pauta da diversidade, buscando apoiar ações que tornassem o ambiente de trabalho mais equitativo, e ser mais vocal nesta pauta.
Confesso que ainda transito entre as fases, mas, hoje prefiro me definir na que chamo de RBG, em referência à advogada e jurista Ruth Bader Ginsburg. Tomo a liberdade de parafraseá-la, refletindo sobre como devemos, além de ir atrás do que acreditamos, garantir que faremos isso conquistando aliados e aliadas na jornada. Essa jornada não deveria ser solitária: nós, mulheres e toda a sociedade, precisamos construir vínculos para continuarmos gerando mudanças positivas para todos e todas. Quando agimos em rede, criando pontes, suportamos o desenvolvimento e colaboramos para um mundo mais justo e equitativo. E isso só acontece com sororidade – reconhecendo sem julgamentos que cada uma de nós pode estar em uma fase distinta da jornada que descrevi acima – e com uma forte parceria com homens aliados que muitas vezes querem apoiar a causa, mas nem sempre sabem como.
Sempre acreditei que alavancar o protagonismo feminino faz parte de uma nova forma de fazer negócios e ajuda a amplificar o olhar sistêmico, valorizando a diversidade de gênero, raça e backgrounds. E como presidente da CocaCola Brasil e Cone Sul, reconheço minha responsabilidade de seguir multiplicando este impacto e trazendo mais parceiros nesta jornada, alinhado ao nosso propósito de fazer a diferença nas comunidades onde atuamos. Afinal, como diz o provérbio africano: se quiser ir rápido, vá sozinho.
Mas se quiser ir longe, vá acompanhado.
*Luciana Staciarini Batista é presidente Brasil e Cone Sul da Coca-Cola