ESG

Empresas pedem aos EUA aprovação de fundo de US$ 9 bi para florestas

Os 23 signatários pedem que o Congresso dos Estados Unidos aprove a criação de um fundo de US$ 9 bilhões para a conservação de florestas tropicais em todo mundo

Presidente dos Estados Unidos, Joe Biden (Drew Angerer / Equipe/Getty Images)

Presidente dos Estados Unidos, Joe Biden (Drew Angerer / Equipe/Getty Images)

EC

Estadão Conteúdo

Publicado em 10 de maio de 2022 às 06h05.

Última atualização em 10 de maio de 2022 às 12h07.

Uma carta assinada por empresas, organizações da sociedade civil e povos indígenas brasileiros será enviada, nesta terça-feira, 10, ao presidente americano Joe Biden e a membros dos partidos Democrata e Republicanos dos Estados Unidos. O grupo pede que o Congresso americano aprove a criação de um fundo de US$ 9 bilhões para a conservação de florestas tropicais em todo mundo, que está em debate no Legislativo daquele país.

O documento tem 23 signatários, como a Agropalma, BVRio e Coalizão Brasil Clima, Florestas e Agricultura, entidade que representa 327 empresas, bancos e instituições de diversos setores. Entre eles estão: Bradesco, Bayer, BRF, Cargill, FSC Brasil, Gerdau, Instituto Clima e Sociedade, JBS, Itaú Unibanco, Klabin, Marfrig, Natura, Nestlé, Santander, Suzano, Unilever, Vale e WWF Brasil.

O acesso ao financiamento deve ser prioritário para os povos da floresta, "que contribuem historicamente para sua conservação e tem seu modo de vida diretamente afetado pela escalada do desmatamento", diz a carta. Os recursos, vinculados ao Departamento de Estado americano, podem ser destinados em acordos bilaterais de longo prazo a países em desenvolvimento para combater o desflorestamento e reduzir as emissões de gases de efeito estufa.

"Esse investimento deve ser feito da forma mais eficiente e transparente possível com o objetivo de manter a floresta em pé. A carta fala sobre isso e ressalta a importância do que entendemos que a prioridade de repasse de recursos se dê para as comunidades tradicionais, as mais afetadas pelas mudanças climáticas e que têm mais dificuldade para manter sua qualidade de vida, cultura e seus territórios", diz André Guimarães, membro da Coalizão Brasil Clima, Florestas e Agricultura e Diretor Executivo do Ipam (Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia).

(Andre Deak/Flickr)

Para Tulio Dias Brito, diretor de sustentabilidade da Agropalma, empresa que produz óleo de palma, o momento é oportuno para que países como o Brasil, que podem se beneficiar do novo fundo, se manifestarem. O objetivo é mostrar que há interesse e projetos viáveis nessas nações. "É um projeto que está tramitando no Congresso americano e que beneficia diretamente outros países. Então, eles precisam se manifestar", afirma.

Mesmo a invasão da Ucrânia pela Rússia, acredita ele, e o foco da política externa americana na região não devem desviar a atenção dos congressistas. Brito manifesta mais preocupação do agronegócio brasileiro com os efeitos da devastação da floresta. "A Amazônia é responsável pelo regime de chuvas, pela estabilidade climática e o agronegócio é dependente desse regime", diz.

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O fundo foi anunciado por Biden em novembro de 2021, na Conferência das Nações Unidas sobre as Mudanças Climáticas (COP-26), em Glasgow. Durante a convenção, líderes de mais de 100 países se comprometeram a deter e reverter o desmatamento e degradação de terras até 2030. No dia seguinte, o deputado democrata Steny Hoyer apresentou o projeto de lei Amazon21 Act (America Mitigating and Achieving Zero-emissions Origining from Nature for the 21st Century Act), que cria o fundo.

A criação do fundo é justificada na carta pela necessidade de os países em desenvolvimento contarem com um mecanismo confiável e eficiente de financiamento ambiental que apoie os esforços locais de manutenção das florestas. Os signatários fazem ainda recomendações para a instituição, como:

• Estabelecer um sistema de financiamento simples e transparente, com governança ampla e participação da sociedade civil;

• Constituir regras claras e receptivas a projetos idealizados por todas as esferas do poder público, de comunidades, organizações do terceiro setor, academia e setor privado;

• Destinar recursos com base em resultados, em especial a manutenção da floresta em pé;

• Priorizar o acesso direto a financiamentos aos povos da floresta, que contribuem historicamente para sua conservação e tem seu modo de vida diretamente afetado pela escalada do desmatamento.

Além de Biden, o documento será enviado para o secretário de Estado, Antony Blinken, os membros do partido Democrata Nancy Pelosi, presidente da Câmara dos Representantes; Steny Hoyer, líder da maioria na Câmara dos Representantes e autor do projeto; Bob Menendez, presidente da Comissão de Relações Exteriores do Senado, entre outros. Os republicanos Michael McCaul, membro da Comissão de Relações Exteriores da Câmara dos Representantes e James Risch, membro da Comissão de Relações Exteriores do Senado também estão devem receber a carta.

"Manter a floresta em pé não é uma questão de um país ou outro, mas de todos. É uma questão de sobrevivência", diz Toya Manchineri, coordenador de Área de Território e Recursos Naturais da Coordenação das Organizações Indígenas da Bacia Amazônica (COICA) e membro da Coordenação das Organizações Indígenas da Amazônia Brasileira (Coiab).

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Enquanto, empresas e entidades mostram apoio ao governo americano para a criação de um fundo que deverá contemplar diversos outros países, outra reserva, voltada quase que integralmente ao Brasil, continua congelada. Desde 2019, o Fundo Amazônia, com mais de U$1 bilhão está congelado. Mantido por Noruega e Alemanha, era a principal fonte de financiamento para uma série de programas de preservação ambiental. Os recursos seriam utilizados, por exemplo, em órgãos de fiscalização, como o Ibama, e para organizações não governamentais (ONGs) fazerem ações de desenvolvimento sustentável.

O fundo foi suspenso após o presidente Jair Bolsonaro tomar posse e os níveis de desmatamento passaram a crescer no País. No País estão cerca de dois terços da Floresta Amazônica. Em abril, pela primeira vez, a área derrubada na Amazônia ficou acima de mil quilômetros quadrados, segundo dados de alertas do sistema Deter, do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), órgão ligado ao Ministério da Ciência e Tecnologia.

Ao todo, foram 1.012 quilômetros quadrados perdidos, valor 74% maior do que o recorde anterior para o mês (580 km quadrados, atingidos em abril do ano passado). A área perdida no último mês equivale a mais de 140 mil campos de futebol.

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