Emissões de gases de efeito estufa diminuem com a agricultura climaticamente inteligente
Métodos buscam transformar e reorientar a agricultura para alcançar maior sustentabilidade e resiliência econômica, social e ambiental, segundo estudo de cientistas da USP publicado no Journal of Cleaner Production
Agência de notícias
Publicado em 19 de agosto de 2024 às 17h00.
Estudo conduzido na Universidade de São Paulo (USP) buscou avaliar em que medida a adoção de práticas da chamada “ agricultura climaticamente inteligente” (CSA, na sigla em inglês) é capaz de mitigar as emissões de gases de efeito estufa (GEE) no Brasil. Esse conjunto de métodos busca transformar e reorientar a agricultura de modo a alcançar maior sustentabilidade e resiliência econômica, social e ambiental.
Para responder à questão, cientistas do Centro de Energia Nuclear na Agricultura (Cena-USP) e da Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz (Esalq-USP) fizeram uma revisão sistemática de artigos já publicados com medições desses gases no campo. Os resultados foram divulgados no Journal of Cleaner Production.
A investigação foi conduzida no âmbito do Centro de Estudos de Carbono em Agricultura Tropical ( CCARBON ) e do Centro de Pesquisa para Inovação em Gases de Efeito Estufa ( RCGI ). O CCARBON é um Centro de Pesquisa, Inovação e Difusão ( CEPID ) da Fapesp sediado na Esalq-USP. O RCGI é um Centro de Pesquisa em Engenharia ( CPE ) constituído na Escola Politécnica da USP por Fapesp e Shell, com apoio de diversas empresas.
De acordo com Wanderlei Bieluczyk, bolsista de pós-doutorado da Fapesp no Cena-USP e primeiro autor do artigo, constatou-se que “ converter áreas de pastagens degradadas e de agricultura convencional para práticas de CSA, especialmente para sistemas integrados de produção, tem elevado potencial paramitigar a emissão de gases. Isso graças a uma redução das emissões de metano [CH4] entérico por produto [por quilograma de carne produzido, por exemplo] e ao funcionamento do solo como um dreno de CH4”.
Em entrevista à Divisão de Comunicação da Esalq-USP, Bieluczyk destacou ainda que há poucos dados sobre emissões de gases do efeito estufa medidas em campo no Brasil, “dificultando extrapolações para todos os biomas brasileiros”.
Falta pesquisa no Norte e Nordeste
O artigo revelou que há poucos pesquisadores e instituições atuando nessa área em importantes regiões do país, como Norte e Nordeste, evidenciando a necessidade de apoio à infraestrutura e de recursos para aumentar o número de estudos nesses locais.
Também enfatizou a busca por aprimoramentos metodológicos e oportunidades de pesquisa, incluindo a urgência de priorizar medições frequentes de dióxido de carbono (CO2), metano e óxido nitroso (N2O) em múltiplos sistemas de CSA ao longo de vários anos.
“Isso permitirá cálculos confiáveis de balanço de carbono e removerá barreiras decorrentes da falta de resultados abrangentes para implementar programas de certificação, possibilitando incluir sistemas de CSA no mercado de carbono e em outros mecanismos de finanças verdes ”, avaliouMaurício Roberto Cherubin, professor da Esalq e vice-diretor do CCARBON.
Os autores finalizam reforçando que os resultados são importantes para refinar o inventário nacional de gases do efeito estufa, servem de evidência científica sobre o potencial de soluções baseadas na natureza e para apoiar novas políticas, projetos e investimentos no Brasil.
O artigo Greenhouse gas fluxes in brazilian climate-smart agricultural and livestock systems: A systematic and critical overview pode ser lido em: www.sciencedirect.com/science/article/abs/pii/S095965262402230 .