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Dia Mundial da Água: Brasil tem 6 milhões de casas sem abastecimento

Apesar de ser dono da maior reserva de água doce do mundo, falta de investimento em infraestrutura gera perdas e risco para a economia

Medidor mostra o nível da água na represa de Jaguari, em São Paulo: mais de 18 milhões de pessoas no Brasil não contam com abastecimento (Paulo Fridman/Bloomberg/Bloomberg)

Medidor mostra o nível da água na represa de Jaguari, em São Paulo: mais de 18 milhões de pessoas no Brasil não contam com abastecimento (Paulo Fridman/Bloomberg/Bloomberg)

RC

Rodrigo Caetano

Publicado em 22 de março de 2021 às 06h00.

Última atualização em 13 de abril de 2021 às 18h06.

Nesta segunda-feira, é celebrado o Dia Mundial da Água. O Brasil, no entanto, tem pouco a comemorar. Segundo dados do IBGE, em 2019, 6,1 milhões de residências no país não recebiam água encanada, o que priva mais de 18 milhões de pessoas de abastecimento. O acesso à distribuição de água tem avançado muito lentamente. O dado mais atualizado indica que 83,7% da população é atendida com rede de água. Em 2018, o índice era 83,6%.

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O acesso à rede de esgoto é ainda pior. Quase metade da população brasileira vive sem acesso a saneamento, segundo dados do do Sistema Nacional de Informações sobre Saneamento (SNIS). Somente 49,1% do esgoto é tratado, ou seja, a maior parte dos rejeitos produzidos no país é devolvida à natureza sem qualquer processo de limpeza.

Em dezembro do ano passado, quando foram divulgados os números atualizados do SNIS, o ministro do Desenvolvimento Regional, Rogério Marinho, afirmou que a aplicação de recursos públicos no período de um ano no saneamento representa entre R$ 5 bilhões e R$ 6 bilhões por ano. É um valor irrisório perto da necessidade do setor, que gira em torno de 60 e 70 bilhões de reais anuais. "É uma distância superlativa que precisa ser alcançada, só ocorrerá com a instrumentalização das ferramentas que temos em mãos”, afirmou Marinho, enaltecendo o novo marco legal do saneamento, aprovado no ano passado, que abre espaço para a iniciativa privada atuar com mais força no segmento.

O risco de falta d’água é um problema mundial. Segundo a Unesco, o planeta enfrentará um déficit de água de 40% até 2030. O Brasil, no entanto, sofre por responsabilidade própria, afinal é dono da maior reserva de água doce do mundo. Se há risco por aqui, é por falta de investimento.

Para o mercado financeiro, onde há um problema, há demanda por soluções, o que gera oportunidades. Em dezembro, a água começou a ser negociada por meio de contratos de futuros na Bolsa Mercantil de Chicago (CME, na sigla em inglês). Cada contrato representa 10 acre-pés de água, ou 12334,8 metros cúbicos e sua liquidação será com base no índice Nasdaq Veles California Water, que tem seu valor definido pelos preços praticados nos cinco principais mercados de água da Califórnia.

Nesse contexto, a Itaú Asset lançou o fundo ESG H2O Ações. Voltado para o mercado global de água, o produto terá a participação em 50 empresas do segmento por meio do ETF iShares Global Water UCITS (IH2O). Listado na bolsa de Londres, o ativo acumula 39,5% de alta desde 2018 – e somente neste ano subiu 7%.

Construir a infraestrutura para resolver os problemas hídricos brasileiros requer muito investimento. Mas, há quem acredita que a própria natureza poderia cuidar da questão, desde que devidamente manejada. O pesquisador Gregg Brill, do Pacific Institute, acredita que a maneira mais barata de lidar com o abastecimento nas grandes cidades são as soluções baseadas na natureza. Esse tipo de solução leva em consideração o equilíbrio natural dos ecossistemas, permitindo o uso consciente de “serviços” providos pela vegetação. Trata-se de uma maneira moderna de tratar antigos problemas das cidades, como o tratamento da água, as enchentes e, até mesmo, o controle de insetos.

“Não há nem o que pensar”, disse Brill à EXAME. “Estamos falando de uma infraestrutura com duas vezes a capacidade pela metade do preço”. Soluções tradicionais, como os piscinões e as estações de tratamento, são muito custosas de se manter e, especialmente no caso dos piscinões, geram outros problemas sanitários, como a proliferação de ratos e insetos.

Na Europa, diz ele, há uma tendência de retornar à superfície rios canalizados. Com a recuperação da flora, a própria vegetação se encarrega de filtrar a água. “Você planta árvores e sai água potável”, afirma. Projetos dessa magnitude parecem complexos e dispendiosos, mas, de acordo com o pesquisador, são opções melhores do que tentar lidar com as consequências negativas da destruição ambiental.

As soluções naturais também oferecem outros benefícios, como a criação de parques e áreas de lazer. “Um rio recuperado se transforma em um parque para as famílias. Por acaso alguém já quis passar o dia numa estação de tratamento de água”, questiona. São Paulo, cidade que foi construída em cima de rios como o Tietê, o Pinheiros e o Tamanduateí, teria muito a ganhar com a adoção desse tipo de estratégia.

Um ponto importante para a construção de uma infraestrutura natural é a privatização do setor. Para Brill, somente empresas privadas são capazes de garantir o uso de tecnologias mais avançadas, como as soluções baseadas na natureza. “O governo não tem as condições necessárias para incorporar a inovação”, diz ele. “É a iniciativa privada que vai liderar essa agenda.”

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