ESG

Desmatamento na Amazônia em outubro teve recorde de alertas desde 2015

De agosto a outubro, a área atingiu 4.020 km², 44,65% a mais do que no mesmo período de 2021, segundo dados do Inpe. WWF-Brasil alerta para descontrole de queimadas após resultado da eleição

A maior área de alerta de desmatamentos neste período foi detectada no Pará, com 435 km (Alex Ribeiro/Agência Pará/Divulgação)

A maior área de alerta de desmatamentos neste período foi detectada no Pará, com 435 km (Alex Ribeiro/Agência Pará/Divulgação)

AO

Agência O Globo

Publicado em 11 de novembro de 2022 às 16h59.

As eleições de outubro tiveram efeito devastador na Amazônia, confirmando o temor de ambientalistas de que a perspectiva de troca de governo iria acelerar a destruição da floresta. Dados divulgados pelo Instituto de Pesquisas Espaciais (Inpe) e compilados pelo Observatório do Clima mostram que outubro registrou recorde de alertas de desmatamento na Amazônia, atingindo uma área de 904 km² — a maior para o mês desde 2015, quando foi iniciada a série histórica do sistema Deter.

De agosto a outubro, período marcado pela eleição presidencial, os alertas acumulados atingiram 4.020 km², 44,65% a mais em relação aos mesmos meses de 2021. A Amazônia abrange os estados do Acre, Amapá, Amazonas, Mato Grosso, Pará, Rondônia, Roraima, Tocantins e parte do Maranhão.

A maior área de alerta de desmatamentos neste período foi detectada no Pará, com 435 km², seguida por Mato Grosso (150 km²), Amazonas (142 km²), Rondônia (69 km²) e Acre (64 km²).

De janeiro a outubro deste ano, o Deter aponta a destruição de 9.494 km² de floresta, segundo análise da ONG WW-F Brasil. Apenas no Pará foram perdidos 3.253 km2 de mata nativa. Os alertas de desmatamento ocorreram principalmente nos municípios paraenses de Pacajá e Portel. Também houve pressão de criminosos em áreas de proteção ambiental e as mais afetadas foram Reserva Extrativista Chico Mendes, no Acre, e a Floresta Nacional do Jamanxim, no Pará.

Marcio Astrini, secretário executivo do Observatório do Clima, afirma que, neste fim de mandato, "há uma corrida de criminosos ambientais para derrubar a floresta, aproveitando o fato de que ainda têm um parceiro sentado na cadeira da presidência da República”.

“Enquanto Lula está a caminho do Egito para se reunir com líderes do mundo inteiro na tentativa de resgatar a imagem do Brasil, Bolsonaro continua no país, implementando sua agenda de destruição ambiental”, ressaltou Astrini em nota.

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Queimadas disparam após segundo turno

Segundo levantamento da WWF Brasil, as queimadas dispararam ainda mais na Amazônia depois do segundo turno das eleições, entre os dias 1 e 10 deste mês. A pior situação foi verificada em Rondônia, com o registro de 1.526 focos de incêndio nos primeiros dez dias de novembro.

Este número é dez vezes mais alto do que a média registrada neste período do ano entre os anos de 2012 e 2021, de 149 focos. Para se ter uma ideia, durante todo o mês de novembro de 2021 foram registrados 125 focos de queimada no estado.

No Acre, os focos de incêndio chegaram a 882 — 22 vezes acima da média para o início de novembro. Em novembro de 2021 foram apenas 14 registros de queimadas.

No Mato Grosso, foram observados pelos satélites 858 focos, mais de três vezes acima da média. No Amazonas, foram 758 focos, quase quatro vezes acima da média

Mariana Napolitano, gerente de ciências da WWF-Brasil, afirma que os dados de queimadas neste início de novembro mostram claramente uma corrida desenfreada pela devastação.

"As queimadas impactam não apenas a floresta, a fauna e as águas, mas também a saúde das pessoas. É urgente que os sistemas de proteção da floresta sejam restabelecidos", diz ela.

A ONG lembra que o aumento gigantesco das queimadas coincide com a ordem do governo federal para que o Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio) diminuísse os gastos com fiscalização em 80%, sob argumento de restrição orçamentária.

No início deste mês, os servidores do ICMBio receberam ordens de cancelar por 15 dias todas as operações de fiscalização que dependem de recursos orçamentários, como gastos com combustíveis, passagens e suprimentos. A orientação foi repassada pela direção do órgão por email. O comunicado sinaliza com a interrupção da fiscalização até dezembro, quando se encerra a gestão do presidente Jair Bolsonaro, atribuindo a manutenção das ações planejadas à existência de recursos.

Raul do Valle, especialista em Políticas Públicas do WWF-Brasil, diz que as queimadas estão explodindo porque "há uma sensação entre os que lucram com a ilegalidade que a janela de oportunidade está se fechando".

Valle avalia que o novo governo terá muito trabalho para reestruturar os órgãos e a fiscalização ambiental, com uma estratégia consistente de combate ao crime organizado na Amazônia e a recuperação do orçamento para proteção da região.

As áreas desmatadas costumam ser, em seguida, queimadas, para a formação de pastos ou plantio. De janeiro a outubro passado, os focos de queimadas somam 101.215, 49,5% maior do que no ano anterior.

Na COP27, a conferência climática da ONU, o ex-vice-presidente dos Estados Unidos Al Gore afirmou que os brasileiros escolheram parar a destruição da Amazônia com a vitória do presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva.

"Precisamos de mais (ação climática), mas temos a base para a esperança. Há apenas dias atrás o povo do Brasil escolheu parar a destruição da Amazônia. Mais cedo neste ano, o povo da Austrália escolheu começar a liderar a revolução da energia renovável. Mais cedo neste ano, líderes escolhidos pelo povo do meu país finalmente implementaram a maior e mais ambiciosa legislação ambiental da História do mundo".

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